Um banco sediado em Brasília é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal suspeito de aplicar golpes em clientes de todo o país. Prometendo empréstimos milionários, o Bethel Trust Bank exigia dos investidores um valor de garantia antes de liberar os recursos. No entanto, após realizar o depósito, as vítimas não recebiam o a quantia combinada nem mesmo a devolução da contrapartida.
Um pequeno comerciante, de 42 anos, morador do Piauí, teve prejuízo de aproximadamente R$ 400 mil. O Metrópoles não divulgará o nome da vítima a fim de preservá-la. O empresário prestou depoimento na Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), unidade responsável pelo inquérito. O homem é proprietário de uma loja de móveis desde 2002, mas sempre teve vontade de abrir dois postos de combustíveis no município em que mora.
A vítima conheceu dois sócios do Bethel por meio de um primo. O empreendedor, então, embarcou para Brasília em maio de 2016 com o objetivo de negociar um empréstimo de R$ 3 milhões e dar início à realização do sonho. Ao chegar à instituição financeira, localizada na Quadra 2 do Setor Bancário Sul, foi atendido por Arnaldo Cordova Duarte, de 69 anos, e Jussey Marcos Monteiro, 65.
Após uma entrevista amistosa, a dupla garantiu os R$ 3 milhões mediante pagamento de 60 parcelas com juros de 0,5% ao mês. No entanto, incluíram algumas condições, entre elas, a entrega de um projeto de arquitetura e engenharia, que custou R$ 100 mil, além do pagamento antecipado de R$ 300 mil a título de garantia.
O comerciante entregou dois cheques de R$ 150 mil acreditando que receberia o primeiro depósito, de R$ 1 milhão, após 30 dias. O prazo expirou e o empresário não recebeu o montante nem conseguiu reaver o dinheiro dado a título de caução.
Após queixar-se com os donos do Bethel Trust Bank, teve a promessa de que a importância seria repassada. Com alto poder de persuasão, Arnaldo e Jussey ainda convenceram a vítima a transferir mais R$ 2 mil para que Jussey pudesse ir do DF a São Paulo “resolver o problema”. A viagem, segundo os suspeitos contavam, se justificaria porque a dupla alegava ter parceria com um banco da Venezuela, com sede da capital paulista.
Após diversas tentativas frustradas de receber a quantia, ele decidiu denunciar o caso à Polícia Civil do DF em maio de 2019. Aos agentes, contou ter levantado os R$ 300 mil por meio de empréstimo e também com as receitas de uma loja de móveis. Depois de cair no golpe, diz estar “atolado” em dívidas, sem crédito na praça e que teve dificuldades até mesmo de vir à capital do país para prestar o depoimento. A PCDF acredita que mais pessoas tenham caído no golpe do banco de fachada.
Os sócios do Bethel Trust Bank foram indiciados pelo crime de estelionato, mas as investigações continuam. A PCDF quer saber se outras irregularidades foram cometidas e se há outras vítimas. De acordo com a Corf, a instituição financeira comandada por Jussey Marcos e Arnaldo não é registrada junto ao Banco Central.
“Embora alguns juristas entendam que o estelionato é um crime menos grave, por não envolver violência física, entendo que ele destrói esforços de uma vida inteira, levando pessoas e famílias à ruína”, explicou o delegado da Corf Miguel Lucena.
O Metrópoles apurou que Jussey Marcos e Arnaldo têm longa ficha na polícia por crimes como receptação, roubo, furto, porte de armas e estelionato. A empresa está com o CNPJ ativo e tem capital social de R$ 3 milhões. A reportagem não conseguiu localizá-los. O espaço permanece aberto para manifestações.
Segundo o advogado Renato Araujo, o consumidor deve ter cautela e usar a internet a seu favor. “No caso dos empréstimos, uma fraude muito comum é a solicitação de pagamento antecipado para liberação do valor pretendido. Antes de qualquer contratação, o interessado tem de fazer uma busca detalhada sobre a empresa que está oferecendo o serviço, verificar o CNPJ e buscar referências”, explicou o especialista em direito do consumidor.
“Lembrando que os contratos de empréstimos só podem ser concedidos por instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Caso o consumidor seja lesado, deve formalizar uma reclamação no Procon [Instituto de Defesa do Consumidor], no próprio Bacen ou registrar uma ocorrência policial em casos mais graves”, completou.
A PCDF investiga outro golpe que fez dezenas de vítimas no DF. Segundo oMetrópoles revelou, o grande esquema de fraude financeira era planejado por um técnico judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Rogério Moreira Casagrande, de 42 anos, é acusado de aplicar golpes que somam R$ 11,7 milhões. Pelo menos 10 pessoas foram lesadas, a maior parte formada por servidores públicos dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.
De acordo com as apurações, o suspeito valia-se do cargo para captar investidores, muitos deles colegas de trabalho, além de funcionários com alto poder aquisitivo de órgãos como o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do governo local (GDF). As vítimas eram seduzidas com a promessa de rentabilidade de 7% sobre o valor investido. O dinheiro, dizia ele, era aplicado em uma empresa especializada na venda de açaí.
Em apenas um dos casos, Rogério Casagrande recebeu depósitos bancários no valor de R$ 3,9 milhões. As ocorrências registradas em diversas delegacias do DF foram centralizadas pela 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), que conduz as investigações.
O estelionatário formalizava os golpes por meio de contratos de “constituição de renda”. Para aumentar o faturamento e transparecer uma falsa sensação de segurança, o golpista pagava, por alguns meses, os juros sobre os valores investidos pelas vítimas. Animadas com a alta rentabilidade do negócio, muitas pessoas eram convencidas por Rogério a reverter o faturamento em novos aportes financeiros.
Após os primeiros pagamentos de juros, Rogério Casagrande interrompia as transferências. A partir desse momento, as vítimas já não conseguiam mais ser ressarcidas. A polícia suspeita de que o servidor do TJDFT tenha desenvolvido uma espécie de pirâmide financeira e de que ele usava os novos aportes feitos pelas vítimas para pagar investidores recentes. Em algum momento, a corrente de transações se quebrou e todos amargaram o prejuízo.