11/07/2019 às 07h14min - Atualizada em 11/07/2019 às 07h14min

Banco de fachada no DF aplicou golpe de R$ 400 mil em empresário

Prometendo empréstimos milionários, o Bethel Trust Bank exigia dos investidores um valor de garantia antes de liberar os recursos

Um banco sediado em Brasília é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal suspeito de aplicar golpes em clientes de todo o país. Prometendo empréstimos milionários, o Bethel Trust Bank exigia dos investidores um valor de garantia antes de liberar os recursos. No entanto, após realizar o depósito, as vítimas não recebiam o a quantia combinada nem mesmo a devolução da contrapartida.

Um pequeno comerciante, de 42 anos, morador do Piauí, teve prejuízo de aproximadamente R$ 400 mil. O Metrópoles não divulgará o nome da vítima a fim de preservá-la. O empresário prestou depoimento na Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf), unidade responsável pelo inquérito. O homem é proprietário de uma loja de móveis desde 2002, mas sempre teve vontade de abrir dois postos de combustíveis no município em que mora.

A vítima conheceu dois sócios do Bethel por meio de um primo. O empreendedor, então, embarcou para Brasília em maio de 2016 com o objetivo de negociar um empréstimo de R$ 3 milhões e dar início à realização do sonho. Ao chegar à instituição financeira, localizada na Quadra 2 do Setor Bancário Sul, foi atendido por Arnaldo Cordova Duarte, de 69 anos, e Jussey Marcos Monteiro, 65.

Após uma entrevista amistosa, a dupla garantiu os R$ 3 milhões mediante pagamento de 60 parcelas com juros de 0,5% ao mês. No entanto, incluíram algumas condições, entre elas, a entrega de um projeto de arquitetura e engenharia, que custou R$ 100 mil, além do pagamento antecipado de R$ 300 mil a título de garantia.

Denúncia

O comerciante entregou dois cheques de R$ 150 mil acreditando que receberia o primeiro depósito, de R$ 1 milhão, após 30 dias. O prazo expirou e o empresário não recebeu o montante nem conseguiu reaver o dinheiro dado a título de caução.

Após queixar-se com os donos do Bethel Trust Bank, teve a promessa de que a importância seria repassada. Com alto poder de persuasão, Arnaldo e Jussey ainda convenceram a vítima a transferir mais R$ 2 mil para que Jussey pudesse ir do DF a São Paulo “resolver o problema”. A viagem, segundo os suspeitos contavam, se justificaria porque a dupla alegava ter parceria com um banco da Venezuela, com sede da capital paulista.

 

Após diversas tentativas frustradas de receber a quantia, ele decidiu denunciar o caso à Polícia Civil do DF em maio de 2019. Aos agentes, contou ter levantado os R$ 300 mil por meio de empréstimo e também com as receitas de uma loja de móveis. Depois de cair no golpe, diz estar “atolado” em dívidas, sem crédito na praça e que teve dificuldades até mesmo de vir à capital do país para prestar o depoimento. A PCDF acredita que mais pessoas tenham caído no golpe do banco de fachada.

Os sócios do Bethel Trust Bank foram indiciados pelo crime de estelionato, mas as investigações continuam. A PCDF quer saber se outras irregularidades foram cometidas e se há outras vítimas. De acordo com a Corf, a instituição financeira comandada por Jussey Marcos e Arnaldo não é registrada junto ao Banco Central.

“Embora alguns juristas entendam que o estelionato é um crime menos grave, por não envolver violência física, entendo que ele destrói esforços de uma vida inteira, levando pessoas e famílias à ruína”, explicou o delegado da Corf Miguel Lucena.

Metrópoles apurou que Jussey Marcos e Arnaldo têm longa ficha na polícia por crimes como receptação, roubo, furto, porte de armas e estelionato. A empresa está com o CNPJ ativo e tem capital social de R$ 3 milhões. A reportagem não conseguiu localizá-los. O espaço permanece aberto para manifestações.

Fique atento

Segundo o advogado Renato Araujo, o consumidor deve ter cautela e usar a internet a seu favor. “No caso dos empréstimos, uma fraude muito comum é a solicitação de pagamento antecipado para liberação do valor pretendido. Antes de qualquer contratação, o interessado tem de fazer uma busca detalhada sobre a empresa que está oferecendo o serviço, verificar o CNPJ e buscar referências”, explicou o especialista em direito do consumidor.

“Lembrando que os contratos de empréstimos só podem ser concedidos por instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Caso o consumidor seja lesado, deve formalizar uma reclamação no Procon [Instituto de Defesa do Consumidor], no próprio Bacen ou registrar uma ocorrência policial em casos mais graves”, completou.

Golpe do Açaí

A PCDF investiga outro golpe que fez dezenas de vítimas no DF. Segundo oMetrópoles revelou, o grande esquema de fraude financeira era planejado por um técnico judiciário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Rogério Moreira Casagrande, de 42 anos, é acusado de aplicar golpes que somam R$ 11,7 milhões. Pelo menos 10 pessoas foram lesadas, a maior parte formada por servidores públicos dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo.

De acordo com as apurações, o suspeito valia-se do cargo para captar investidores, muitos deles colegas de trabalho, além de funcionários com alto poder aquisitivo de órgãos como o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e do governo local (GDF). As vítimas eram seduzidas com a promessa de rentabilidade de 7% sobre o valor investido. O dinheiro, dizia ele, era aplicado em uma empresa especializada na venda de açaí.

Em apenas um dos casos, Rogério Casagrande recebeu depósitos bancários no valor de R$ 3,9 milhões. As ocorrências registradas em diversas delegacias do DF foram centralizadas pela 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), que conduz as investigações.

estelionatário formalizava os golpes por meio de contratos de “constituição de renda”. Para aumentar o faturamento e transparecer uma falsa sensação de segurança, o golpista pagava, por alguns meses, os juros sobre os valores investidos pelas vítimas. Animadas com a alta rentabilidade do negócio, muitas pessoas eram convencidas por Rogério a reverter o faturamento em novos aportes financeiros.

 

Bola de neve

Após os primeiros pagamentos de juros, Rogério Casagrande interrompia as transferências. A partir desse momento, as vítimas já não conseguiam mais ser ressarcidas. A polícia suspeita de que o servidor do TJDFT tenha desenvolvido uma espécie de pirâmide financeira e de que ele usava os novos aportes feitos pelas vítimas para pagar investidores recentes. Em algum momento, a corrente de transações se quebrou e todos amargaram o prejuízo.


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