O suposto esquema de corrupção perpetrado no Banco de Brasília por Ricardo Lealteria sido ainda maior do que o praticado na Caixa Econômica Federal. A afirmação é do delator Lúcio Bolonha Funaro, que, nessa quinta-feira (11/07/2019), deu à Justiça Federal detalhes de como operava o arrecadador de campanha do ex-governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e ex-conselheiro do BRB.
“Era até mais amplo do que a gente tinha dentro da Caixa, porque ele [Ricardo Leal] tinha o comando da diretoria inteira. Dentro da Caixa, não tínhamos a diretoria inteira, porque era dividida entre PP e o MDB. No BRB era controle total”, comparou. As declarações foram dadas em oitiva supervisionada pelo juiz titular da 10ª Vara Federal, Vallisney de Souza Oliveira.
A audiência ocorreu por meio de videoconferência, no âmbito da Operação Circus Maximus. Preso no escândalo da Petrobras, desvendado pela Operação Lava Jato, Funaro cumpre pena em regime semiaberto.
Ele sublinhou ter tomado conhecimento da ingerência de Leal na direção do BRB após a posse de Rollemberg como governador, em 2015. “Falou que tinha indicado a diretoria do BRB, a presidência, os conselheiros: toda a parte da executiva ele quem indicou”.
Apesar do histórico com Leal, Funaro assinalou não ter fechado negócio com o Banco de Brasília. “O BRB não tinha condições de suportar o tamanho das operações financeiras que eu tinha na época”, frisou.
Ele [Ricardo Leal] determinava para as pessoas quais eram os pleitos que deviam ser atendidos e quais não deviam. Não sei se chegava a ter influência em 100% das decisões, mas tenho plena convicção de que nenhum negócio grande foi realizado dentro do BRB sem que tenha passado por ele.
TRECHO DA OITIVA DE LÚCIO FUNARO NO ÂMBITO DA OPERAÇÃO CIRCUS MAXIMUS
Funaro contou detalhes da relação antiga – descrita por ele como íntima – que tinha com Leal. “Me chamava de filho: era esse o grau de intimidade”. E foi mais longe: confirma que, quando trabalharam juntos, as transações clandestinas eram comuns. “Em todos os negócios que eu fiz com ele, sempre houve pagamento de propina”.
As investigações da Circus Maximus apontam para prejuízos de aproximadamente R$ 348 milhões ao BRB, participantes de fundos de pensão, Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), poupadores e ao sistema financeiro nacional. O suposto grupo criminoso teria movimentado R$ 40 milhões em propina. No total, 17 tornaram-se réus.
O comando de Ricardo Leal sobre os gestores do BRB na gestão de Rollemberg também foi revelado pelos réus na Circus Maximus, que fecharam acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). São eles: o empresário Henrique Domingues Neto e o filho dele, o ex-diretor de Terceiros da BRB Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (BRB/DTVM) Henrique Leite Domingues.
Como delator no âmbito da Lava Jato, o operador financeiro falou com o MPF antes. Acusado de cobrar propina a empresários interessados em conseguir empréstimos do Fundo de Investimento do FGTS, fechou acordo de delação premiada e, no cardápio de autoridades que entregou aos procuradores, está Ricardo Leal, apelidado de Chuck, Criança ou Kid, pela precocidade com que iniciou suas peripécias financeiras.
Leal foi arrecadador das campanhas de Rollemberg ao Senado (2010) e para o Governo do Distrito Federal (GDF) em 2002 e 2014. Desde 2015, assumiu o comando do Conselho de Administração do BRB, indicando vários nomes de sua confiança para o corpo diretivo do banco.
Ele só deixou a função de conselheiro do BRB no dia 11 de fevereiro de 2017. A saída se deu logo após vir a público a decisão de Lúcio Funaro em delatar o que sabia sobre figurões da República ligados ao MDB e também entregar o esquema do BRB.
O delator e Leal tinham relação muito próxima até ser decretada a prisão preventiva do operador financeiro, em julho de 2016. A foto em destaque na matéria, na qual os dois trocam beijo e abraço, foi tirada no dia do casamento da filha de Ricardo Leal, em Brasília.
Segundo Funaro disse aos investigadores, Leal é um dos maiores operadores do país em fraudes contra fundos de pensão estatal e RPPS, destinado aos servidores públicos.
A defesa de Ricardo Leal disse que não vai se manifestar sobre as declarações de Funaro. Por meio da assessoria de imprensa, o MDB também informou que não se pronunciará.
Em nota, o Banco de Brasília ressaltou que “apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem as investigações”.
Procurada na noite dessa quinta-feira (11/07/2019) pelo Metrópoles, a Caixa não retornou até a última atualização deste texto. A reportagem não conseguiu contato com a assessoria do PP. O espaço permanece aberto.