27/02/2017 às 07h08min - Atualizada em 27/02/2017 às 07h08min

Operação Drácon: Bastidores de um gabinete em crise

Em conversa, Cristiano conta que Celina chorou por rumores de prisão de deputados investigados na Drácon.

Correio Braziliense

Depois da Operação Drácon, Cristiano Araújo discutiu estratégias de aproximação com o GDF e a repercussão da denúncia de venda de uma emenda. Diálogos foram captados em escuta autorizada pela Justiça.

 

As gravações realizadas pelas escutas instaladas nos gabinetes dos distritais após a deflagração da Operação Drácon expuseram os bastidores da política do Distrito Federal. Diferentemente do comportamento em público, quando costumam dar declarações ensaiadas, nos áudios obtidos com exclusividade pelo Correio, os parlamentares falam abertamente sobre estratégias e trocam impressões sobre os colegas. Nas conversas gravadas em seu gabinete, o deputado Cristiano Araújo (PSD) comenta com interlocutores sobre dificuldades de aproximação com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) à época. Na semana passada, os dois fecharam um acordo político e o distrital passou a integrar a base governista. 

 

Cristiano votou com o bloco de Rollemberg na eleição das comissões permanentes da Câmara Legislativa e deve ganhar um cargo no Executivo. A aliança foi selada com o aval do presidente regional do PSD, deputado Rogério Rosso. Em seu gabinete, Cristiano fala em pressionar com o governo como membro da CPI da Saúde e reclama de uma interferência negativa do hoje secretário de Cidades, Marcos Dantas, conhecido como Marcão, em possível aproximação com o governo. “Ele (Rollemberg) não gosta da gente. (...) Marcão vivia queimando a gente”, diz. 

 

Cristiano também detalha os bastidores da reação dos colegas diante da deflagração da Operação Drácon. Segundo o deputado, começaram a surgir rumores de que um pedido de prisão do Ministério Público do Distrito Federal à Justiça contra os investigados. A distrital, então, teria convocado uma reunião com os deputados mais próximos para discutir a situação. Naquele encontro, ela teria demonstrado abatimento. “(Celina) foi para a sala chorando como uma criança. Ela se desesperou e chamou eu, Agaciel, Prudente, Sandra e Juarezão”, relata. Na opinião de Cristiano, porém, Celina poderia se complicar com eventuais denúncias no Detran. “Por que onde vão pegar ela? Na questão do Detran, no negócio do Detran. Na verdade, vão pegar o Sandro (Sandro Vieira, secretário parlamentar)”. 

 

"Vai chegar na gente"

Em outro trecho, Cristiano conversa a respeito das dívidas do GDF com empresas prestadoras de serviço. Um dos interlocutores relata uma reunião com empresários sobre o assunto. “Eu falei na questão de você (empresário) ter um deputado que vai fazer aquele trabalho por você ali. Você apoiou o cara na eleição, que não é o caso, mas você tem uma grana presa na Saúde. O cara tem que ir lá viabilizar o lado do empresário”, diz. Cristiano responde: “Isso é republicano, é legítimo”. 

 

O distrital também se mostra apreensivo em relação às investigações sobre supostas irregularidades no contrato do Hospital da Criança. “Delegados já têm toda cadeia e tal. E a questão de como é feito o repasse das empresas, as contratações de servidor. E agora pediram autorização para quebrar sigilo dos médicos e empresas. Olha, não tenha dúvida que tem tudo, endereço. E vai chegar na gente”, diz aos assessores.

 

Num dos trechos mais contundentes, como mostrou a reportagem do Correio, na edição de sábado, Cristiano Araújo comenta que não há "virgens” no meio político. “Vamos ser sinceros: ninguém aqui é virgem".

 

 Em nota, a assessoria de Cristiano Araújo lamenta que conversas mantidas em ambiente privado sejam divulgadas. “Esse tipo de vazamento não contribui em nada com as investigações e apenas expõe a vida do parlamentar, que sempre colabora com as autoridades”, diz a nota. “Os áudios, aliás, só reforçam que o deputado não participou do esquema no qual seus adversários políticos e o Ministério Público insistem em envolvê-lo, mesmo sem ter provas para isso”, acrescenta. E finaliza: “Todas as atitudes do deputado Cristiano são feitas dentro da lei. O deputado Cristiano Araújo sempre pautou sua trajetória no exercício do mandato de forma plena, procurando atender reivindicações de todos os setores da sociedade brasiliense, sem discriminação ideológica ou partidária e sempre com respeito à lei."

 

No gabinete de Cristiano Araújo:

 

TODOS PERDEM

"Eu falei pro Eric (Seba). Eu vou falar com o governador, que nesse jogo não existe vencedor."

 

 

SEM REGISTRO DE PROPINA

"(…) O computador de Câmara não tem nada. O fato que tá sendo investigado. Eu não falei com ninguém. Mas acho muito difícil ela (Celina) ter falado [aspa_simples]eu acertei a propina com o cara tal".

 

 

BIRRA NO GOVERNO

"Quando pega birra é foda. Acho que a gente deu uma sorte ali. Eu fui pro lado do Rômulo (Neves). Marcão (Marcos Dantas) não gostava de mim, não queria a gente. Rômulo que ligou na época. Aí o Rômulo saiu, Marcão assumiu e vivia queimando a gente". 

 

 

VAI CHEGAR NA GENTE

"Eles tão fazendo investigação sobre Hospital da Criança. Já pegaram lá em novembro. Delegados já têm toda cadeia e tal. A questão de como é feito o repasse das empresas, as contratações de servidor. E agora pediram autorização para quebrar sigilo dos médicos e empresas. Olha, não tenha dúvida que tem tudo, endereço. E vai chegar na gente. Essa é investigação do Eric (Seba), tá bem avançada".

 

ROLLEMBERG DISTANTE 

"Com governo vai ser difícil. Ele (Rollemberg) não gosta da gente. Deve ter algum motivo pessoal". 

 

 

CELINA CHORA

"A Celina se desequilibrou, foi pra sala chorar como criança. Chegou a notícia de um pedido de prisão dela. Para completar notícia do HD dela que tinha sumido. Na verdade, eu acho que não tem nada. Ela se desesperou e chamou eu, Agaciel, Prudente, Sandra, Juarezão. Ela chorando, chorando, e o Wasny entrou. E ela: [aspa_simples]Wasny, pode esperar mais um minutinho?[aspa_simples] Ele resmungou". 

 

Diálogo

 

DETRAN E EMPRESÁRIOS

"Cristiano: Por que (sic) onde vão pegar ela (Celina)? Na questão do Detran, no negócio do Detran. Na verdade vão pegar o Sandro".

 

Interlocutor: "Tive com pessoal aí, um grupo de empresários. E eu falei na questão de ter um deputado que vai fazer aquele trabalho por você ali. ‘Você é empresário, ah, você tem uma demanda. Você apoiou o cara na eleição[aspa_simples], que não é o caso, mas você tem uma grana presa na Saúde. O cara tem que ir lá viabilizar o lado do empresário
"


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