27/02/2017 às 08h00min - Atualizada em 27/02/2017 às 08h00min

Políticos precisam usar a criatividade para conquistar eleitorado em 2018

Em tempos de festas carnavalescas e com a popularidade no chão, políticos precisam pensar bem na fantasia para conquistar o eleitorado no ano que vem

Correioweb
Uma das mais belas músicas sobre a folia carnavalesca, a Noite dos mascarados, de Chico Buarque, diz exatamente assim, em seus versos: “Quem é você? Adivinha, se gosta de mim! Mas é carnaval! Não me diga mais quem é você! Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar, deixa o barco correr. Deixa o dia raiar, que hoje eu sou da maneira que você me quer.” Em tempos nos quais a classe política está com a popularidade no chão, quais fantasias os nossos representantes usariam para sensibilizar foliões e eleitores? O que eles usariam para serem exatamente da maneira como a população quer que eles sejam?
 
 
Quando foi eleito em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva vestiu uma fantasia que lhe caiu bem: o Lulinha paz e amor, pacificado, paciente, disposto a governar o país em harmonia com mercados e os contratos vigentes. O acirramento da Lava-Jato fez com que o petista tirasse da cartola a metáfora da jararaca, que estava mais viva do que nunca. Mas, evidentemente, o que Lula menos quer é envenenar as pessoas neste momento. Por isso, especialistas ouvidos pelo Correio sugerem a fantasia de vítima, perseguido por todos. Um dos entrevistados propôs um Cristo crucificado, mas voltou atrás, prudentemente, pois acharia que Lula compraria uma briga desnecessária com a Igreja e os conservadores.
No mesmo caminho apostólico, há quem sugira à senadora Marina Silva a fantasia de Madelena arrependida. Bastaria acrescentar ao xale que já usa tradicionalmente o longo véu. Ela se postaria em um monte e conversaria com seus seguidores, os marineiros, que sempre estão à espera do momento em que ela vai se pronunciar sobre os assuntos do momento. A espera agora é acrescida pelos políticos da Rede que, mascarados ou não, reclamam que sua mentora política demora a se posicionar sobre as coisas.


Nem só de candura se faz um bloco carnavalesco. O nosso também tem os brigões e os valentões. E os dois que melhor se enquadram nesse figurino são os pré-candidatos ao Planalto em 2018, Ciro Gomes e Jair Bolsonaro. O deputado carioca ficaria bem caracterizado de Capitão Caverna, com um porrete na mão, pronto para, aos berros, destruir tudo o que está à sua volta e lhe causa contrariedade. Já Ciro é o clássico brigão de rua, com chinelo, calça jeans e camiseta regata — tatuagem no braço — pronto para esmurrar quem discorda de suas teses. Um especialista consultado se lembra do personagem Seu Saraiva, da Escolinha do Professor Raimundo, imortalizado pelo ator Francisco Milani: “Tolerância zero”.

Vaias

Recém-chegado no meio político, após a surpreendente vitória na eleição para a prefeitura de São Paulo, o tucano João Doria já ganhou até marchinha. Pela mania de se vestir de gari para varrer as ruas pelo programa Cidade Limpa, ele foi homenageado no pré-carnaval paulistano com o samba do grupo Molejo: “Diga onde você vai que eu vou varrendo”. Doria, contudo, não consegue enganar as origens.

Tentou passar a imagem de uma infância humilde, mas não vivenciou sérias dificuldades nos primeiros anos de vida — hoje, menos ainda. Por isso, cairia bem para ele a fantasia de Riquinho, um personagem americano lançado originalmente em quadrinhos em setembro de 1953. Curiosamente, quatro anos antes de Doria nascer. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não teria muitas dificuldades de se fantasiar do mineirinho tradicional, que fala pouco, de maneira pontual, e evita entrar em contendas.

“A classe política está com a credibilidade muito baixa. Por isso,  precisa de muita criatividade para melhorar a imagem”, afirma o professor de ciência política Carlos Mello, do Insper. Mesmo assim, apesar do risco de vaias, o diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz, não acha que políticos seriam agredidos na avenida. “Carnaval é contestação e crítica. Mas no humor, não na violência”, acrescenta.

"A classe política está com a credibilidade muito baixa. Por isso, eles precisariam 
de muita criatividade para melhorar a imagem”
Carlos Mello, professor de ciência política

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