28/02/2017 às 09h14min - Atualizada em 28/02/2017 às 09h14min

Tráfico de propina traz a lama à porta do gabinete de Temer

E não é isso que está acontecendo.

Por Fabio Pannunzio - 26/02/2017 - 15:21:05

Michel Temer só foi levado ao posto que atualmente ocupa porque o Brasil estava enfarado da corrupção do PT. Foi por isso que multidões acorreram às ruas, bateram panelas e pressionaram o Congresso. O que a Nação deixou claro, de 2013 até o dia em que o PT foi defenestrado do Poder, é que não iria mais transigir com a roubalheira.

 

O que fez Temer ao assumir ? Prometeu contratar notáveis, mas constituiu um gabinete de notórios. Cercou-se dos mais notórios corruptos da República. Valeu-se da mão-de-obra de velhos conhecidos da crônica policial que vem sendo escrita nos anais da Lava Jato.

 

 

A investida logo começou a surtir efeito contrário. Obrigado a demitir Romero Jucá, gravado em pornográficas conspirações contra a correição de Curitiba, terminou por guindá-lo ao posto de lider do governo no Congresso. Ficou a lição. Jucá é corrupto demais para permanecer na Esplanada, mas não é corrupto o suficiente para ser impedido de continuar conspirando no Congresso em nome do governo.

 

Geddel Vieira Lima veio a seguir. Flagrado traficando influência para desembaraçar um apartamento embargado, foi demitido ao final de um episódio vexaminoso, contra o qual o presidente não teve força para resistir.

 

O homem que lhe deu o mandato, Eduardo Cunha, foi varrido da Presidência da Câmara para a carceragem de Curitiba, de onde passou a tentar chantagear veladamente, no corpo dos processos a que responde, o companheiro ao qual entregou o cetro e a coroa.

 

O Presidente, crente de que uma reação da economia poderia lhe valer a popularidade que nunca teve, se esqueceu que seu mister era, e continua sendo, botar ordem na suruba à qual se referiu o companheiro de Roraima. E alçou Moreira Franco, outro titã recém-saído do Hades peemedebista, à condição de semi-inimputável decorrente do privilégio de foro conferido a ministros de Estado.

 

Ainda que merecedor de várias menções de delatores premiados da Lava Jato, Eliseu Padilha caiu em desgraça só quando o melhor amigo de Temer, o advogado José Yunes, que foi seu assessor especial, decidiu dar com a língua nos dentes e contar que fora mula do colega gaúcho. Ainda assim, a despeito da licença médica, não se fala na hipótese de um inexorável afastamente definitivo.

 

A propina “traficada” por meio do escritório de Yunes foi entregue por um gângster chamado Lúcio Funaro. Foi o homem que, entre outras emboscadas, provocou o fechamento do escritório da advogada Beatriz Catta Preta e que constrangeu, de maneira acintosa, muitas testemunhas arroladas contra Eduardo Cunha no processo de impeachment e em outras instâncias correicionais. É o pistoleiro de aluguel dos corruptos do PMDB.

 

Ao verificar no Google o curriculum do traficante da propina, Yunes se assustou com o que viu. O que fez então ? Contou ao amigo Michel Temer o que havia ocorrido, com detalhes. Ou seja: Temer, que agora cobra explicações sobre algo que lhe foi minuciosamente explicado dois anos atrás, sabia de tudo e nada fez. E por que não fez ?

 

A resposta é óbvia. O dinheiro que deu origem à propina entregue por Funaro a seu assessor e amigo Yunes foi solicitado pelo próprio Temer, que abriu as portas da residência oficial da vice-presidência para receber, em um jantar formal, o príncipe dos corruptores ativos Marcelo Odebrecht.

 

A história descrita acima tem começo, meio e fim. Fecha-se o círculo de causas e efeitos, demarcando-se seu inicio no Jaburú e seu final, no Planalto.

 

O Presidente Temer já reiterou inúmeras vezes que sim, pediu o dinheiro a Odebrecht. Mas que tudo transitou legalmente. Só que a versão se tornou insustentável, a padecer pela falta de sentido, com os detalhes que os amigos do Rei vêm acrescentando a ela.

 

Qualquer observador medianamente atento ao noticiário político enxerga com clareza que falta verossimilhança ao contexto. Falta explicar, principalmente, por que uma doação supostamente legal como a descrita pelo Presidente da República chegou ao partido dele por meio de uma mula tão célebre quanto o advogado José Yunes, que tinha franco acesso ao gabinete onde Temer despacha.

 

Sim, os círculos vão se fechando. Para que eles formem uma figura geométrica perfeita, é preciso apenas lembrar o que foi dito lá em cima, no primeiro parágrafo deste texto, que repito integralmente.

 

Michel Temer só foi levado ao posto que atualmente ocupa porque o Brasil estava enfarado da corrupção do PT. Foi por isso que multidões acorreram às ruas ,bateram panelas e pressionaram o Congresso. O que a Nação deixou claro, de 2013 até o dia em que o PT foi defenestrado do Poder, é que não iria mais transigir com a roubalheira.

 

E não é isso que está acontecendo.


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