As investigações da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) da Polícia Civil do Distrito Federal apontam que outros empresários do Gama estão envolvidos no esquema milionário de fraudes contra o Banco de Brasília (BRB). Os agentes da Operação Revés trabalham na busca desses novos suspeitos da trama que causou um prejuízo estimado de R$ 3,5 milhões à instituição. Segundo o delegado-chefe da DRF, Fernando Cesar Costa, até a próxima semana novas prisões devem ser decretadas. A Polícia não descarta também a hipótese do dinheiro ter sido enviado para fora do país.
Os investigadores fizeram diligências ontem em Goiânia (GO) para prender mais uma pessoa envolvida. Até agora são 37 mandados de prisão expedidos pela Justiça e 23 foram cumpridos. Responsável pelas investigações, Fernando Cesar, comunica que, neste momento, a polícia está analisando o caminho do dinheiro. “Estamos trabalhando para identificar outros empresários que também utilizavam o mesmo esquema. São redes de lojas do Gama. A gente espera ter outras prisões decretadas na próxima semana”, avisou.
Entre os envolvidos que continuam presos estão Ramon Carvalho Maurício, proprietário do correspondente bancário do BRB onde a fraude ocorria, e o empresário e candidato a deputado distrital nas eleições de 2014, pelo PPS, Luiz Carlos dos Reis, conhecido como “Iti”. Alguns envolvidos foram liberados pela própria Polícia após prestarem os devidos esclarecimentos.
O advogado de Luiz Carlos dos Reis, João Rodrigues Neto, comunicou ao Correio que pediu o relaxamento da prisão temporária contra o seu cliente. Entretanto, até o fechamento dessa edição, o documento não tinha sido expedido. De acordo com João Rodrigues Neto, Luiz Carlos assumiu em depoimento à Polícia Civil a participação no esquema, o empresário contou que era responsável por emitir boletos para Ramon quitá-los. “O Luiz Carlos assumiu a responsabilidade, reconheceu o erro e vai pagar na forma da lei. Achei bonita a conduta dele. Por isso, a prisão dele deve ser relaxada”, comunicou. O Correio não conseguiu localizar a defesa de Ramon Carvalho.
O Partido Popular Socialista (PPS), no qual Iti se candidatou na última votação, se manifestou dizendo que a atitude do candidato não condiz com os valores da legenda. “Ele veio em uma leva quando fundou o partido. Nem tem vida orgânica. Se ainda estiver filiado, vamos expulsar imediatamente”, disse o presidente do PPS-DF, Chico Andrade.
Por meio de nota, o BRB informou que o alto valor das transações realizadas no posto de atendimento do Gama chamou a atenção da área de correspondentes e de segurança da instituição. Por isso, a instituição comunicou à Polícia sobre a suspeita, que deu início às investigações. “Diversas ações foram realizadas para que o BRB tivesse o atual modelo de controle, que permite identificar ações como esta e tomar providências em tempo”.
Atenção especial A fraude ocorreu em um posto de conveniência bancária do BRB, localizada dentro de uma loja de produtos automotivos chamada Gama Latas, no Setor Leste do Gama. Segundo as investigações, a ação ocorreu em menos de 12 horas, entre 8h30 e 18h30, em 19 de fevereiro. Documentos da polícia apontam a existência de uma “verdadeira organização criminosa, constituída para fraudar o BRB”.
As transações feitas fora do expediente bancário, os valores diários incomuns de movimentação e a responsabilidade de uma funcionário recém-contratado e sem qualificação para manusear malotes com quantias expressivas chamaram a atenção da Polícia. O suposto roubo do dispositivo de vigilância e de armazenamento de imagens fornecidos pelo BRB aos seus conveniados no mesmo dia que ocorreu a fraude “merece atenção especial”, conforme aponta a investigação.
A Polícia trabalha ainda com a hipótese de que o dinheiro desviado do BRB tenha sido lavado fora do país. Uma vez que um dos principais envolvidos, Ramon Maurício, viajou no mesmo dia da fraude para o Paraguai. “O que indica uma grande possibilidade dos valores subtraídos terem sido ‘lavados’ naquele país, ou utilizados para a perpetração de outros crimes”, analisa a Polícia.
Como funciona o esquema: As investigações apontam que o esquema funcionou da seguinte forma: um funcionário fantasma, que utilizava o registro civil de uma vítima de roubo, autorizava as transações irregulares no correspondente bancário no BRB, no Setor Leste, no Gama. Ele fez 22 depósitos para diferentes empresas e pessoas físicas, em um total de R$ 102.100. Além disso, pagou, com recursos do BRB, boletos falsos em benefício de várias empresas, entre as quais postos de combustíveis, distribuidora de alimentos, companhia de serviços aeroportuários de transporte e agências de turismo. A Polícia contabilizou R$ 3,38 milhões em pagamentos.