02/03/2017 às 07h06min - Atualizada em 02/03/2017 às 07h06min

Oração na Operação Drácon: "O demônio usou essa mulher, que envolve o nome do deputado". Orações em apoio a deputado Julio Cesar.

Não há citação de nomes nos áudios, porém, Liliane Roriz (PTB) é a responsável pela denúncia que levou à deflagração da operação.

Correio Braziliense

Escutas ambientais instaladas no gabinete do distrital Julio Cesar, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, mostram que líderes evangélicos e amigos se reuniram para rezar após a deflagração da Operação Drácon.

As denúncias contra o distrital Julio Cesar (PRB), acusado de envolvimento no escândalo investigado pela Operação Drácon, motivaram uma romaria na Câmara Legislativa. Escutas ambientais revelam a presença de pastores, servidores e amigos do deputado fazendo orações, rezas e cultos no gabinete do ex-líder do governo na Casa — ele é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo a denúncia do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), Julio Cesar teria participado de um suposto esquema de cobrança de propina em troca da elaboração de uma emenda para o pagamento de empresas de UTIs. O Correio teve acesso à íntegra dos áudios captados com autorização da Justiça, nos 10 dias seguintes à Operação Drácon.

 

Os aliados do distrital do PRB atribuem “ao diabo” as denúncias do MPDFT. No primeiro dia de expediente após a operação, uma voz feminina faz uma oração no gabinete de Julio Cesar, pedindo que “todo espírito do mal seja repreendido”. “Eu não aceito, meu pai, eu não aceito, senhor Jesus, passar por essa vergonha, como se nós fossemos bandidos. Somos filhos do Senhor e merecemos, meu pai, como filhos de Deus, viver bem”, alega a mulher.

 

Em outra gravação, também aparece uma voz feminina clamando para que Deus enviasse “anjos batedores para repreender todas as ciladas e armadilhas do diabo”. A mulher fala sobre a necessidade de “lavar” a imagem do acusado “neste momento de rejeição”. “Amarra a boca do leão, meu pai, não permita que o diabo venha falar aquilo que é desnecessário. Faça com que o nome do seu servo, o nome da sua instituição, nossos nomes venham a ser lavados nesse momento de rejeição, meu pai”. A pessoa flagrada nas escutas pede que Deus “visite o deputado” para garantir “sabedoria, discernimento e entendimento sobre todas as armadilhas do diabo”.

 

Em uma das preces, um homem “coloca nas mãos de Deus” o futuro das investigações e pede apoio aos denunciados. “Meu Pai, em nome do senhor Jesus, o nome é Drácon, ou Drágon, não me lembro. O dragão era a antiga serpente. Então, que esse dragão seja amarrado e acorrentado, meu Deus. Dê forças ao nosso deputado e aos outros que, de uma forma injusta, podem estar sendo acusados”, proclamou.

 

Dias depois, em outra súplica, uma moça ora pelo destino de ofícios protocolados na Câmara Legislativa —possivelmente, pedidos de cassação de parlamentares acusados. “Que esse documento entregue aqui, hoje, na Câmara, venha a perder o valor, meu senhor Jesus. Que o Senhor venha colocar anjos para atrapalhar todos os planos do diabo, que tenta nos derrubar”, brada a mulher.

 

Em outra conversa, dois funcionários ressaltam a importância da união entre os servidores lotados no local. “A briga dele é a nossa briga. O demônio usou essa mulher, que envolve o nome do deputado. Entendeu?”, diz. Uma moça responde prontamente: “Você está certíssimo”. Não há citação de nomes nos áudios, porém, Liliane Roriz (PTB) é a responsável pela denúncia que levou à deflagração da operação.

 

Nos dias subsequentes à Drácon, um homem entra, à tarde, no gabinete do parlamentar para fazer uma roda de orações, faz menções à situação política de Julio Cesar e pede bençãos para o partido do parlamentar, o PRB. “Estamos passando por um momento de turbulência nesta Casa, mas tenho certeza de que o Senhor está à frente de tudo”, comentou o interlocutor.

 

Em nota, a assessoria de Comunicação do parlamentar ressaltou o fato de Julio Cesar ser pastor evangélico e alegou que, por isso, a equipe realiza orações no gabinete. Acrescentou que os advogados não se manifestariam sobre o caso, pois “não tiveram acesso total ao conteúdo do processo e não podem comentar falas de terceiros”.


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