24/08/2019 às 17h29min - Atualizada em 24/08/2019 às 17h29min

Amazônia: o coração das trevas

RAY CUNHA
Ray Cunha no Marco Zero do Equador, em Macapá/AP (Foto de Fernando Canto - 2010)

 

De repente, o mundo se volta para a Amazônia. O mundo, aqui, é um velho lobo em pele de ovelha, pele surrada e com lã bastante suja. Essa criatura diz, emocionada, que quer o bem da Amazônia. Mas ela foi identificado: é uma hiena europeia, e que, na verdade, ambiciona os bens da Amazônia. Esse subcontinente vem sendo assaltado, estuprado, currado, desde sempre, mas, agora, tudo o que acontece na Hileia, segundo os comunistas, é obra do presidente Jair Bolsonaro. Todo mundo sabe que isso é mentira. Aproveitando a última moda, se preocupar com a Amazônia, que para os especialistas em Amazônia é o pulmão do planeta, e agora todo mundo é especializado na grande selva, vamos, aqui, neste artigo, mudar o foco das queimadas, e abordar um incêndio muito mais infame. A mentalidade de colonizado, predominante nos amazônidas, o calor, a nudez e a corrupção crônica na antiga colônia portuguesa e agora até de Brasília, determinaram a perpetuação na Hileia de uma das nódoas mais negras da humanidade: a escravidão sexual de crianças. A Interpol francesa calcula que a rede internacional de tráfico de pessoas movimenta cerca de US$ 9 bilhões por ano.
 
A Amazônia é um paradoxo. O mais belo realismo fantástico da Terra, a mais rica província mineral do mundo, a maior diversidade biológica do planeta, é também O coração das trevas, obra-prima de Joseph Conrad. Esse pequeno romance de pouco mais de 150 páginas é um golpe de navalha seccionando tecido humano, obsceno como ataque de hienas. É o mais intenso de todos os relatos que a imaginação humana jamais concebeu, disse o labiríntico Jorge Luís Borges. Assim é a face obscura da Amazônia. O Inferno Verde é o latejar da escuridão, espasmos da alma amazônida, a loucura e o malogro da civilização colonialista.
 
A Amazônia é saqueada desde o século XVI. Potências europeias, americanos, Brasília, todos têm repasto garantido na Amazônia. Nos dias de hoje, leva-se, de lá, a floresta, energia hidrelétrica, minérios, pedras preciosas, animais, mulheres e crianças, e é um dos locais onde mais se escraviza no mundo. Até agora, o desenvolvimento imposto à Amazônia é para dizimar os amazônidas – índios, ribeirinhos, caboclos, quilombolas – e encher os cofres de políticos que transformam o erário em lavanderia. Os presidentes da República governavam de costas para a Amazônia, tratando-a como colônia, e colônias servem para serem saqueadas.
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