Apontado pela Polícia Civil (PCDF) como um dos maiores estelionatários do Distrito Federal, tendo provocado prejuízos milionários a investidores do mercado financeiro e de moedas digitais, Marlon Gonzalez Motta, 23 anos, foi sequestrado por dois empresários na manhã do último domingo (25/08/2019), quando deixava uma festa realizada na Associação dos Servidores da Câmara dos Deputados (Ascade), no Setor de Clubes Sul.
Investigadores da Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) da Polícia Civil indiciaram os dois empresários, que renderam Gonzalez com pistolas, então o levaram para um cativeiro e o obrigaram a transferir R$ 152 mil em bitcoins para carteiras criptografadas. Os autores do rapto são credores do golpista e haviam sido enganados por ele em uma transação envolvendo moedas virtuais.
As fraudes cometidas por Marlon foram reveladas em duas matérias publicadas pelo Metrópoles nos dias 25 e 26 de agosto. O estelionatário viaja o mundo em jatos particulares, hospeda-se em hotéis luxuosos e chegou a gastar R$ 100 mil em uma balada. No entanto, por trás da ostentação está um rastro de golpes que ultrapassa a casa dos R$ 3 milhões, segundo apuração da polícia. Fingindo ser um megainvestidor, Marlon usa a lábia para convencer operadores financeiros a pagarem fortunas em transações envolvendo moedas virtuais.
Quando foi rendido, Marlon estava na companhia de três seguranças armados. De acordo com a apuração da DRS, os suspeitos abordaram Marlon e os vigilantes quando eles estavam dentro do carro. Em seguida, o golpista foi levado para um cativeiro, no subsolo de uma empresa na Asa Norte.
Durante o percurso, Marlon recebeu coronhadas na cabeça. Ameaçado e sob a mira de duas pistolas, ele foi obrigado a fazer uma transferência de bitcoins para duas contas ainda não identificadas. O valor de R$ 152 mil, supostamente, teria sido a quantia que os sequestradores haviam perdido em um golpe praticado pelo jovem. Depois que confirmaram a transferência, eles obrigaram Marlon a trocar de roupa, pois a que usava estava suja de sangue.
Em seguida, eles chamaram um motorista de aplicativo, levaram Marlon até a Asa Sul e o abandonaram próximo a uma unidade de saúde particular no Setor Hospitalar Sul. Assim que foi libertado, os seguranças de Marlon registraram a ocorrência na 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), que repassou o caso para a DRS.
Na manhã seguinte ao sequestro, os investigadores identificaram e prenderam os suspeitos de cometer o crime. Quando entraram no local onde Marlon havia sido mantido refém, os policiais flagraram um dos supostos sequestradores limpando as manchas de sangue que havia no chão, provocadas pelo espancamento sofrido pelo estelionatário.
Os policiais ainda apreenderam um HD com imagens de câmeras de segurança, as quais mostram a ação dos autores. Os empresários foram identificados e permaneceram em silêncio durante os interrogatórios. As armas utilizadas no crime foram apreendidas, além do veículo usado na abordagem.
Os dois suspeitos foram indiciados pelos crimes de extorsão qualificada pela restrição de liberdade da vítima e porte ilegal de arma. Um deles também responderá por fraude processual, por ter limpado o sangue que havia na cena do crime. Eles foram liberados em seguida e responderão ao processo em liberdade. A polícia não revelou os nomes deles para não atrapalhar as investigações.
Marlon Gonzalez responde a cinco inquéritos, por crimes como estelionato, associação criminosa, denunciação caluniosa, falsa comunicação de crime e fraude a seguro. Ele entrou no radar da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte) quando um amigo do falsário começou a ser investigado por usar a identidade funcional de outra pessoa. Entre os documentos apreendidos com o suspeito, os policiais encontraram papéis com o timbre da empresa M3 Private, de propriedade de Marlon.