01/09/2019 às 06h59min - Atualizada em 01/09/2019 às 06h59min

Prisão de maníaco revive dor e esperança de famílias de desaparecidas

Entre 2017 e 2018, 2.310 mulheres sumiram no Distrito Federal. Algumas nunca foram encontradas, como Lays, Gisvania e Fabiana

A assassinato brutal de Letícia Curado de Sousa, 26 anos, trouxe angústia para muitas pessoas, mas, por um lado, reacendeu a esperança de famílias de pessoas desaparecidas no DF. Funcionária do Ministério da Educação (MEC), ela foi vista pela última vez com vida na sexta-feira (23/08/2019), em uma parada de ônibus próximo de sua casa, no Arapoanga, em Planaltina. Quatro dias depois, foi achada morta. Assassino confesso da jovem, o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41, está preso.
 

A angústia vivida pelos parentes de Letícia durante os dias de seu sumiço encontra ressonância entre familiares de outras 7.620 pessoas desaparecidas no DF nos últimos dois anos. De acordo com levantamento da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), foram 2.310 registros de mulheres entre 2017 e 2018. O maior percentual é de adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos: 1.334, ou seja, 58% dos registros.

Do total computado em 2018, 303 continuam desaparecidas. Entre as histórias ainda sem um desfecho, está a de Gisvania Pereira dos Santos Silva, 34, desaparecida desde 6 de outubro de 2018. De acordo com as investigações da PCDF, o último registro que se tem dela com vida foi feito por câmeras de segurança de um posto de gasolina em Sobradinho – região onde morava com os pais e a filha de 15 anos.

No vídeo (veja abaixo), Gisvania aparece acompanhada de um homem, que chegou a ser identificado na época, mas teve participação no desaparecimento descartada. O vídeo mostra que, por volta das 4h40, a mulher deixa o posto sozinha para nunca mais ser vista.

Ao 
Metrópoles, a irmã Gislene Pereira dos Santos, 36, diz que a família “não vive desde o desaparecimento” da mulher. “Tem sido um verdadeiro filme de terror. No mês que vem, completam 11 meses do desaparecimento dela e tem sido tudo muito difícil: comemorar o aniversário dela sem ela, o da minha mãe a mesma coisa. São 11 meses sem vivermos direito”, desabafou

Segundo Gislene, quem mais sofre é a filha da desaparecida, que é adolescente. “Ela pergunta pela mãe direto e, agora, com o aniversário dela chegando, fica tudo mais complicado. Ela chora bastante”.

Com poucas pistas sobre o paradeiro de Gisvania, a investigação do desaparecimento ganhou novos capítulos com a prisão de Marinésio, uma vez que os investigadores acreditam que Genir Pereira de Sousa, 47, e Letícia não sejam as únicas vítimas do cozinheiro. O maníaco chegou a ser interrogado pela DRS sobre o sumiço de Gisvania, mas negou qualquer envolvimento.

O chefe da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), Fabrício Augusto Machado, admite que possa haver relação entre os casos: “Ela também estava em um ponto de ônibus, em Nova Colina. A informação é que uma pessoa chegou em um veículo e teria feito a lotação. Tudo indica que tenha sido o Marinésio. Existem várias evidências que levam a crer que ele possa ser o autor”, reforçou.

“Angústia interminável”

A data está guardada na memória dos familiares: sábado, 7 de julho de 2018. Nesse dia, Lays Dias Gomes, 25, saiu de casa, na Quadra 409 de Samambaia Norte, por volta das 9h30, em direção à parada de ônibus. A família não sabe para onde ela iria e muito menos onde ela está agora.

Apesar de ter desaparecido no sábado, o sumiço de Lays foi notado no domingo, quando sua prima Léia Vieira a procurou para lhe entregar sua filha, na época com 2 anos e 9 meses. “Sábado conversamos o dia todo, até que as mensagens que enviava pararam de chegar no celular dela. Em um primeiro momento, não desconfiei, achei que ele poderia ter descarregado. Quando voltei da chácara no domingo para ir na casa dela, Lays não estava”, contou.

Preocupada, a prima procurou amigas próximas à jovem em busca de seu paradeiro, sem sucesso. Registrou boletim de ocorrência na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia), no dia 9 de julho do ano passado. “De lá para cá, seguimos sem notícias, vivendo uma angústia interminável. A polícia diz ter algumas linhas de investigação, suspeitos já foram presos e liberados, mas não há nada certo. Certeza mesmo é de que a angústia segue”, acrescentou.

A única novidade que a família recebeu sobre Lays foi a descoberta dos parentes de que a jovem trabalhava como garota de programa em movimentado ponto de prostituição de Taguatinga. Quando tomou conhecimento do fato, Léia chegou a ir até o local conversar com colegas da desaparecida, mas nenhuma informação que a levasse à prima.

Do dia do desaparecimento em diante, Léia é quem cuida da filha de Lays. “Hoje eu tenho a guarda dela. É difícil para mim e para meu esposo, pois ela sente falta da mãe. Tem hora que a situação aperta mais e tenho que mostrar fotos da mãe para ela, vídeos de uma viagem que fizeram juntas, tudo para não fazê-la esquecer da Lays. Aos poucos, a dor dela vai diminuindo. Hoje, já me chama de mãe”, diz a prima.