03/09/2019 às 06h55min - Atualizada em 03/09/2019 às 06h55min

Novas vítimas surgem após suspeita de que maníaco usava outros carros

Além de Blazer apreendida pela Polícia Civil, Marinésio dirigia Palio vermelho e Gol preto. Duas mulheres prestaram depoimento nesta segunda

A confirmação de que o cozinheiro Marinésio dos Santos Olinto, 41 anos, usava outros carros para atacar mulheres, além da Blazer apreendida pela Polícia Civil (PCDF), fez aumentar o número de supostas vítimas dele. A informação foi dada por um irmão do maníaco, assassino confesso de Letícia Sousa Curado, 26, e Genir Pereira de Sousa, 47. Em depoimento à PCDF, ele revelou que emprestava com frequência um Fiat Palio vermelho ao irmão e pontuou, ainda, que o acusado também costumava dirigir um VW Gol preto.
 

Uma empregada doméstica de 46 anos esteve na 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), na tarde de segunda-feira (02/09/2019), para prestar depoimento contra o cozinheiro. Coincidindo com depoimentos de mais três outras mulheres, a vítima, que pediu para não ser identificada, afirmou que o maníaco usava um carro vermelho quando ofereceu carona para ela, no dia 14 de abril deste ano.

“Era véspera do meu aniversário. Eu estava em uma parada de ônibus em frente à Feira de Confecções do Setor de Educação, e ele passou, ofereceu carona, e eu disse que iria para o Arapoanga. Aí, entrei no carro”, contou.

Ainda de acordo com a mulher, ela só escapou porque fingiu ser uma criminosa. “Ele estava dirigindo e eu, concentrada, olhando para a direita. Foi quando percebi que ele estava indo para uma área de matagal em Planaltina. Então, falei: ‘O que você está fazendo aqui?’”, narrou.

Para escapar do cozinheiro, a moradora do Arapoanga mentiu, disse que era ex-presidiária e que já tinha cometido homicídio. “Eu disse: ‘Você sabia que eu acabei de sair da Colmeia [como é conhecida a Penitenciária Feminina]? Saí de lá porque matei um homem’”, disse.

Portas travadas

Diante da argumentação da moça, o suspeito parou o veículo na rua de um mercado, porém ainda com as portas travadas. De acordo com o relato, Marinésio teria pedido mais um beijo, mas ela negou. Nesse momento, o agressor a deixou sair e disse que “Nunca tinha visto uma mulher tão brava, por isso tinha escapado da morte naquele dia”.

A empregada doméstica relatou ainda que, quando ele estava prestes a deixá-la descer do carro, o maníaco falou: “Eu já mexi com muitas mulheres, mas hoje parece que mexi com a errada”.

Para a vítima, ela conseguiu escapar de um possível abuso sexual por ter vivido “muito tempo na violência”. “Eu fui casada, passei 25 anos sofrendo agressões. Vinha mais na delegacia do que na minha casa. Então, acho que soube lidar assim por conta disso”, afirmou.

Ela conta que se encorajou a fazer a denúncia após reconhecer o motorista como Marinésio dos Santos Olinto em uma reportagem televisiva. “Eu engoli isso calada, porque tinha vergonha que os meus filhos soubessem”, disse. “Eu me sinto culpada pela morte dessas meninas. Por que eu não vim antes [denunciar Marinésio]?”, lamentou.

Gol preto

Ainda na tarde desta segunda-feira (02/09/2019), outra possível vítima de Marinésio, uma jovem de 21 anos, esteve na 31ª DP para depor. Ela conta que foi abordada pelo maníaco quando ele estava em um Gol preto. O depoimento bate com a informação dada pelo irmão do assassino confesso.

A estudante, que pediu para não ter o nome revelado, procurou inicialmente outra delegacia do DF para fazer a denúncia, mas foi encaminhada para a unidade de Planaltina, onde contou aos policiais sobre o caso de assédio que relata ter sofrido em novembro de 2017.

Ao Metrópoles, a jovem contou que estava em uma parada de ônibus na Vila Vicentina, em Planaltina, e pretendia ir para a casa da mãe, no Vale do Amanhecer, quando foi abordada pelo cozinheiro.

“Fui assediada dentro do carro, mas consegui sair porque vi que ele iria me matar. Tentei ficar o mais calma possível e não demonstrar nervosismo, porque a qualquer momento ele poderia me assassinar em um matagal.”

Segundo a estudante, ela permitiu que Marinésio a tocasse nas partes íntimas para que o maníaco não pensasse que ela estava nervosa. “Ele me disse: ‘Você é uma menina muito bonita, muito linda, para continuar solteira’”.

“Comecei a entrar na onda dele, porque, se eu me desesperasse, iria acontecer algo. Deixei ele pegar nas minhas partes íntimas. Ele pediu meu número e foi me deixar na porta de casa. Aí, no dia seguinte, me mudei de lá”, completou a jovem, com lágrimas nos olhos.

Ainda de acordo com a jovem, a mãe dela viu Marinésio quando o cozinheiro a deixou na porta de casa. Após a divulgação dos crimes cometidos pelo maníaco, a mulher o reconheceu e convenceu a filha de denunciá-lo.

“Eu só tive coragem de denunciar depois de ver muitas mulheres vindo aqui. Na época, tive muito medo, porque ele sabia onde eu morava, onde eu pegava ônibus”, disse.

Depois do drama que viveu, a estudante passou a fazer acompanhamento com psiquiatra e psicólogo, mas diz que não consegue esquecer o que passou. “Passei o dia chorando hoje. Eu só queria esquecer isso.”

A outra suposta vítima é uma confeiteira de 39 anos. Ela disse que foi atacada por Marinésio em 2011, em Sobradinho, e se mudou do DF para Águas Lindas (GO), no Entorno, com medo do maníaco. Após escapar das garras do suspeito, que usava a Blazer prata na ocasião, ela ouviu dele a seguinte frase: “Onde te ver, vou te pegar“.

Nesta terça-feira (03/09/2019), o Instituto de Criminalística deve concluir os laudos cadavérico, do carro e do local onde o corpo de Letícia Curado foi encontrado. A advogada e funcionária terceirizada do Ministério da Educação (MEC) foi assassinada no dia 23 de agosto, em Planaltina.

O acusado

Marinésio morava com a esposa e a filha em uma casa humilde no Vale do Amanhecer. Tinha uma vida acima de qualquer suspeita. O homem, de 1,60 m de altura, é considerado calmo. “Vivi com ele muitos anos [19, no total] e não sabia de nada. Era um bom marido e bom pai. Nunca agrediu minha filha. Estamos arrasadas”, disse a companheira do maníaco.