13/09/2019 às 11h40min - Atualizada em 13/09/2019 às 11h40min

Crime da 113 Sul: MP diz que PCDF “plantou mentira” para proteger Adriana Villela

Declaração do promotor Maurício Miranda ocorre a 10 dias do julgamento da arquiteta, denunciada como mandante da morte dos próprios pais

Faltando 10 dias para Adriana Villela ser levada ao banco dos réus, defesa e acusação afinam estratégias para o embate que promete movimentar o Tribunal do Júri de Brasília. O Ministério Público do DF e Territórios sustenta que a arquiteta é a mandante da morte dos próprios pais, o ministro aposentado do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela. A funcionária da casa, Francisca Nascimento Silva, também foi assassinada. O crime ocorreu em 28 de agosto de 2009.

Em entrevista ao Metrópoles, um dos promotores que vai atuar no Júri diz estar convicto de que o trabalho inicial da Polícia Civil do DF nos primeiros meses seguintes à localização dos corpos foi “orquestrado para plantar uma mentira” e “excluir” Adriana da lista de culpados pela barbárie que ficou conhecida na cidade como o crime da 113 Sul.

O promotor de Justiça Maurício Miranda avalia que a má atuação da primeira unidade a conduzir as investigações, a 1ª DP, na Asa Sul, à época sob o comando da ex-delegada Martha Vargas, ocorreu por um motivo específico: “Afastar as apurações do crime de homicídio e levar à conclusão de latrocínio”. Martha, inclusive, foi condenada à prisão por fraude processual e por plantar provas. Por tais crimes, perdeu o cargo de delegada e a aposentadoria de R$ 16 mil.

Com suspeitas pairando sobre a imparcialidade das investigações, ainda em 2009, a Justiça determinou que o caso passasse integralmente à antiga Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). No entanto, de acordo com Miranda, outra delegacia, a 8ª DP (SIA) — à época chefiada por Deborah Menezes —teria usurpado a competência da Corvida e comprometido a elucidação célere do triplo homicídio.

Foi a equipe de Deborah que viajou a Montalvânia (MG) e prendeu o ex-porteiro do prédio dos Villela, Leonardo Campos Alves. Embora tenha confessado participação no crime com outros dois comparsas, a 8ª DP sustentava que Leonardo havia cometido um latrocínio. A tese foi rechaçada pelo MPDFT, que assegurava a participação de Adriana como mandante. “Qual era a mentira que eles queriam plantar no processo? Usaram chave falsa, vidente, tortura, pra quê? Tudo para inocentar Adriana”, denuncia o promotor, que apesar de não ser mais o titular do processo, atuará no Júri.

Defesa diz que investigações são “absurdas”

Do outro lado, a arquiteta tenta desqualificar as provas apresentadas pelo MPDFT. Ela conta com a defesa de dois dos maiores criminalistas do país, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay; e Marcelo Turbay. Eles entraram com habeas corpus pedindo a anulação da sentença de pronúncia contra a cliente por avaliarem que os laudos emitidos por papiloscopistas da Polícia Civil acerca das digitais de Adriana colhidas na cena do crime não têm valor.

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, acatou, em parte, o pedido e determinou que o presidente do Tribunal do Júri apresente aos jurados o laudo no dia 23 de setembro. São eles que vão decidir se o documento poderá ou não ser usado como prova. “A Corvida jamais teve compromisso com a busca pela verdade: forjou provas e prometeu benefícios aos assassinos para que incriminassem Adriana”, rebate Turbay.

O advogado vai além. Para ele, “Adriana foi e continua sendo vítima da atuação desordenada, confusa e ilegal da polícia, alimentada por um promotor que só pensa em holofotes e promoção pessoal. A investigação foi toda marcada por absurdos e injustiças”, completa

Julgamento histórico

Em 23 de setembro, cada lado (defesa e acusação) terá direito a 15 testemunhas. Elas prestarão depoimento diante de sete jurados, escolhidos entre os 25 previamente selecionados. O MPDFT levará ao Tribunal do Júri um papiloscopista para tentar derrubar a tese da defesa de Adriana. “O trabalho feito pelos papiloscopistas é de alta qualidade. São pesquisadores, doutores, verdadeiros cientistas. As informações que eles coletaram foram publicadas em revistas internacionais de ciência forense”, ressaltou Maurício Miranda.

O promotor detalhou o trabalho técnico executado pelos especialistas. “Diversos casos foram resolvidos com base na datação das digitais. Nesse caso, o que permitiu chegar àquelas conclusões é que cientistas viram as diferenças morfométricas usando a digital da própria Adriana no mesmo ambiente”, afirma.

Miranda ainda alega que as digitais não são as únicas provas da acusação. “Temos todos os depoimentos, gravações e a motivação do crime. Além disso, há um laudo sobre a agressividade dela com os pais, as cartas escritas pela Maria Villela e uma série de elementos para a condenação”, sublinha o promotor. Ele acredita que Adriana será condenada e não terá pena inferior a 60 anos, similar aos dos outros três réus já condenados no caso.

A defesa de Adriana sustenta ter elementos robustos de que seria impossível a arquiteta estar no apartamento dos pais na noite do dia 28 de agosto de 2009. “Comprovamos por meio de testemunha e pagamentos feitos naquele fatídico dia onde Adriana estava desde o momento em que acordou até a hora que foi dormir. Comprovamos que ela não poderia estar no local do crime”, afirma Kakay.

Entrevista com o assassino 

O crime que chocou Brasília completou 10 anos no último dia 28. Na data, o Metrópoles publicou com exclusividade uma entrevista com Leonardo Campos Alves, 53 anos, apontado como o responsável por receber dinheiro de Adriana para simular um assalto e esfaquear os pais dela e a empregada.

Por cerca de duas horas, Leonardo contou à reportagem ter presenciado ao menos duas brigas de Adriana Villela com os pais, disse que a arquiteta chegou a destruir o interior de um apartamento dado por José Villela porque não teria gostado da decoração, e jurou ter entrado no suntuoso imóvel situado no Bloco C de uma das quadras mais nobres do Plano Piloto apenas três vezes: “Para levar uma banheira, para ajudar a subir com compras e para levar um móvel”, disse.


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