Em oito anos de vida pública, o deputado distrital Agaciel Maia (PL) teve um aumento no seu patrimônio que despertou a atenção das autoridades. Ao concorrer pela primeira vez a um cargo eletivo, em 2010, ele declarou à Justiça possuir R$ 3, 8 milhões de patrimônio. Em oito anos, com um rendimento mensal líquido de R$ 46 mil – entre o salário de parlamentar e a aposentadoria como servidor do Senado – ele declarou possuir R$ 8,2 milhões em 2018.
A suspeita dos investigadores, ao pedirem a quebra do sigilo bancário e fiscal do parlamentar, como revelou o Metrópoles, é que mesmo se tivesse juntado todo o dinheiro recebido, supondo que não gastasse com contas, comida, saúde, etc, o máximo valor amealhado no período seriam R$ 4,4 milhões.
Somado a isso, uma relação ainda inexplicada entre ele e o diretor legislativo da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), Arlécio Alexandre Gazal, levantou questionamentos. Quando a Polícia Civil fez uma batida na Casa em julho, em investigação sobre outro deputado, canhotos de cheques de Arlécio que totalizavam R$ 300 mil nominais a Agaciel levaram o parlamentar ao centro das investigações.
Na época, tanto Arlécio quanto Agaciel disseram que o dinheiro era para pagar “honorários advocatícios”. Uma das questões levantadas é: mesmo com um patrimônio milionário, que inclui R$ 6,7 milhões distribuídos em duas carteiras de renda fixa e fundo de investimento imobiliário, segundo a sua declaração de renda, ele recorreu ao subordinado para pedir empréstimo e quitar honorários advocatícios. E o que Gazal ganha com isso? Segundo ele mesmo, prestígio com o patrão.
“De vez em quando, preciso dele, mas não é para arrumar cargo”, explicou. Ele disse que não dá muita importância ao dinheiro, uma vez que possui uma conta rechonchuda: “Tenho mais de R$ 10 milhões na conta, e isso é demais para quem trabalha desde menino e sempre em cargos de chefia no serviço público?”.
A relação deles, segundo revelaram as investigações, extrapola a de patrão e empregado e se estende ao campo dos negócios. Na gaveta da mesa de Gazal foi encontrado um contrato de compra e venda de uma propriedade situada no litoral do Rio Grande do Norte em nome do político. A transação chegou a R$ 500 mil. Mas o imóvel ainda está em nome de Agaciel. O próprio Gazal teria pedido para não oficializar a compra da casa para não pagar “dois impostos pela transferência”. Um detalhe chamou a atenção dos investigadores: o novo dono do bem nunca pisou os pés na propriedade.
Estes são alguns pontos que a Polícia Civil do Distrito Federal espera fechar com a quebra de sigilo bancário e fiscal requerida à Justiça e que o Metrópoles revelou com exclusividade. Uma das suspeitas das autoridades policiais é a de que Agaciel esteja cobrando de seus apadrinhados parte do salário que eles recebem. A prática é conhecida como “rachadinha”, que ficou famosa com o caso envolvendo o hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e seu motorista, Fabrício Queiroz, por suas numerosas transações bancárias quando os dois davam expediente na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Salto patrimonial
Uma simples olhada nos dados abertos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e na declaração de imposto de renda de Agacial Maia revelam um salto patrimonial atípico – ao menos na comparação com a maioria dos brasileiros – ao longo de seus dois mandatos, visto que o terceiro está apenas no começo. Em 2010, ele declarou à Justiça Eleitoral possuir R$ 3,8 milhões de patrimônio, salários e outros depósitos bancários.
Em 2014, o parlamentar brasiliense passou a declarar aplicações em fundos rentáveis, que totalizavam mais de R$ 2 milhões. No ano seguinte, em 2015, ele declarou à Receita Federal possuir R$ 2,7 milhões em carteiras de investimentos, classificados como Letra de Crédito Imobiliário e Renda Fixa. Além disso, o distrital possui uma luxuosa casa na QL 6 do Lago Sul, declarada no valor de R$ 900 mil, mas cujo preço venal é muito superior.
O maior salto orçamentário nas aplicações de Agaciel Maia, porém, se deu em 2018. Ele conseguiu aumentar os investimentos nesses fundos significativamente. No ano passado, de acordo com a sua declaração de renda, o distrital possuía R$ 6,7 milhões distribuídos em duas carteiras: Renda Fixa e Fundo de Investimento Imobiliário. Agaciel tinha finalmente subido de patamar e era o mais novo milionário da Câmara Legislativa, com R$ 8,2 milhões. Já que teve mês que o Fundo Imobiliário chegou a dar um rendimento negativo em 2014, de -3,68%, mas justamente naquele ano ele passou a ter R$ 1,1 milhão a mais