Depois que o empresário Vinicius da Costa Machado, de 43 anos, ouviu de um comandante da Polícia Militar do estado de Goiás que a boate que administra desde fevereiro deste ano na Vila João Braz, na periferia de Goiânia, não permaneceria na região, quatro operações ocorreram no estabelecimento.
Por isso, o empresário procurou a Corregedoria da Polícia Militar para denunciar que estaria sofrendo uma suposta perseguição e, os clientes, racismo. Na noite do dia 13 de setembro, cerca de 50 policiais da PM, inclusive da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), e a Força Nacional de Segurança foram mobilizados para o local antes do início do expediente. No dia seguinte ocorreria uma festa, mas foi cancelada.
Os policiais acusaram o empresário de manter um menor no espaço. Mas um vídeo (veja abaixo) mostra o suposto momento em que policiais levam o adolescente negro de 16 anos e algemado com as mãos para trás para dentro da boate. “Algemaram o jovem e outras pessoas simplesmente para constranger. Elas estavam do lado de fora porque a gente não tinha aberto ainda”, denuncia Machado ao Metrópoles. “E o menor não entraria.”
Inaugurada em fevereiro, a casa noturna é a única da região e, por isso, procurada por moradores que não conseguem pagar os valores de entrada das boates dos bairros nobres de Goiânia, onde Machado administrou boates nos últimos 10 anos.
Na avaliação do empresário, o nome da boate, “Al Capone”, irritou o comandante de área. “O nome não tem nada a ver com os criminosos italianos. É apenas um argumento para o preconceito e racismo”, diz ele, que afirma nunca ter visto tantos policiais em verificações de alvarás em boates de bairros nobres. “No meu estabelecimento no Marista [bairro central de Goiânia], por exemplo, não passava de dois carros com quatro policiais acompanhando agentes da AMA (Agência Municipal do Meio Ambiente).”
Com giroflex, viaturas sobre as calçadas e gritos para os clientes encostarem na parede com as mãos na cabeça, as ações, diz Machado, afastaram a clientela. Em uma das abordagens, o empresário conta ter ouvido ordens de policiais mandando pessoas irem embora dali. “Eu pedia para eles ficarem, até entrarem pelas portas de incêndio. Mas ficaram com medo. “As pessoas que frequentam ali são na maioria negras, pobres e carentes de lazer”, menciona.
Ele conta que a primeira vez em que os policiais entraram no lugar, o comandante da área disse que a boate não era bem-vinda. “Eles chegaram dizendo que tinha o corpo de uma criança. Não encontraram nada. O oficial ainda me disse que aquelas pessoas não tinham que estar em balada, mas trabalhando e estudando para virar doutor”, lembra.
Ainda sobre as ações, que considera injustificadas, Machado ressalta que desde quando abriu a boate não ocorreu nenhum problema. “A gente nunca teve um TCO [Termo Circunstanciado de Ocorrência], nenhuma chamada policial, ou boletim de ocorrência de furto, roubo ou briga”, defende.
Para o proprietário, a dificuldade na emissão dos documentos que atestam a regularidade do espaço é uma retaliação às alternativas de lazer na região. “Desde que ouvi as declarações do comandante, o 13º Batalhão manda órgãos de fiscalização constantemente, fazendo abordagens com até 30 policiais, que chegam até de vans. O estado está disposto a não deixar a casa noturna aberta na região”, lamenta.
Na denúncia protocolada na Corregedoria da PM goiana, o empresário afirma que “o estabelecimento está sofrendo perseguição do tenente-coronel Arantes, capitão do 13º Batalhão de Polícia Militar da Capital” e “que as abordagens estão ultrapassando o limite da legalidade”.
Por e-mail, a chefe de comunicação da Força Nacional, Inara Rodrigues, disse que “a ação faz parte das operações do plano integrado Em Frente Brasil, de combate à criminalidade violenta”.
O Em Frente Brasil é um programa piloto do governo federal, que envolve agentes de segurança federais, estaduais e municipais. Com início no último dia 30 de agosto, o projeto prevê atuação ostensiva e conjunta das forças de segurança em cinco cidades brasileiras, como Ananindeua (PA), Cariacica (ES), Paulista (PE), São José dos Pinhais (PR) e Goiânia, em Goiás.
“Se Goiânia faz parte do plano integrado, é natural que operações como essa sejam realizadas, para a segurança da população, já que a proposta é diminuir a criminalidade violenta”, disse, em nota.
Ainda segundo a assessoria de imprensa da Força Nacional, “os agentes sempre agem dentro da lei e conforme os padrões operacionais da Força Nacional. São profissionais treinados e capacitados para tal”, concluiu.
Até o fechamento desta reportagem, a assessoria de imprensa da Polícia Militar de Goiás não havia respondido aos questionamentos do Metrópoles.