Domingo, 07/12/25

Pirenópolis: moradores lutam contra padre na Justiça para manter campo de futebol de 60 anos

Reprodução

Um processo de usucapião para garantir o direito coletivo sobre o terreno, que é da paróquia, mas há anos é usado pela população

Moradores do Distrito Capela do Rio do Peixe, em Pirenópolis de Goiás, travam uma batalha judicial contra um padre para manter um campo de futebol que é tradição local há mais de 60 anos. A população conta que João Paulo, religioso responsável pela paróquia local, pretende tomar a área, considerada patrimônio cultural e ponto de encontro dos moradores há mais de seis décadas, para construir um santuário.

De acordo com a Associação de Moradores do Rio do Peixe, já foi protocolado um processo de usucapião para garantir o direito coletivo sobre o terreno, que é da paróquia, mas há anos é usado pela população. A audiência de instrução e julgamento ocorreu na última quinta-feira (2), e, segundo a defesa, as provas documentais e testemunhais fortalecem o pedido da comunidade.

“A população ocupa essa área há muitos anos. O campo tem valor cultural e histórico para o distrito”, afirmou um representante da associação.

A moradora Edvânia, que vive na região desde o nascimento, relembra que o campo foi construído pela própria comunidade. “Esse campo tem mais de 60 anos. Foi o povo que fez, com as próprias mãos. Ele sempre foi o lugar onde as crianças brincam e onde acontecem os torneios e festas do distrito”, contou. Segundo ela, o padre quer usar o espaço para construir um santuário religioso, o que tem gerado forte resistência entre a comunidade.

Edvânia também relatou que, há cerca de três anos, o padre chegou a transformar parte do campo em estacionamento durante um evento religioso, cobrando pelo uso do espaço. “A comunidade não concordou, mas ele mandou abrir o cadeado e usou o campo mesmo assim”, afirmou.

Mobilização

Representantes da associação informaram ainda que o padre teria vendido uma parte do cemitério local, também de propriedade da paróquia, o que aumentou a tensão entre os moradores. Na próxima quinta-feira (10), membros da comunidade devem se reunir com o bispo da Diocese de Anápolis para discutir o caso e pedir que a área seja preservada como patrimônio coletivo.

Outro morador, Juarez, de 52 anos, também reforçou a importância do campo de futebol para a comunidade e relatou momentos difíceis vividos recentemente. “A gente está fazendo um apelo sobre as coisas que tão acontecendo no nosso povoado, porque é triste ver tudo se desmanchando. Eu cresci aqui, fui catequizado aqui, participei de missas com fé e alegria. Mas o que estão fazendo agora não é certo. O campo foi feito pelo povo, com as próprias mãos, e é onde as crianças brincam, onde acontecem torneios, festas. É o nosso lugar. E agora ele [o padre] quer tomar pra construir outra coisa, vem com viatura, com polícia, arrombando cadeado. Criança chorando, gente desesperada”, contou.

Juarez ainda revelou que, para defender o espaço, a comunidade se organizou e arrecadou recursos próprios para entrar com ação na Justiça. “A gente fez rifa, o povo ajudou, conseguimos arrecadar R$ 10 mil para entrar com o processo. Tudo pelo campo. Isso aqui virou um desrespeito com o povo. E ainda teve o caso do cemitério. Ele vendeu uma parte do cemitério, depois tentou dizer que não, mas o povo reagiu, e ele teve que voltar atrás. Isso aqui não é terra de ninguém, é da comunidade. A gente só quer respeito”, afirmou.

Processo

O processo judicial, que corre na comarca de Pirenópolis, deve ter decisão nos próximos 15 dias. O Mais Goiás entrou em contato com a diocese responsável pela paróquia e aguarda retorno. A reportagem também não conseguiu falar com o padre citado. O espaço está aberto para manifestação.Correio de Santa Maria, com informações da Associação de Moradores do Rio do Peixe

Correio de Santa Maria, com informações da Associação de Moradores do Rio do Peixe

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