Quarta-feira, 03/12/25

Homem encapuzado ateia fogo em casa de Candomblé, em Goianira

Correio de Santa Maria - Homem encapuzado ateia fogo em casa de Candomblé, em Goianira
Homem encapuzado ateia fogo em casa de Candomblé, em Goianira | Imagem: reprodução

Homem encapuzado ateia fogo em casa de Candomblé, em Goianira

Na madrugada da última terça-feira (2/12), um homem encapuzado ateou fogo em uma casa de Candomblé, localizada no Setor Triunfo 1, em Goianira, região Metropolitana de Goiânia. Imagens de câmeras de segurança registraram o momento em que o suspeito espalha um líquido inflamável pelas instalações do terreiro, coloca fogo e foge enquanto as chamas se alastram. A ação criminosa ocorreu em Goianira.

No momento do crime, sete pessoas estavam presentes no terreiro. Assim que perceberam as chamas, todos começaram a trabalhar para conter o avanço do fogo. Ninguém ficou ferido, mas o atentado causou danos à estrutura da casa, incluindo portas, janelas, parte do teto e outros pertences.

A Polícia Militar (PMGO) foi acionada e compareceu ao imóvel, mas até o momento o suspeito não foi localizado. A Polícia Civil (PCGO) foi procurada pela reportagem e disse, apenas, que já instaurou procedimento investigatório acerca do ocorrido.

Um dos pontos a serem esclarecidos pela investigação é se o ataque ocorreu por intolerância religiosa ou se pode ter relação com um incidente anterior, envolvendo uma pessoa que foi expulsa da casa, em julho, por comportamento inadequado.

Repercussão

Em entrevista ao G1 Goiás, Max Muller Santos Rodrigues, babalorixá responsável pela Casa de Axé, falou sobre o impacto do crime. “Para mim, como sacerdote que luto todos os dias contra a intolerância, o sentimento é de impotência. Impotência de você não poder fazer nada e não poder dar um ensinamento para as pessoas do que é o respeito, que ninguém aceita”, disse.

A Casa de Axé está em funcionamento desde 2017, mas opera neste endereço há cinco anos. Max ressaltou que nunca antes a casa havia sido alvo de atos de intolerância religiosa. “Eu tenho amizade com todas as pessoas aqui do meu setor. Até as pessoas que não fazem parte da religião. Tenho uma ligação muito boa com todo mundo”.

Estado laico

O caso foi motivo de repercussão na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) na tarde da última terça-feira. Durante a reunião parlamentar, o deputado Mauro Rubem (PT) subiu à tribuna para repudiar e denunciar o ataque.

Ele lembrou que a Constituição Brasileira estabelece o país como um Estado laico e cobrou ações do poder público para combater tais práticas. “Quando a gente levanta esse debate é para dizer qual sociedade que nós queremos aqui construir. É da intolerância, da raiva, do ódio, da morte, ou uma sociedade evoluída onde as pessoas possam conviver com ideias e credos religiosos diferentes?”, ponderou.

“Precisamos tomar as devidas ações para que os responsáveis por esses atos criminosos sejam punidos”, salientou o deputado, com a afirmativa de não se tratar de um fato isolado. Rubem ainda afirmou que promoverá uma audiência pública nos próximos dias com o intuito de levantar discussões que visem à proteção de todas as religiões. “Não podemos ficar calados diante dessa barbárie”, frisou.

O que diz a lei

A legislação brasileira considera a intolerância religiosa um crime com penas de 1 a 3 anos de reclusão e multa, conforme a Lei nº 7.716/1989, conhecida como Lei de Crimes Raciais, e o Código Penal. Essa lei equipara a discriminação religiosa ao crime de racismo. Outras leis reforçam a proteção, prevendo penas mais severas para quem emprega violência ou obstar práticas religiosas, e garantindo a liberdade de crença como direito constitucional.

A lei se aplica em casos de discriminação religiosa, como impedir que uma pessoa acesse serviços públicos ou privados em razão de sua religião; ofensas e agressões, que incluem insultar, humilhar ou agredir alguém devido à sua crença; violência simbólica ou física, como a destruição de templos ou símbolos religiosos; e também em situações que envolvem a violação da liberdade religiosa, como impedir que alguém pratique sua religião, seja de forma pública ou privada.

Um homem encapuzado ateou fogo em uma casa de Candomblé em Goianira.

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