Um mês antes do acidente, fiscalização encontrou falhas graves na manutenção e na qualificação técnica da Angara Airlines
Um mês antes da queda do Antonov An-24 operado pela Angara Airlines, no extremo leste da Rússia, uma inspeção realizada no local havia identificado graves violações de segurança. A informação foi divulgada nesta sexta-feira pelo jornal Izvestia, um dia após o acidente que matou todas as 48 pessoas a bordo.
A aeronave, com 49 anos de uso, caiu enquanto se preparava para pousar, reacendendo o debate sobre a segurança de aviões antigos, da era soviética, ainda em operação. O acidente também levanta questionamentos sobre a viabilidade dessas aeronaves diante das sanções ocidentais, que dificultam o acesso a peças de reposição e novos investimentos.
Em nota, o Ministério dos Transportes da Rússia afirmou que os órgãos reguladores da aviação e dos transportes vão investigar as atividades da Angara, empresa de capital privado, para avaliar o cumprimento das normas federais antes de decidir seu futuro.
Segundo Vasily Orlov, governador da região de Amur — onde ocorreu o acidente —, os investigadores já atuam no local. Duas hipóteses principais estão sendo consideradas: falha técnica ou erro humano. As caixas-pretas do avião foram recuperadas e enviadas a Moscou para análise.
De acordo com o Izvestia, os documentos obtidos junto à companhia aérea e às agências reguladoras indicam que uma fiscalização surpresa foi realizada em junho. Nela, inspetores de segurança de transporte encontraram falhas relacionadas à manutenção da frota da Angara.
Como resultado, oito aviões da empresa foram temporariamente suspensos e quatro técnicos foram impedidos de realizar inspeções. Ainda segundo o jornal, os inspetores notaram que, em alguns casos, documentos indicavam reparos realizados por funcionários que, em outros registros, não estariam trabalhando nos dias mencionados.
Além disso, padrões e procedimentos de manutenção estariam sendo desrespeitados. Alguns funcionários não possuíam sequer as qualificações necessárias para as funções. Em um dos episódios relatados, um equipamento especial, essencial para testar o painel de controle de uma aeronave, sequer havia sido fisicamente emitido — ainda assim, constava como se o teste tivesse sido feito.
Após a inspeção, o Rostransnadzor, órgão regulador de transportes, enviou uma carta à Angara exigindo providências. “Peço-lhe que apresente um plano para corrigir as violações identificadas, um relatório sobre as razões para elas e as medidas que estão sendo tomadas para garantir que elas não ocorram”, dizia o documento, segundo o Izvestia.
Correio de Santa Maria, com informações da Agence France Presse.