O Brasil consolidou em 2024 sua posição como o principal motor do ecossistema de startups da América Latina. O país respondeu por 62% de todas as rodadas de equity realizadas na região e concentrou a maior parte das captações acima de US$ 10 milhões (R$ 53,8 milhões), e acima de US$ 50 milhões (R$ 269 milhões).
Os dados constam do levantamento “2024 in Review”, produzido pela Sling Hub em parceria com o Itaú BBA, que mapeia a recuperação do mercado após um ciclo de retração iniciado em 2022.
Rodadas de Investimento
Ainda segundo o estudo, essa predomínio também apareceu no mercado de fusões e aquisições. Das 200 operações registradas em toda a América Latina em 2024, 153 envolveram startups brasileiras. Isso significa que 77% das transações do continente ocorreram no país e que mais de 70% das empresas vendidas neste período tiveram origem no ambiente nacional.
A concentração indica maturidade crescente do ecossistema brasileiro, que se tornou referência para compradores regionais e internacionais em busca de tecnologia, tração e novas competências de produto.
Detalhes das Rodadas
O relatório destaca ainda o papel dos investidores corporativos. O volume total aportado em rodadas que contaram com pelo menos um corporate player cresceu 105% na América Latina durante 2024. No Brasil, nove rodadas superaram US$ 50 milhões (R$ 269 milhões).
Esse número representa alta de 29% sobre o ano anterior e reforça o movimento de grandes empresas que utilizam participações estratégicas para acelerar digitalização, adquirir tecnologias de base e se aproximar de áreas emergentes como deep tech, fintech e inteligência artificial.
As rodadas de primeira captação também mostraram dinâmica particular. O volume destinado às chamadas first fundraises cresceu 16% na América Latina, e 36% no Brasil. Apesar do aumento de capital, o número de startups que conseguiram captar sua primeira rodada caiu para 357 operações no continente, resultado que representou recuo de 29% em relação ao ano anterior.
O cenário sugere que o mercado está concentrando valores maiores em um número menor de empresas, elevando tíquetes médios, mas reduzindo o ritmo de novos entrantes.
Fusões e Aquisições
O comportamento do mercado de fusões e aquisições (M&A) reforça a tendência de consolidação. O relatório registra que 53% das aquisições envolveram compradores e adquiridas atuando em setores diferentes, o que indica um movimento forte de diversificação e expansão tecnológica.
As fintechs permaneceram como o segmento mais ativo entre as adquiridas, representando 20% das transações, enquanto as deep techs avançaram de forma expressiva. O crescimento das aquisições de empresas deep tech alcançou 83% em 2024 e posicionou o setor como o segundo mercado mais relevante no radar dos compradores.
A inteligência artificial ganhou protagonismo ao longo do ano e passa a aparecer como componente estruturante das maiores rodadas. A metodologia adotada pela Sling Hub em 2024 permitiu mapear com precisão startups que utilizam IA em áreas centrais da operação.
A presença da tecnologia se destacou como motor de eficiência, automação e ganho operacional. O relatório aponta que parte significativa das rodadas de grande porte envolveu empresas de deep tech e fintech com forte componente de IA, o que confirma a mudança de perfil do capital investido na região.
Setor Educacional em Destaque
O setor educacional também acompanha esse avanço. No Brasil, o TutorMundi utiliza inteligência artificial para acelerar processos de bastidores, incluindo triagem de dúvidas, revisão automática de textos e automações administrativas. Essas funcionalidades geram eficiência interna, mas a mediação pedagógica permanece integralmente a cargo de tutores humanos.
A plataforma superou 47 mil horas de monitoria em 2024 e alcançou mais de 1 milhão de atendimentos ao longo de sua trajetória. A empresa consolidou crescimento acelerado após migrar para o modelo B2B e para a operação totalmente remota.
A expansão no segmento corporativo atingiu múltiplos de duas casas decimais, impulsionada pela ampliação das disciplinas atendidas e pela adoção do benefício educacional por empresas contratantes. A companhia também recebeu aportes que fortaleceram sua capacidade operacional e sustentaram o desenvolvimento do produto.
Para o CEO, Rapha Coe, o uso de inteligência artificial exige equilíbrio entre eficiência e responsabilidade. Ele destaca que a tecnologia funciona como uma camada de suporte que libera tempo dos tutores, garantindo foco no atendimento humano.
Brasil no Protagonismo e Expectativas para 2026
O comportamento do ecossistema brasileiro influencia diretamente a dinâmica continental. Entre as dez maiores rodadas da América Latina em 2024, destacaram-se operações de centenas de milhões de dólares em fintechs, deep techs e empresas de energia.
A predominância de empresas brasileiras nessas faixas confirma que o país continua sendo o centro gravitacional do mercado regional e a principal referência de escala, volume e liquidez para investidores.
A expectativa para 2026 segue alinhada às tendências observadas. A inteligência artificial deve continuar como força estratégica nos processos de automação, eficiência e tomada de decisão.
A combinação de deep tech, aumento do interesse corporativo e consolidação de setores como educação, saúde e energia indica continuidade no ritmo de crescimento e formação de novas teses de investimento. O relatório conclui que a retomada observada em 2024 não foi pontual, mas parte de um ciclo mais amplo de reestruturação do ecossistema latino-americano com o Brasil no centro desse movimento.








