Parlamentares que estão em Washington em missão especial para tentar frear tarifaço dizem que democratas e republicanos discutem lei que pode punir países que compram produtos russos
A comitiva de senadores brasileiros que foi a Washington para tentar reverter a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre aço e alumínio do Brasil ouviu de parlamentares norte-americanos e representantes da iniciativa privada um alerta: uma nova crise comercial pode atingir o país em até 90 dias, caso avance no Congresso dos EUA uma proposta de lei que impõe sanções automáticas a países que mantêm relações comerciais com a Rússia. O aviso foi dado por parlamentares tanto do Partido Republicano quanto do Democrata.
“Há outra crise pior que pode nos atingir em 90 dias”, disse o senador Carlos Viana (Podemos-MG), ao destacar que o texto discutido no Congresso norte-americano prevê punições automáticas e legais, e não mais por decisão do Executivo. “Será uma lei americana. Os dois partidos foram claros que aprovarão essa lei”, emendou. A preocupação principal está voltada para a compra, pelo Brasil, de fertilizantes e derivados de petróleo russo, insumos importantes para o agronegócio e para o setor energético.
Segundo a senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, a insatisfação dos americanos foi manifestada abertamente nas reuniões. “Esse assunto é sensível. Eles acreditam que, ao comprar da Rússia, o Brasil dá munição para o país continuar com a guerra”, relatou. A parlamentar reforçou que essa questão deve constar no relatório oficial da missão parlamentar ao retornar ao Brasil. O senador Marcos Pontes (PL-SP) chegou a citar que uma eventual punição poderia ser de até 500% sobre produtos de países que continuarem negociando com Moscou.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), rebateu as críticas e afirmou que o Brasil compra fertilizantes por necessidade, não por escolha política. “Não está sobrando fertilizante por aí. Também, quem compra combustível não é o governo brasileiro, são empresas privadas que importam para revender internamente”, disse. Ele ponderou que a eventual aprovação de uma lei nos EUA não deve ser tratada de forma precipitada: “Primeiro, precisa chegar a lei. Segundo, a diplomacia brasileira é historicamente multilateral. Não nos alinhamos automaticamente com nenhum bloco”.
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), que lidera a missão, disse, por sua vez, que o tema será debatido nas próximas semanas com autoridades brasileiras. Uma das ideias em discussão é buscar junto aos congressistas norte-americanos uma cláusula de exceção para países que justificarem tecnicamente a importação de produtos russos. Trad avaliou ainda que a visita cumpriu seu objetivo principal: abrir diálogo com os dois partidos dos EUA para tentar adiar o início da tarifação sobre o aço e o alumínio brasileiros.
A comitiva também tenta apoio à carta que está sendo redigida pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, pedindo o adiamento da entrada em vigor da tarifa. Tereza Cristina afirmou que os senadores americanos foram acionados para reforçar politicamente o documento. “Seria muito importante a gente ter um tempo de negociação, já que o Brasil foi o único país com prazo de apenas 20 dias para responder”, frisou.
Trad evitou comentar a atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está em Washington. Nos bastidores, foi citado que agendas com parlamentares republicanos teriam sido canceladas por influência do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Correio de Santa Maria, com informações do Senador Carlos Viana (Podemos-MG) membro da comitiva que foi ao EUA