José Maria Marin esteve à frente da CBF durante os anos de 2012 e 2015, além de presidir o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014
A morte de José Maria Marin, aos 93 anos, neste domingo (20), encerra a trajetória de uma das figuras mais controversas da história recente do futebol e da política brasileira. Marin, que teve passagens por cargos como vereador, deputado, vice-governador e governador de São Paulo durante o regime militar, acumulou também momentos marcantes e polêmicos à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entre 2012 e 2015, período em que também presidiu o Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014.
Durante sua gestão, a nova sede da CBF, no Rio de Janeiro, foi inaugurada com seu nome na fachada. A homenagem, no entanto, durou pouco. Após sua prisão na Suíça em 2015 no escândalo de corrupção conhecido como Fifagate, seu nome foi discretamente retirado do prédio. Marin foi acusado pelo FBI e pelo Departamento de Justiça dos EUA de participar de um esquema que movimentou milhões de dólares em propinas e contratos irregulares ligados a competições como a Copa América e a Copa Libertadores. Foi condenado por seis crimes, incluindo lavagem de dinheiro e fraude bancária, tendo recebido, segundo os promotores, cerca de 6,5 milhões de dólares em subornos enquanto esteve no comando da CBF. Marin cumpriu parte da pena em Nova York e, posteriormente, em prisão domiciliar no Brasil, libertado por motivos de saúde durante a pandemia de COVID-19.
Ainda antes da prisão, Marin protagonizou o episódio conhecido como “a medalha no bolso”, quando foi flagrado pelas câmeras da TV colocando uma das medalhas de premiação da Copa São Paulo de Futebol Júnior em seu paletó, durante a cerimônia de entrega ao time campeão. A imagem, amplamente divulgada, virou símbolo de críticas à sua postura como dirigente.
Outro momento constrangedor ocorreu na Copa de 2014, quando o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira leu uma carta em nome de uma suposta torcedora chamada Dona Lúcia, exaltando figuras como Felipão, Parreira e o próprio Marin como “homens sérios e íntegros”. A carta foi vista como peça de propaganda e rapidamente virou alvo de deboche nas redes sociais, dando origem a uma conta satírica no Twitter, que transformava o vexame da seleção no Mundial em piada, chamando Felipão de “Mozão” e defendendo o criticado atacante Fred.
Filho de imigrante espanhol, Marin teve uma carreira política marcada por sua atuação durante a ditadura militar e por discursos duros contra a imprensa, como o proferido em 1975 contra a TV Cultura, que mais tarde foi associado ao clima de repressão que antecedeu a morte do jornalista Vladimir Herzog. Como governador, foi responsável por decretar o fim do DOPS paulista, embora sua gestão ainda tenha sido criticada por ações violentas da Polícia Militar contra opositores.
Marin morreu em São Paulo e será velado na capital paulista.
Correio de Santa Maria, com informações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)