Na aldeia Tupinambá do Acuípe de Cima, em Ilhéus (BA), a preocupação com o futuro da floresta e o acesso à água motivaram uma iniciativa inovadora. Liderados pelo cacique Alicio Francisco, 11 famílias indígenas uniram forças para obter um empréstimo de aproximadamente R$ 50 mil, destinado ao plantio de cacau geneticamente melhorado e à revitalização de áreas degradadas da Mata Atlântica.
A técnica utilizada, conhecida como cabruca, permite o cultivo do cacau sob a sombra das árvores, preservando o bioma da Mata Atlântica, um dos mais devastados do Brasil, onde restam apenas 24% da mata nativa original. O projeto visa expandir o sistema de agroflorestas, combinando diversas espécies produtivas como cacau, banana, coco, feijão e mandioca, recuperando áreas anteriormente desmatadas para pastagem.
O financiamento foi obtido através do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), uma linha de crédito governamental que oferece condições especiais, como taxas de juros reduzidas e prazos de pagamento mais longos. Para Adalberto Lopes, membro do grupo, a aprovação do empréstimo representou uma surpresa: “A gente pensava que não tinha como indígenas pegarem um projeto desse bom”.
O acesso a esse tipo de crédito rural demonstra como o financiamento climático está chegando ao campo brasileiro. Pequenos produtores e comunidades tradicionais, contudo, ainda enfrentam dificuldades para acessar esses recursos, inclusive através do Pronaf, seja por desconhecimento, falta de documentação ou compreensão das regras do programa.
Para facilitar o acesso ao crédito, o Instituto Conexões Sustentáveis (Conexsus) criou a iniciativa CredAmbiental, responsável por viabilizar o empréstimo para a comunidade Tupinambá. O projeto capacita moradores das comunidades para atuarem como “ativadores de crédito”, auxiliando os produtores na solicitação, reunindo documentos, negociando com os bancos e elaborando projetos que demonstrem a viabilidade do uso dos recursos.
Josué Castro, ativador de crédito, enfatiza a importância de desmistificar a ideia de que o crédito é um benefício governamental sem contrapartida. Ele explica que os ativadores acompanham os produtores, oferecem orientação e elaboram laudos que atestam a efetividade do crédito, garantindo que ele seja investido na atividade produtiva.
A iniciativa CredAmbiental demonstra resultados positivos, com uma taxa de adimplência de 98% entre os produtores assessorados. Atualmente, 1.054 produtores possuem empréstimos do Pronaf obtidos através da Conexsus. O governo federal também lançou o programa “Florestas Produtivas”, com o objetivo de oferecer capacitação em técnicas sustentáveis e atendimento personalizado aos produtores, desde o diagnóstico da propriedade até a elaboração do projeto de crédito.
Fonte: g1.globo.com





