Sábado, 06/09/25

jovens cobram melhorias a prefeito e viram alvo de intimação

"O que eu fiz não foi crime, nem errado. Eu não chamei ele de corrupto, não chamei de ladrão, não falei nada que denegrisse a imagem dele. Apenas cobrei o que é nosso por direito", diz Ketillyn - (crédito: Imagem da rede social)

Moradores do assentamento Margarida Alves, zona rural de Japoatã (SE), gravaram vídeo cobrando infraestrutura e foram chamados a depor após denúncia do prefeito Cláudio Dinisio. Eles recusaram proposta de retratação e denunciam tentativa de intimidação

Vídeos gravados com celular e publicados nas redes sociais por três jovens do assentamento Margarida Alves, na zona rural de Japoatã (SE), transformaram-se em caso de polícia. O conteúdo, que cobrava melhorias básicas de infraestrutura no povoado, resultou na abertura de um procedimento na Delegacia de Polícia Civil local, após o prefeito da cidade, Cláudio Dinisio Nascimento (PL), alegar ter sido ofendido nas imagens.

As gravações foram feitas por Ketillyn dos Santos, de 19 anos, ao lado dos amigos Kamilly Vitória Barros Nascimento (19) e Cleverton Nascimento Silva (20). Um dos vídeos mostra a falta de capinagem no assentamento, com o mato tomando conta dos arredores da escola e da igreja, e simula um acidente causado por um buraco na estrada. Em um velocípede, Cleverton Nascimento Silva anda pelas ruas, mostrando a dificuldade das crianças brincarem no local.

Em outra gravação, os jovens simulam um acidente, mostrando as crateras da estrada principal do assentamento. “Lá não tem uma praça, não tem uma quadra, não tem calçamento. A estrada é cheia de buracos. Não tem sequer um postinho de saúde. Tem uma casa abandonada, caindo, que era para ser um posto. Eu achei um absurdo e decidimos gravar o vídeo porque aquilo não é uma situação para acontecer”, relatou Ketillyn.

Segundo ela, a publicação foi feita há cerca de um mês. “Uma semana depois, recebemos a intimação. Fomos chamados à delegacia”, contou. A jovem diz que, ao chegarem à unidade policial, acompanhados por um advogado, souberam que o prefeito não compareceria. Em seu lugar, um advogado propôs que Ketillyn gravasse uma retratação em vídeo, pedindo desculpas, mas ela recusou.

“Queriam que eu gravasse outro vídeo me desculpando. Mas eu disse que de jeito nenhum faria isso. O que eu fiz não foi crime, nem errado. Eu não chamei ele de corrupto, não chamei de ladrão, não falei nada que denegrisse a imagem dele. Apenas cobrei o que é nosso por direito. Pelo menos mandasse uma máquina para roçar os matos”, afirmou.

A jovem relata ainda o sentimento de mal-estar diante da situação: “Eu me sinto até constrangida, sabe? Porque em vez de resolver os problemas do povoado, o prefeito chama a polícia para quem denuncia. É como se a gente tivesse feito algo errado por falar a verdade”, lamentou.

Assista ao vídeo:

Apesar da tentativa de silenciamento, os três jovens reforçam que não irão recuar. “Eles queriam que a gente ficasse com medo, mas agora é que vamos continuar mostrando o que acontece aqui. A gente só quer dignidade”, apontou Ketillyn, com o apoio dos amigos Kamilly e Cleverton.

Em nota à imprensa, a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe confirmou que instaurou procedimento após o prefeito registrar boletim de ocorrência no dia 9 de julho, alegando ter sido “publicamente injuriado”. De acordo com a delegacia, os jovens foram ouvidos com a presença de advogado e se recusaram a firmar qualquer acordo de conciliação.

O caso foi encaminhado ao Ministério Público de Sergipe (MPSE), que deverá avaliar os desdobramentos legais. A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Japoatã e com o Ministério Público, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Correio de Santa Maria, com informações da Delegacia de Polícia Civil local (ES)

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