As críticas de Coelho não surgem no vácuo. Elas se alimentam de episódios recentes que deixaram o país em alerta
A nova declaração de Sebastião Coelho, ex-desembargador e crítico frequente das decisões do Supremo, incendiou de vez o debate sobre os limites do poder judicial no Brasil. Ao afirmar que Alexandre de Moraes “não age como juiz” e que estaria ultrapassando fronteiras institucionais, Coelho vocaliza um sentimento que se espalha entre milhões de brasileiros: a sensação de que a Justiça se transformou em um ator político dominante, capaz de determinar rumos nacionais sem contraponto, sem fiscalização e sem debate público. A fala, por si só, escancara o fosso entre parte expressiva da população e a elite do Poder Judiciário, cada vez mais distante do escrutínio democrático.
As críticas de Coelho não surgem no vácuo. Elas se alimentam de episódios recentes que deixaram o país em alerta. Prisões preventivas prolongadas, censura de perfis e veículos, imposição de sigilos, decisões monocráticas que afetam processos eleitorais inteiros e intervenções diretas em discursos e opiniões reacenderam uma discussão que deveria ser central em qualquer democracia: quem vigia aqueles que vigiam a República. O problema, segundo analistas, não é apenas jurídico, mas estrutural. O STF acumulou tanto poder nos últimos anos que hoje atua simultaneamente como legislador informal, árbitro político, censor digital e moderador de conflitos nacionais. A ausência de limites formais abriu espaço para abusos percebidos e gerou uma instabilidade que contamina todo o sistema.
A fala de Coelho ecoa porque reflete uma inquietação generalizada. Parte da sociedade enxerga um tribunal que atua com mão pesada contra determinados atores políticos, especialmente figuras alinhadas à direita, enquanto demonstra tolerância com aliados ideológicos. Esse cenário produziu a sensação de seletividade, ingrediente perigoso num país já polarizado. Quando a Justiça é percebida como instrumento de uma facção, e não como guardiã imparcial da Constituição, todo o edifício democrático balança.
O impacto político é inevitável. A cada crítica, a cada decisão controversa, cresce a percepção de que o país vive uma tensão institucional constante. E, diante desse ambiente, a fala de Sebastião Coelho se torna mais do que um desabafo. Ela funciona como termômetro do que está fervendo fora das cúpulas: medo, revolta, desconfiança e a convicção crescente de que o debate sobre os limites do poder do STF deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade urgente.
Se o Brasil vai encarar esse debate com coragem ou continuar empurrando a crise para frente, ninguém sabe. O que está claro é que o silêncio já não é mais possível.
Correio de Santa Maria, com puilbicação do ex-desembargador Sebastião Coelho em redes sociais






