Ex-número dois de Torres, Fernando de Souza Oliveira afirma ter negado pedidos do então chefe à época e aponta “erro de protocolo” e “execução operacional” da PM do DF durante os ataques às sedes dos Três Poderes
Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (24/7), o delegado Fernando de Souza Oliveira, réu em ação que apura a tentativa de golpe de Estado, detalhou uma série de divergências com Anderson Torres, tanto na gestão dele no Ministério da Justiça (MJ) quanto na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP/DF).
Souza, que foi diretor de Operações do MJ e secretário-executivo na SSP/DF, disse ter negado pedido de Torres para aumentar o efetivo da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no segundo turno das eleições de 2022. Segundo o delegado, Torres solicitou o reforço da PRF para apoiar a PF devido ao baixo efetivo, mas negou que a discussão em uma reunião focada na “Operação Eleições 2022” tenha incluído o redirecionamento de policiamento para a região Nordeste.
Ele também rejeitou o pedido alegando inviabilidade financeira e a falta de indícios que justificassem os valores apresentados pelo ministro. “Se não tem dinheiro, a operação não sai do papel”, frisou.
No dia 4 de janeiro de 2023, Souza assumiu o cargo na SSP/DF, embora tivesse ficado surpreso com o convite feito pelo próprio secretário à época, Anderson Torres. “Não tinha nenhum vínculo de amizade com ele”, revelou.
Souza relatou ainda que Torres o surpreendeu novamente ao anunciar, na noite de quinta-feira, dia 5 de janeiro, que viajaria. Naquele momento, ele já estava reunido com a delegada Marília Ferreira de Alencar, que era da pasta de inteligência da Secretaria, e havia acionado a coronel Cintia Queiroz, então subsecretária de Inteligência da pasta, para a elaboração de relatórios do Plano de Ação Integrado (PAI), com o objetivo de conter as manifestações na capital federal.
O delegado chegou a sugerir que Torres cancelasse a viagem, mas o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) afirmou, na ocasião, que tinha confiança na Polícia Militar do Distrito Federal e considerou que o PAI estava bem elaborado.
Na última reunião, realizada no sábado pela manhã, no dia 6, Souza alegou que a secretaria se posicionou pela desocupação dos acampamentos golpistas em Brasília, mas que o general Dutra, comandante militar do Palácio, não autorizou devido ao fato de que pessoas em situação de vulnerabilidade estavam entre os acampados, o que poderia gerar alguma confusão sobre quais pessoas dispersar com o uso de força.
O PAI, que restringia a entrada de caravanas, a circulação de veículos na Esplanada e de pessoas na Praça dos Três Poderes, foi despachado e entregue pessoalmente a Torres no dia 6, por Souza, antes da viagem do secretário marcada para aquele mesmo dia. “O relatório trazia vários pontos relacionados a possível agressividade, ações hostis”, apontou o delegado, que questionou Torres sobre a suficiência do PAI e sugeriu que ele adiasse a viagem. Torres, contudo, assinou e homologou o relatório, mantendo a viagem, e expressou confiança na PM do DF.
Souza classificou o ocorrido em 8 de janeiro como um “erro de protocolo” e “erro de execução operacional” por parte da Polícia Militar. Ele alegou que a PM resistiu em receber apoio da Força Nacional, forneceu informações desencontradas e não atendeu ao pedido de reforço. “A polícia militar simplesmente resistiu ao comando, as sugestões. Não cumpriu nada do que foi acordado com o PAI”, concluiu o delegado.
Correio de Santa Maria, com informações da defesa do delegado Fernando de Souza