Da crise com o Judiciário à aposta em Flávio Bolsonaro, decisões estratégicas do ex-presidente são apontadas como fatores que podem facilitar um novo mandato de Lula
Opinião: Vital Furtado
Na minha opinião, Jair Bolsonaro cometeu erros graves durante o período em que ocupou o cargo de Presidente da República, erros que, somados, contribuíram de maneira direta para o enfraquecimento de seu próprio governo e de seu projeto político. Muitos desses equívocos não foram apenas administrativos, mas sobretudo estratégicos, demonstrando falhas na condução do embate institucional e político que se desenhava no país.
O primeiro grande erro, no meu entendimento, foi quando Bolsonaro recuou diante do ministro Alexandre de Moraes, ao aceitar a rejeição da nomeação de Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal. Em vez de afirmar com firmeza que quem comandava o Poder Executivo era ele, o presidente optou por baixar a cabeça e exonerar Ramagem, abrindo um precedente perigoso que enfraqueceu sua autoridade institucional.
Esse recuo representou mais do que uma simples troca de comando na Polícia Federal. Foi um sinal claro de que o Executivo aceitava ser tutelado por decisões que extrapolavam, no entendimento de muitos, os limites constitucionais. A partir dali o desequilíbrio entre os Poderes só se agravou, sem que houvesse uma reação firme por parte do governo.
O segundo erro de Bolsonaro foi não ter restringido o poder de investigação do Ministério Público. Em um país onde já existe a Polícia Civil e a Polícia Federal com atribuição legal para investigar, permitir que o Ministério Público continuasse exercendo amplos poderes investigativos contribuiu para a sobreposição de funções e para a intensificação de conflitos institucionais que, mais tarde, seriam usados politicamente.
O terceiro erro aconteceu após o dia7 de setembro de 2021. As manifestações populares gigantescas nesse dia 7, em todo o Brasil foi demonstrado forte apoio popular ao presidente, e, com todo esse apoio, Bolsonaro teve em mãos uma oportunidade histórica de liderar um movimento político decisivo. No entanto, hesitou em enfrentar o Supremo Tribunal Federal de forma institucional, deixando de avançar na proposta de transformar a Corte em um verdadeiro Tribunal Constitucional, como ocorre em diversos países e, optou por fazer carta para a nação, aconselhado pelo maquiavélico Michel Temer, criador do ditador Alexandre de Moraes.
Essa hesitação custou caro. O recuo naquele momento sinalizou fragilidade política e deu novo fôlego aos seus adversários. A partir daí, o governo passou a ser ainda mais pressionado, enquanto o apoio popular, apesar de ainda expressivo, começou a se dispersar diante da falta de respostas firmes.
Agora, entretanto, Bolsonaro parece cometer, na minha visão, o erro mais grave de todos. Ao indicar Flávio Bolsonaro como candidato à Presidência da República em 2026, ele abre caminho, de forma quase inevitável, para um quarto mandato de Lula. Trata-se de uma leitura política equivocada, que ignora completamente o cenário real de disputa.
Flávio Bolsonaro não possui a mesma força eleitoral, o mesmo carisma nem a mesma capacidade de mobilização do eleitorado conservador que o pai ainda detém. Insistir em Flávio Bolsonaro é dividir a direita, enfraquecer a oposição e facilitar a vitória do campo adversário nas próximas eleições.
Por isso, é necessário dizer com clareza: Bolsonaro precisa acordar para a realidade política. O nome capaz de unificar, competir de verdade e enfrentar Lula nas urnas é Tarcísio de Freitas. Qualquer outro caminho, especialmente o da candidatura de Flávio, tende a ser um erro estratégico que pode custar caro ao futuro da direita no Brasil.
Vamos refletir e voltar atrás enquanto ainda é tempo!
Correio de Santa Maria- Redação








