Ícone da MPB, Jards Macalé morre no Rio de Janeiro aos 82 anos. A notícia do falecimento do cantor e compositor foi divulgada em seu perfil oficial no Instagram, informando que ele havia passado por uma cirurgia recentemente.
A causa oficial da morte não foi revelada, mas informações preliminares indicam que o artista estava internado em um hospital carioca para tratar um enfisema pulmonar e sofreu uma parada cardíaca.
A publicação nas redes sociais do artista destaca sua alegria e energia mesmo após a cirurgia: “Jards Macalé nos deixou hoje. Chegou a acordar de uma cirurgia cantando ‘Meu Nome é Gal’, com toda a energia e bom humor que sempre teve. Cante, cante, cante. É assim que sempre lembraremos do nosso mestre, professor e farol de liberdade. Agradecemos, desde já, o carinho o amor e a admiração de todos. Em breve informaremos detalhes sobre o funeral”. A mensagem encerra com uma citação do próprio Macalé: “Nessa soma de todas as coisas, o que sobra é a arte. Eu não quero mais ser moderno, quero ser eterno.”
Jards Macalé iniciou sua trajetória musical na década de 1960, no Rio de Janeiro, dedicando-se ao estudo de teoria musical e violão erudito. Sua formação foi enriquecida pelo contato com figuras importantes como o maestro Guerra-Peixe, que influenciaram sua abordagem experimental e inovadora na música.
No início de sua carreira, Macalé frequentou rodas de samba, bares boêmios e o ambiente artístico da zona sul carioca, onde conheceu parceiros cruciais para sua trajetória. Entre eles, os poetas Torquato Neto e Waly Salomão, que se tornariam colaboradores frequentes.
Macalé teve um papel fundamental no disco “Transa” de Caetano Veloso, sendo responsável pela direção musical do álbum gravado em Londres, durante o exílio de Caetano. Além de dirigir, Macalé também tocou violão no disco, que foi essencial para Caetano superar um período difícil.
Em 1971, Gal Costa incluiu três composições de Jards Macalé em seu show “Fa-tal”, que se tornaram sucessos: “Vapor Barato” e “Mal Secreto”, ambas em parceria com Wally Salomão, e “Hotel das Estrelas”, com Duda.
Em 1972, lançou seu álbum homônimo, considerado um dos mais importantes de sua carreira. Além das músicas já consagradas na voz de Gal Costa, o álbum incluiu “Farinha do Desprezo” e “Movimento dos Barcos”, ambas compostas com o poeta Capinam. Macalé sempre afirmou que não tinha a intenção de ser cantor, tendo sido convencido por Wally Salomão a interpretar suas próprias canções.
Em 1974, lançou “Aprender a Nadar”, com destaque para a faixa “Anjo Exterminado”, parceria com Wally Salomão, que ironizava a fama de “poetas malditos” da música brasileira.
Em entrevista em 2023, Macalé falou sobre a persistência em rotulá-lo como um compositor de músicas “difíceis”, situando-o em um “purgatório” da música brasileira. “Eu fiquei nesse purgatório durante muitos anos. Era difícil gravar, mas eu insistia. Mostrei que minha música é acessível a todos”, declarou.
Em meados de 2023, Macalé lançou “Coração Bifurcado”, seu 13º álbum, com participações de Maria Bethânia e Ná Ozetti, dedicado à cantora Gal Costa. Nos shows de lançamento do disco, Macalé fez questão de formar uma banda exclusivamente com mulheres, denominada As Macaléias. “A mulher é o símbolo do amor. Ela tem o poder de dar a vida a alguém, mesmo para aqueles que nem pediram para nascer, mas que terão a chance de conhecer a vida”, disse o compositor à época.
Em novembro de 2023, foi revelado que uma parceria inédita entre Macalé e Caetano Veloso, a canção “Corta Essa”, feita durante o período do álbum “Transa”, permanecia desconhecida do público.
O músico tinha shows marcados para dezembro, incluindo uma apresentação no Rio de Janeiro e uma participação como convidado em um show da banda Abayomy Afrobeat, ao lado de Ney Matogrosso.
Fonte: www.infomoney.com.br





