Sábado, 06/09/25

Chefe de telecomunicações da ONU afirma que é urgente um ‘ enfoque global’ para regular a IA

A Secretária-Geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT) — Foto: Fabrice COFFRINI / AFP

Ela abordou o tema após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentar uma estratégia agressiva de baixa regulação para garantir que os EUA tenham vantagem sobre a China no campo da IA

O mundo precisa formular urgentemente uma abordagem global para regular a inteligência artificial (IA), declarou a diretora da agência da ONU para Telecomunicações, alertando que uma fragmentação pode aprofundar os riscos e desigualdades. Doreen Bogdan-Martin, secretária-geral da União Internacional de Telecomunicações (UIT), afirmou à AFP que espera que a IA “possa realmente beneficiar a humanidade”.

Mas, diante do crescimento dos riscos apresentados por essa tecnologia em rápida evolução — incluindo o temor de perda de empregos, disseminação de notícias falsas e desinformação, e o enfraquecimento do tecido social — ela insistiu que a regulamentação é essencial.

“É urgente tentar (…) estabelecer o marco regulatório adequado”, declarou, enfatizando a necessidade de “uma abordagem global”.

Ela abordou o tema após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentar uma estratégia agressiva de baixa regulação para garantir que os EUA tenham vantagem sobre a China no campo da IA.

O plano de Trump contempla uma ampla desregulamentação, com a promessa de “eliminar a burocracia e as regulamentações onerosas” que possam frear o desenvolvimento da IA no setor privado.

Ao ser questionada se uma estratégia de menor regulação da IA a preocupa, Bogdan-Martin limitou-se a dizer que ainda está “tentando digerir” o plano dos Estados Unidos.

“Crítico”

“Acho que há diferentes abordagens”, comentou. “Temos a abordagem da União Europeia. Temos a abordagem chinesa. Agora estamos vendo a abordagem norte-americana”, apontou.

Para Bogdan-Martin, é fundamental que haja um diálogo entre essas diferentes estratégias. Ao mesmo tempo, a alta funcionária disse que “85% dos países não têm políticas ou estratégias de IA”.

 Um ponto comum entre as estratégias existentes é o foco na inovação, na criação de capacidades ampliadas e no investimento em infraestrutura, explicou Bogdan-Martin. “Acho que o debate precisa ocorrer em nível global, para tentar definir quanta ou quão pouca regulação é necessária”, sustentou.

Bogdan-Martin, com mais de três décadas na UIT, assegura que a agência de telecomunicações sediada em Genebra está em posição de ajudar a facilitar esse diálogo.

Após insistir na necessidade de uma abordagem global, advertiu que “abordagens fragmentadas não ajudarão a atender e alcançar a todos”.

Países e empresas correm para consolidar seu domínio nesse setor em expansão, mas existem preocupações de que as precauções sejam ignoradas e de que aqueles que ficarem para trás ou não tenham capacidade de participar serão deixados de lado.

“Enorme desigualdade”

A chefe da UIT destacou os avanços da inteligência artificial, que têm o potencial de melhorar tudo — da educação à agricultura e à saúde —, mas insistiu que os benefícios devem ser compartilhados.

 Sem um esforço coordenado, há o risco de que a IA acabe sendo sinônimo de “ampliação das desigualdades”, alertou.

“Temos 2,6 bilhões de pessoas que não têm acesso à internet, o que significa que não têm acesso à inteligência artificial”, apontou. “Precisamos enfrentar essas desigualdades se realmente quisermos algo que beneficie toda a humanidade.”

Bogdan-Martin, a primeira mulher a dirigir a UIT, defendeu a necessidade de incluir mais mulheres no espaço digital. “Temos uma enorme lacuna”, afirmou. “Definitivamente, não temos mulheres suficientes (…) na inteligência artificial.”

A alta funcionária, de 59 anos e mãe de quatro filhos, considerou “uma grande honra” ser a primeira mulher em seu cargo, mas reconheceu que há muita pressão “não só por alcançar resultados, mas por quase superar as expectativas”.

Bogdan-Martin, que conta com o apoio do governo Trump para sua reeleição ao final de seu mandato de quatro anos, em 2026, afirma estar disposta a continuar no cargo. “Há muito o que fazer”, afirmou.

Correio de Santa Maria, com informações da AFP

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