Os Estados Unidos ampliam a pressão contra o Brasil e consideram atingir um dos principais generais do país, após já imporem sanções duras a ministros e autoridades, criando um cenário de tensão diplomática e risco para cooperação militar estratégica.
EUA avaliam sanção inédita contra comandante do Exército brasileiro e coloca em risco a relação histórica entre Washington e as Forças Armadas
Poucas vezes a diplomacia entre Brasil e Estados Unidos atravessou momentos de tensão tão delicados quanto o atual.
Embora os dois países mantenham uma longa tradição de cooperação militar e estratégica, o cenário internacional de 2025 tem mostrado como alianças históricas podem ser colocadas à prova diante de crises políticas internas.
Um dos episódios mais recentes envolve o nome do comandante do Exército Brasileiro, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, que entrou no radar do governo norte-americano.
Os Estados Unidos estudam revogar o visto do general Tomás, medida que simbolizaria uma das maiores ofensivas diplomáticas contra um alto oficial brasileiro em décadas.
Segundo informações, a avaliação foi motivada por suspeitas de alinhamento entre o general e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Para a Casa Branca, haveria sinais de que decisões do magistrado — algumas delas diretamente relacionadas a militares investigados — contariam com respaldo prévio da cúpula do Exército.
Um novo capítulo na tensão diplomática
O Departamento de Estado dos EUA mapeou um histórico de encontros entre Moraes e o comandante do Exército.
Esse levantamento teria sustentado a hipótese de que Tomás funcionaria como um canal de comunicação e apoio às medidas adotadas pelo STF contra figuras ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ofensiva ocorre em um contexto mais amplo de sanções.
Na mesma semana, o governo de Donald Trump decidiu revogar o visto de sete autoridades brasileiras, incluindo integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O nome de Tomás aparece agora como possível alvo de um pacote adicional, o que aumentaria ainda mais a tensão diplomática entre Washington e Brasília.
A medida poderia comprometer acordos de cooperação militar, como programas de treinamento conjunto, transferência de tecnologia e negociações sobre equipamentos de defesa.
Historicamente, as Forças Armadas brasileiras sempre cultivaram um relacionamento próximo com os EUA, e qualquer ruptura nesse canal seria inédita no período democrático recente.
Outras sanções contra autoridades brasileiras
Além da possível medida contra o general Tomás, os Estados Unidos já aplicaram sanções diretas a autoridades de alto escalão brasileiras.
Nos últimos meses, nomes de peso como o ministro Alexandre de Moraes entraram na lista de restrições, assim como integrantes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e assessores próximos ao presidente Lula.
Essas ações incluíram a revogação de vistos diplomáticos e pessoais, além do monitoramento de transações financeiras em solo norte-americano.
O objetivo declarado por Washington é aumentar a pressão política e sinalizar descontentamento com decisões do Judiciário e ações do governo brasileiro.
Esse movimento amplia a percepção de que o relacionamento bilateral entrou em uma fase de desconfiança mútua, diferente da cooperação estratégica vista em décadas anteriores.
Repercussão dentro do Exército
O general Tomás preferiu não se pronunciar oficialmente sobre o caso.
Entretanto, generais próximos ao comandante avaliaram que uma ofensiva norte-americana contra o chefe do Exército representaria um “tiro no pé”, pois fragilizaria canais de diálogo que há décadas sustentam a confiança bilateral.
A percepção interna é de que medidas punitivas contra militares de alta patente não costumam surtir efeito político imediato.
Segundo um noticioso local, um integrante do governo Trump reconheceu que as sanções dificilmente alterariam a postura do presidente Lula ou dos ministros do STF, mas garantiu que ainda assim o pacote de punições continuará sendo ampliado.
Conversas reveladas e conexões políticas
O nome de Tomás também surgiu em um episódio paralelo, ligado às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado.
Ele foi mencionado em mensagens atribuídas ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, durante uma conversa com o advogado Eduardo Kuntz.
No diálogo, revelado a partir de uma delação premiada, Cid afirmou que o comandante do Exército teria relatado a um colega general que Moraes se queixava de Bolsonaro em reuniões privadas.
Esse detalhe adiciona mais camadas ao imbróglio, pois conecta a figura de Tomás tanto às tensões do Judiciário quanto às pressões internacionais.
Ainda que não existam provas conclusivas, a simples menção do comandante em diálogos relacionados ao caso já é suficiente para alimentar suspeitas no cenário político e diplomático.
O impacto histórico de uma possível revogação
Raramente os EUA impõem medidas tão duras a oficiais de países aliados.
Em outros contextos, como nas sanções contra militares venezuelanos ou nicaraguenses, as punições vieram acompanhadas de isolamento diplomático e restrições econômicas.
No caso brasileiro, a situação é inédita e poderia marcar um divisor de águas na relação bilateral.
A eventual perda do visto norte-americano não teria efeito prático imediato na carreira de Tomás dentro do Brasil.
Porém, simbolicamente, a sanção representaria uma desconfiança direta de Washington em relação à condução da cúpula do Exército, algo sem precedentes desde a redemocratização.
Expectativas para os próximos passos
Até o momento, o Palácio do Planalto tem evitado comentar publicamente a possibilidade de novas sanções, adotando um tom cauteloso para não ampliar a crise.
O Ministério da Defesa também não emitiu nota oficial.
Nos bastidores, a ordem é aguardar a confirmação de medidas por parte do governo norte-americano antes de reagir oficialmente.
Enquanto isso, diplomatas brasileiros tentam manter abertos os canais de diálogo com Washington para evitar que a crise avance para outros setores estratégicos.
Correio de Santa Maria, com informações do Departamento de Estado dos EUA