Terça-feira, 23/12/25

Familiares de presos fazem curso de formação jurídica para entender direitos

Familiares de presos fazem curso de formação jurídica para entender direitos
Familiares de presos fazem curso de formação jurídica para entender – Reprodução

Cláudia participou de um curso de formação jurídica para familiares de presos no Rio de Janeiro. Sentiu-se encorajada e se inscreveu na graduação de serviço social. O caso de Cláudia chamou atenção de Késsia Gomes, uma das organizadoras do “Guerreiras pelo Desencarceramento”.

O projeto, realizado pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião), consiste em oferecer curso de formação jurídica e política para que familiares aprendam sobre os direitos de quem cumpre pena e as regras do processo penal.

O projeto se concentra em mulheres, gênero que é a maioria no suporte e visita aos presos —mães, esposas, filhas e irmãs. Iniciado em 2022, o “Guerreiras pelo Desencarceramento” atua em ciclos pelo interior do Rio e da capital.

“Ao contrário do que o Estado pensa, elas se interessam muito, sempre querem saber mais. São super participativas, perguntam, pesquisam, voltam para a gente com questões que, às vezes, a gente nem sabe responder”, afirma Ane Rocha, outra organizadora.

Entre adultos, o sistema prisional do Rio possui 45.692 pessoas e pouco mais de 28 mil vagas.

“A gente começa discutindo o que é prisão em flagrante e quais são os direitos da pessoa, o que é a inviolabilidade do lar, tema fundamental para essas pessoas que são invadidas nas suas casas. Usamos casos concretos e falamos desde a abordagem policial até a prisão, passando pelo sistema prisional e os direitos de quem está privado, afirma Késsia Gomes.

Elas também aprendem sobre a função de cada órgão —a atuação da Defensoria Pública, suas possibilidades e limites, e a atribuição do Ministério Público.

“Os encontros são mensais e sempre nas reuniões seguintes temos relatos de pessoas dizendo como passaram a reagir e a impor seus direitos, inclusive coletivamente, porque há pessoas que vivem na linha tênue da violação. Mas a gente sempre preza pela segurança”, diz Késsia.

O curso de formação vigente foca nas famílias de adolescentes que cumprem medidas socioeducativas.

No caso deles, as famílias são ensinadas sobre o que é permitido e proibido nas abordagens: adolescentes não podem ser algemados e as conduções à delegacia precisam ser acompanhadas de conselheiros tutelares.

Em 2024, 4.919 crianças e adolescentes foram apreendidos por suspeita de atos infracionais; 2.224 estiveram em internação provisória, 877 em internação e 1.279 em semiliberdade, segundo dados internos do governo estadual.

Na quarta (10), o Tribunal de Justiça do Rio determinou que o estado adote uma série de medidas para corrigir o que considerou como violações de direitos no principal centro de socioeducação para crianças e adolescentes, o Dom Bosco, sob gestão do Degase (Departamento Geral de Ações Socioducativas).

Relatórios técnicos apontam superlotação, condições inadequadas de higiene, falhas estruturais e ausência de protocolos de saúde mental. O juiz pede a redução do número de adolescentes para até três por alojamento e o fechamento de algumas unidades.

Três dias antes da decisão, no domingo (7), 14 adolescentes alojados na unidade socioeducativa Dom Bosco, na Ilha do Governador, haviam fugido após rebelião.

T LB

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