Sábado, 02/08/25

L’ÉTAT C’EST MOI (O Estado sou eu)

Depois de ignorar as sanções, Moraes confirma que se considera acima da Lei

Por Vital Furtado

Não duvide que a escultura da Justiça Cega, símbolo de imparcialidade e equilíbrio, que hoje se ergue em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), seja um dia retirada para dar lugar à estátua de um novo ícone: o semideus Alexandre de Moraes. Em um cenário político e jurídico marcado por decisões polêmicas e interpretações flexíveis da lei, a figura do ministro parece, para muitos, representar de forma mais fiel o espírito da justiça que impera no Brasil atual — uma justiça não mais cega, mas seletiva.

Para oito dos onze ministros que compõem a mais alta corte do país, Alexandre de Moraes encarna a firmeza, a coragem e, sobretudo, a visão de mundo necessária para “proteger” a democracia. No entanto, para outros setores da sociedade, essa mesma postura é vista como uma perigosa centralização de poder, que substitui o debate jurídico equilibrado por decisões monocráticas e interpretações extensivas das leis e da Constituição.

A estátua da Justiça Cega carrega um significado universal: a venda nos olhos representa a imparcialidade, a espada simboliza a força da lei e a balança, o equilíbrio entre as partes. Mas no Brasil, o simbolismo dessa venda parece estar desgastado. Em seu lugar, surge uma imagem de justiça que enxerga muito bem — e que sabe exatamente a quem punir e a quem poupar. É nesse contexto que a ideia de uma nova escultura, exaltando um ministro específico, deixa de soar como mera ironia e passa a ser uma metáfora inquietante.

Essa mudança simbólica, ainda que hipotética, refletiria uma transformação mais profunda: a substituição da justiça como instituição impessoal pela justiça personalizada, encarnada em um indivíduo. Uma nação que ergue monumentos a figuras vivas do poder judiciário corre o risco de confundir Estado de Direito com culto à personalidade, enfraquecendo a separação entre poderes e a confiança nas instituições.

Os defensores de Moraes afirmam que ele apenas reage a ameaças concretas à democracia e que sua postura firme é necessária diante do avanço de discursos e ações antidemocráticas. Já seus críticos sustentam que o combate ao autoritarismo não pode ser feito por meio de métodos igualmente autoritários, sob pena de se trocar um mal por outro. A justiça, lembram, deve ser equilibrada e imparcial — ou deixará de ser justiça.

Se um dia a Justiça Cega for retirada de sua posição histórica para dar lugar à escultura de Alexandre de Moraes, não será apenas uma troca de monumentos. Será o retrato de um Brasil que trocou a imparcialidade pela centralização de poder, e a venda nos olhos pela visão seletiva. E, quando isso acontecer, não será por acaso, mas por escolha — a escolha de qual justiça queremos ver erguida no centro do poder.

Não duvide que a escultura da Justiça Cega, em frente ao STF, seja retirada e substituída pela do semideus Alexandre de Moraes, que no entender de 8 ministros da corte, exprime mais apropriadamente o espírito da justiça imperante no Brasil.

Correio de Santa Maria – Opinião

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