A base de dados de um site neonazista chamado Iron March, extinto em 2017, foi vazada anonimamente no início desta semana. Entre os 1.207 usuários registrados no fórum, ao menos 13 são brasileiros. O portal ficou mundialmente conhecido por ter ligações com o grupo neonazista americano Atomwaffen Division, que seria responsável por assassinatos e por planejar atentados terroristas.
Para identificar possíveis usuários do Brasil, o (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, buscou por endereços IP nacionais – uma sequência de números que indica de onde um dispositivo está se conectando à internet. Para confirmar a localização, já que existem diversos meios de camuflar o identificador, a reportagem rastreou as mensagens postadas por esses usuários e, além disso, entrou em contato com cada um. Em todos os casos, foi possível confirmar a nacionalidade.
Supondo que a localização do IP corresponda ao local exato onde a pessoa morava no Brasil à época: cinco seriam do Paraná; quatro, de São Paulo; e haveria um do Distrito Federal, um do Rio Grande do Sul, um do Rio de Janeiro e um do Mato Grosso do Sul.
O brasileiro mais ativo no site era identificado como Spook Hunter. À época da primeira postagem, em 2012, ele afirmou ter 15 anos e se descreveu como “secessionista racial”. “Eu vivo em um país multiétnico, e nossa identidade cultural está muito danificada por isso. Eu penso que asiáticos são tão capazes quanto brancos, mas africanos e nossos nativos são ‘retardados’”, escreveu. Outro, chamado Steinkopf, defendeu o Apartheid. Em 11 de março de 2013, disse que “foi a melhor coisa que aconteceu na África do Sul, não só para os brancos mas também para os negros”.
Em conversa com o Metrópoles, um dos usuários, que pediu anonimato, explicou que o Iron March disponibilizava livros e material de extrema-direita como forma de atrair pessoas. “Mantinha projetos de divulgação do fascismo, como um repositório de livros/ensaios/textos fascistas clássicos, uma zine chamada NOOSE e um projeto que trazia explicações resumidas da cosmovisão fascista por meio de imagens (o dono do Iron March, Alexander Slavros, era designer e focava esse tipo de divulgação)”, afirmou. O perfil dos internautas, prosseguiu, era de “homens jovens decepcionados com o mundo progressista e que se sentiam ameaçados com as mudanças demográficas e socioculturais que as sociedades estão sofrendo”. Ele tinha 16 anos quando se registrou no site.
Até a publicação da reportagem, outros três ex-membros se manifestaram. Dois disseram que se registraram no Iron March apenas por curiosidade e negaram serem nazistas. Um outro declarou ter se distanciando de ideologias extremistas desde então. Em comum, afirmaram que chegaram ao site quando buscavam na internet informações sobre valores extremistas de direita.