O covil de Ali Babá e a Suprema Casa da Mãe Joana entram de férias escolares, como se o país estivesse vivendo um ciclo virtuoso e voando em céu de Brigadeiro.
Antes, conseguiram escrever mais dois ardilosos capítulos da sua luta desesperada pela impunidade: o pacote anticrime e a prisão após condenação em 2ª instância.
São os bombeiros da cidade de Pompeia, sustentados regiamente pela população, entrando em férias coletivas em plena erupção do Monte Vesúvio. Não estão nem aí.
Na Câmara dos Deputados, aqueles que ainda faziam o discurso hipócrita contra a corrupção tiraram as máscaras e votaram contra o povo; 408 votos contra apenas 9, dilacerando o projeto anticrime do governo.
Aquela é uma casa povoada de bandidos mais perigosos que as nossas penitenciárias. Talvez pudesse ser erguida muralha ao seu redor, de onde só poderiam sair alguns, ainda assim com tornozeleiras eletrônicas.
Amanhã, juntamente com seus comparsas do Senado e do Judiciário, receberão o super indulto de Natal, disfarçado de recesso, com dois meses de duração.
A estratégia de autodefesa por eles arquitetada evidenciou-se com uma sórdida manobra dos Deputados, há mais de dois anos, aproveitando-se do desvio de atenção e da consternação do País com a tragédia aérea que vitimou a equipe da Chapecoense, no dia 28 de novembro de 2017 para, na calada da noite, como ratos de armazém, sabotarem o projeto das 10 medidas contra a corrupção, reduzindo-as a apenas 4.
Exigidas por mais de 2 milhões de brasileiros, as “dez medidas contra a corrupção e demais crimes contra o patrimônio público e o combate ao enriquecimento ilícito de agentes públicos”, estavam assim descritas:
1 - Prevenção à corrupção, transparência e proteção à fonte de informação;
2 - Criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos;
3 - Aumento das penas e crime hediondo para corrupção de altos valores;
4 - Aumento da eficiência e da justiça dos recursos no processo penal;
5 - Celeridade nas ações de improbidade administrativa;
6 - Reforma no sistema de prescrição penal;
7 - Ajustes nas nulidades penais;
8 - Responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa dois;
9 - Prisão preventiva para evitar a dissipação do dinheiro desviado; e
10 - Recuperação do lucro derivado do crime.
Em seguida, no Senado, o presidente multi denunciado Renan “Calhorda”, hoje parte do baixo clero, mostrando mais uma vez a canalhice e desfaçatez que o caracteriza, tentou votar um requerimento de regime de urgência para aprovar o projeto desfigurado na câmara, mas o receio da reação das ruas não permitiu.
Com a tenacidade que lhe é peculiar na luta contra o crime, o Ministro Sérgio Moro, alinhado com o clamor popular, encaminhou um novo Projeto de Lei, cujo codinome “anticrime” deve ter sido a senha para a bandidagem da Câmara rechaçá-lo.
Foi, mais uma vez, derrotado o exército de Brancaleone, composto de filhos trapalhões, gurus incendiários e congressistas travestidos de “base parlamentar”, formada de políticos oportunistas que surfaram no tsunami Bolsonaro, mas que rapidamente trocaram seus discursos de campanha pelo jogo de interesses que reina naquele antro de aproveitadores e semianalfabetos, cujos únicos objetivos são garantir reeleições e locupletar-se em seu mandatos improdutivos.
Assim tem sido em todas as matérias importantes enviadas pelo governo ao Congresso: aprovam um produto meia-bomba, desidratado, evitando que seja alcançado o resultado almejado e ainda posam de protagonistas e salvadores da pátria.
Protagonismo real deveriam exercer, corrigindo o abominável cambalacho protagonizado pela Suprema Corte, mudando mais uma vez o entendimento sobre a prisão após condenação em 2ª instância.
Em vez disso, assistimos a outra manobra indecente entre a câmara e o senado, do tipo “deixa que eu deixo”, empurrando rumo às eleições de 2020 os atos necessários à correção da falcatrua do STF, permitindo assim que Lula e José Dirceu possam comandar livremente a campanha da esquerda para as eleições de prefeitos e vereadores, tentando evitar que o PT perca mais uma parte das poucas prefeituras que ainda lhe restaram, após a retumbante derrota de 2016, quando já era um partido agonizante.
Os presidentes das duas casas agarram-se com unhas e dentes às nuances dos seus Regimentos Internos para evitar que os dois dispositivos, expressão máxima da luta contra a corrupção, possam progredir. Por que seria?
A teia de autoproteção tramada em conjunto pelas duas cabeças da sucuri vai-se tornando cada vez mais difícil de ser desbaratada, já que o Poder Executivo sequer cogita de aplicar o antídoto de que dispõe e a sociedade está perdendo o ânimo e a esperança de que os protestos, cada vez mais vazios e sem entusiasmo, possam surtir algum efeito para inibir os políticos e magistrados comprometidos com o crime institucionalizado.
BRASIL ACIMA DE TUDO, DEUS ACIMA DE TODOS.