Com o retorno dos trabalhos da Câmara Legislativa (CLDF) marcado para 3 de fevereiro, o governador Ibaneis Rocha (MDB) poderá sentir se as recentes arrumações na estrutura do Governo do Distrito Federal (GDF) para acomodar aliados políticos surtirão efeito.
O novo cenário é resultado de articulações do titular do Palácio do Buriti, que, desde o fim de 2019, tem feito trocas nos primeiro e segundo escalões para ter mais facilidade na aprovação de projetos considerados importantes pelo Executivo local.
Dos 24 deputados, apenas cinco se declaram opositores à atual gestão do Governo do Distrito Federal (GDF): os deputados Chico Vigilante (PT), Reginaldo Veras (PDT), Arlete Sampaio (PT), Leandro Grass (Rede) e Fábio Felix (PSol). Mesmo sem se declarar do grupo, a deputada Júlia Lucy (Novo) também mantém um tom crítico à gestão do emedebista.
Por outro lado, votos considerados voláteis passaram a ter mais atenção do chefe do Executivo, em especial durante o período do recesso da Câmara Legislativa.
Para agradar a bancada da Segurança, por exemplo, houve mudança nas cúpulas do Corpo de Bombeiros (CBMDF) e da Polícia Militar (PMDF). No caso dos bombeiros, o atual comandante-geral, Lisandro Paixão dos Santos, teve a chancela do deputado Roosevelt Vilela (PSB). A movimentação ajuda o Palácio do Buriti a fidelizar o voto do socialista.
Também houve mudanças no DF-Legal, antiga Agência de Fiscalização (Agefis). No lugar de Georgeano Trigueiro, assumiu Gutemberg Tosatte. Auditor fiscal de obras, Tosatte é servidor de carreira do DF Legal e tem ligação com o distrital João Cardoso (Avante), de quem era assessor na Câmara Legislativa. O partido é o mesmo do vice-governador Paco Britto.
Na Secretaria de Trabalho, até então comandada por um interino, Thales Mendes Ferreira foi nomeado para chefiar a pasta. Desde o início da atual gestão, ele era superintendente do Arquivo Público (APDF). Embora seja conhecido por ter trabalhado em diferentes gestões, a indicação do servidor é atribuída ao deputado Robério Negreiros (PSD). O parlamentar, contudo, nega.
Outra mudança prevista é na Administração de Águas Claras. O atual administrador, Ney Robsthon, daria espaço ao empresário Francisco de Assis da Silva, mais conhecido como “Chicão”.
Ele é aliado político do distrital Agaciel Maia (PL). Embora o Palácio do Buriti tenha confirmado a edição do decreto, até a publicação desta matéria, não havia saído no Diário Oficial (DODF).
Embora negue indicações na Administração Regional de Samambaia, Jorge Vianna (Podemos) acabou tendo de se explicar sobre funções comissionadas no órgão por parentes diretos do parlamentar.
Segundo a denúncia feita ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), haveria, pelo menos, sete familiares do deputado no órgão e um no Complexo Cultural de Samambaia. Vianna confirmou ao Metrópoles ter vínculo familiar com apenas três.
As mudanças miram principalmente o chamado blocão, atualmente formado por sete distritais e considerado o maior colegiado de parlamentares da CLDF.
Apesar de todos terem o histórico de votar em sintonia com o Buriti, os parlamentares beneficiados são considerados, pelo governo,“independentes”, o que dificultava o trabalho de articuladores nas constantes contas sobre a possibilidade ou não de aprovação de medidas enviadas para a Câmara Legislativa.
As recentes mudanças tentam reduzir o tom crítico ao governo de Ibaneis pela falta de espaço nos cargos estratégicos da estrutura do GDF.
Mesmo com o cálculo de 18 votos possíveis, o governo tenta moderar o tom sobre a base com o objetivo de não intimidar novas adesões de deputados que preferem ser classificados como “independentes”.
O chefe da articulação parlamentar do Palácio do Buriti, Bispo Renato, costuma minimizar as contas para aprovação da pauta do Executivo. “Essa questão de base é muito ultrapassada. Hoje em dia, nosso papel é trabalhar com a coletividade, com a participação de todos os interessados em deixar sua marca na melhoria das matérias a serem votadas”, explica Bispo Renato.
Apesar do discurso moderado, as novas adesões chegam no momento em que a pauta do governo na Câmara Legislativa deve ser turbinada com projetos considerados de grande importância para o Buriti.
Entre eles, a eleição direta para administradores. “Estamos trabalhando para não haver imposição do palácio, mas um resultado participativo dos deputados distritais”, disse o articulador do Buriti na CLDF.