Não há dúvidas sobre a competência do Santo Padre à frente de 1,6 bilhão de fieis espalhados pelo mundo. Ele trouxe um certo frescor às dioceses sob seu comando. E não deixa para trás qualquer oportunidade de ficar bem na fita. O mercado mundial da fé é representado por 16% de católicos. Consta do Annuarium Statisticum Ecclesiae, publicação do Vaticano, uma interessante movimentação desse público entre continentes nas últimas décadas.
Especialistas mais pragmáticos entendem que a redução de praticantes e não praticantes declarados católicos, como aconteceu na Europa e na América do Norte, decorre da diminuição – ou sensação dela – do principal insumo que atrai fieis: o sofrimento.
Para fundamentar a tese, exibem o fato de que na América do Norte os católicos representam hoje apenas 24,7%, enquanto que na América do Sul, onde prevalece um perfil de vida venezuelana, muito sofrida, o índice é de 86,6%.
No Brasil a população católica vem diminuindo (-1% a.a), enquanto a nação evangélica está crescendo (0,7% a.a) e deverá superar os seguidores do Papa em 2022, segundo o estatístico José Eustáquio Alves, doutor em demografia.
A última do Francisco foi receber o condenado Lula da Silva, que ganhou de presente por seus crimes um intrigante salvo-conduto para ir passear na terra do Brunello Di Montalcino Soldera Riserva, que ele tanto admira – pode ser encontrada por R$ 13 mil a garrafa.
Impedido de receber perdão onde andou fazendo coisa errada, foi apelar ao Papai do Céu. O Papa, encarregado da remissão de pecadores no plano dos mortais, não teria outra alternativa e talvez ele até acredite que o condenado tenha salvação. Pode ter também recebido a informação de que Lula odeia os evangélicos, não acredita em religião alguma, é uma alma penada que só pode ser salva por um milagre.
É função do Santo Padre avançar na doutrinação de seus dogmas e expansão territorial de seus estabelecimentos religiosos. Depois de enfrentar crises internas, escândalos sexuais, incluindo a herança deixada pelo Banco do Vaticano na última década, o Papa pode ter notado uma rara oportunidade de agradar parte da população brasileira ao receber o ex-presidiário.
Além de notabilizar um inquestionável comportamento humilde e universal, promoveu um milagre nunca registrado: conquistou uma legião de ateus socialistas que detestam ambientes de fé e urinam e defecam na porta de templos e igrejas. Outra curiosidade que vem sendo questionada, de um tempo em que o Papa Francisco ainda não era o CEO da Igreja, é a coincidência temporal (apenas coincidência) durante o tempo em que o PT abriu os cofres públicos para abençoar regimes totalitários em vários países, com bilhões de dólares de dízimo, e o escândalo do Banco do Vaticano no início do século.
No livro Vaticano Spa, Gianluizi Nuzzi revela movimentações de fundações fantasmas, vínculo com mafiosos, operações bilionárias sem registro, lavação de dinheiro ilícito. A cidade do Vaticano não estaria submetida às leis que regulam as operações financeiras em território italiano e europeu. Mera curiosidade, só para registro.
No encontro tão desejado pelo artista beato condenado, Papa Francisco abriu um placar digno de Maradona: agradou alguns militantes sobreviventes da esquerda no Brasil; demonstrou que tem estratégia para enfrentar o avanço dos evangélicos na América do Sul, seu principal território; consolidou a imagem de líder humanista; e provou que argentinos são capazes de perdoar brasileiros.
Ainda que não acredite na reabilitação de seu visitante, o Papa Francisco fez a sua parte. Os efeitos só poderão ser sentidos no futuro, se ele de fato conquistou ou afastou seguidores. Afinal, o voto de fé também é secreto e boa parte dos eleitores brasileiros, ainda que não revele em respeito ao Santo Padre, não gostou nada nada do encontro. Esses fieis acreditam que anjos e demônios estão um pouco confusos nesse momento, sem saber para onde ir.
Mas o Papa tem a Santa Irmã Dulce e deve deixar a cargo dela o maior de todos os milagres. Pobre Irmã Dulce…