Conforme registramos aqui na Tribuna da Internet no início do governo, em 2019, o presidente Jair Bolsonaro nem precisa de oposição. Ele é do tipo autocarburante, que entra em combustão espontaneamente, não é necessário que alguém se disponha a acender o fósforo. Um ano depois, é exatamente isso que está acontecendo. Bolsonaro tem feito tantas bobagens que os militares já se cansaram dele. E a cerimônia do Dia do Soldado foi a gota d’água. Nenhum dos oficiais superiores que ainda apoiavam seu governo poderia prever que Bolsonaro chegasse ao ponto de insanidade que demonstrou nesse domingo.
De camisa vermelha, Bolsonaro bagunçou a cerimônia do Dia do Exército
O Dia do Exército, 19 de abril, é uma das mais importantes datas do calendário militar, só comparável ao 25 de agosto (Dia do Soldado) e ao 7 de setembro (Dia da Independência). Jamais se poderia esperar que a família Bolsonaro (ele e os filhos) tivesse a ousadia de menosprezar e bagunçar essa data festiva.
PRESENÇA OBRIGATÓRIA – No cerimonial do governo brasileiro, o dia 19 de abril está sempre reservado na agenda presidencial como de presença obrigatória. Nenhum presidente da República deixa de comparecer, salvo quando está em compromisso internacional ou ocorre imprevisto de muita gravidade.
Para citar apenas os mais recentes, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer jamais deixaram de comparecer, e a cerimônia inclui passar em revista à tropa, que bate continência ao comandante-em-chefe das Forças Armadas.
No ano passado, Jair Bolsonaro compareceu, acompanhado da mulher Michelle, e até pegou chuva forte no palanque principal e ficou encharcado, junto com as demais autoridades de República e os alunos do Colégio Militar.
FESTIVAL DE SURPRESAS – Neste domingo, no entanto, a comemoração do Dia do Exército foi um teatro de absurdos. Sem motivo relevante, o presidente da República simplesmente não apareceu e foi substituído pelo vice Hamilton Mourão.
A segunda surpresa foi acontecer uma manifestação, com muitas pessoas vestindo verde e amarelo, a maioria de meia idade ou idosos, carregando faixas pedindo intervenção militar e fechamento do Congresso e do Supremo, ou seja, defendendo a volta da ditadura.
Mas o impacto maior foi o inesperado aparecimento do presidente Jair Bolsonaro, no final da cerimônia, acompanhado dos seguranças. E sem estar devidamente trajado. Ao invés do terno escuro tradicional, o chefe do governo apareceu usando calça jeans e uma camisa pólo vermelha, cor que até as mulheres dos militares evitam usar, por motivos óbvios.
AFRONTA PROPOSITAL – Nenhum dos chefes militares tem a menor dúvida. Foi uma afronta proposital do presidente, que intencionalmente fez uma provocação às Forças Armadas, na presença do ministro da Defesa, dos comandantes das três Armas e dos oficiais superiores dos Alto-Comandos de Exército, Marinha e Aeronáutica.
O pior foi depois saberem que a manifestação foi convocada e organizada pelo “gabinete do ódio”, chefiado pelos filhos de Bolsonaro. O procurador-geral da República, Augusto Aras, já pediu ao Supremo que a Polícia Federal investigue a manifestação.
Se ficar provado que o ato público foi preparado pelo “gabinete do ódio”, nos mínimos detalhes, para que o presidente da República tripudiasse sobre os chefes militares, a postura de Bolsonaro será considerada uma traição institucional, que os militares não aceitam.
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P.S. – É consenso em Brasília que ainda não é hora de impeachment, mas o processo começará tão logo seja superada a crise da pandemia. O futuro político de Bolsonado tem o mesmo valor de uma nota de três dólares. E o vice, general Mourão. vai mandar fazer seu terno de posse na Presidência. Será verde oliva, é claro. (C.N.)