Depois do ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta e de Moro, Guedes entrou no processo de "fritura" deflagrado por uma ala do governo por insistir no discurso de manutenção da sua política de ajuste fiscal na fase pós-pandemia. O presidente, como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo, está disposto a fazer um "cavalo de pau" no seu governo.
Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, integrantes da Casa Civil e auxiliares diretos de Bolsonaro têm reclamado da "visão fiscalista" do Ministério da Economia e da falta de um contraponto econômico dentro do governo, como havia antes da criação do superministério sob a alçada de Guedes.
A unificação dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, entre outras áreas da economia do governo, foi uma das condições para que Guedes aceitasse o convite de Bolsonaro para compor o governo. Hoje, porém, o diagnóstico no Planalto é que o desenho concentrou poder muito grande nas mãos de um único ministro, sem que haja contraponto às suas visões. Quando um parlamentar quer emplacar um projeto, é a Economia que detém os números.
No passado, Fazenda e Planejamento já protagonizaram embates históricos por suas visões distintas sobre a direção da política econômica. Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, Guedes não aceitaria uma mudança nessa linha.
A avaliação, porém, é de que, caso o presidente atenda às pressões e faça de fato o movimento de fatiar a Economia, não seria agora porque o impacto seria muito ruim num momento em que a atividade e a confiança dos investidores penam sob os efeitos da pandemia.
As negociações de Bolsonaro com o bloco de partidos do Centrão, no entanto, têm fortalecido essa pressão, com o PTB querendo recriar o Ministério do Trabalho, pasta historicamente comandada pela legenda.
Embate
O embate entre as visões econômicas dentro do governo foi escancarado publicamente com o Plano Pró-Brasil, que em um de seus eixos prevê dinheiro público para bancar obras em infraestrutura. Guedes alertou Bolsonaro que ele pode cometer o erro do governo petista, o que piorou o clima.
A interlocutores, o ministro da Economia chama o programa de "PAC do Marinho", numa crítica ao ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, um dos entusiastas do plano.
O ministro reagiu nos bastidores com artilharia contra Marinho, um ex-subordinado considerado por ele "desleal" ao incentivar Bolsonaro a ir à frente com o plano. A equipe econômica ficou de fora do debate interno, até mesmo por discordar de sua direção.
Guedes considera Marinho desleal, mas não os militares. "Inimigos são pautas-bomba. Desarmei a do Maia-governadores (presidente da Câmara, Rodrigo Maia) acionando o Alcolumbre (Davi Alcolumbre, presidente do Senado)", disse Guedes a um interlocutor, em referência ao projeto de socorro a Estados e municípios.
O sinal de alerta mais contundente da fritura sentido pela equipe de Guedes foi visto em reportagem da TV Record, empresa com fortes vínculos ao bolsonarismo, que acusa o ministro de cinco erros sem explicitar os problemas.
Outro sinal comum em Brasília, quando um presidente quer esvaziar um ministro, é não incluí-lo na agenda. Na sexta, Guedes ficou fora de agenda que tinha os ministros Marinho e de Infraestrutura, dois dos articuladores do Pró-Brasil. Nomes para substituir o ministro já estão na praça, entre eles o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o próprio Marinho.
Apesar do "fogo amigo" dos últimos dias, em reunião hoje com a equipe, Guedes transmitiu tranquilidade e foco nas ações da crise. O tema da reunião foi a ação do governo para destravar crédito, segundo diversos relatos de participantes da reunião, que ocorreu antes da entrevista de Moro.