A Polícia Federal realizou buscas e apreensões nesta quinta-feira (27) no âmbito do inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que apura produção de informações falsas e ameaças à Corte — conhecido como "inquérito das fake news".
Entre os alvos estão o ex-deputado federal Roberto Jefferson; o empresário Luciano Hang, dono da Havan; os blogueiros Allan dos Santos e Winston Lima (veja a lista completa abaixo). Eles são aliados do presidente Jair Bolsonaro.
As medidas foram autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Ao participar de seminário nesta quarta sobre liberdade de imprensa, Moraes disse haver uma tentativa de “milícias digitais” de coagir a imprensa tradicional, o que fere a liberdade de imprensa e o direito da população de obter informação com isenção.
Na operação desta quarta, policiais fizeram buscas em dois endereços de Jefferson: um na cidade de Comendador Levy Gasparian e outro em Petrópolis, ambas no Rio de Janeiro.
Hang teve buscas em dois endereços em Brusque e um em Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
Além desses dois estados, mandados foram cumpridos em São Paulo, no Mato Grosso, no Paraná e no Distrito Federal. Ao todo, a operação teve 29 mandados de busca e apreensão.
Ao longo das investigações, laudos técnicos demonstraram que um grupo produz e dissemina as informações falsas, sempre seguindo o padrão de mesmos tipos de mensagens e mesma periodicidade.
Foram identificados pelo menos quatro financiadores desse grupo: Edgard Corona, Luciano Hang, Reynaldo Bianchi Júnior e Winston Rodrigues (veja abaixo quem é cada um e o que cada um disse). Foi determinada a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos quatro para o período entre julho de 2018 e abril de 2020.
Os alvos dos mandados desta quarta-feira (27) são:
O ministro Moraes determinou ainda que deputados deverão ser ouvidos no inquérito em até 10 dias. Eles não foram alvos de mandados nesta quarta (veja aqui o que eles disseram sobre a determinação). Moraes ordenou que sejam preservadas as postagens dos parlamentares em redes sociais. São eles:
Deputados federais
Deputados estaduais
Allan Santos
À TV Globo, Allan Santos disse: "É incrível, não tem nenhum trabalho sendo feito com membros do PCC, com membros do MST, com jornalistas que criticam ministros do STF, sobretudo nesse inquérito inconstitucional. Inquérito esse que meus advogados até agora não têm acesso aos autos. [...] Hoje sou eu, amanhã são vocês, jornalistas. [...] Vai ser patético para a Suprema Corte inteira. Vão revirar todos os documentos do Imprensa Livre. Vão ver que a gente vive de todos os produtos que a gente vende".
Douglas Garcia (PSL-SP)
Em uma rede social, Garcia disse que operação é tem o "intuito de criminalizar a liberdade de expressão e a atividade parlamentar".
Luciano Hang
Em nota, Luciano Hang disse que tem a consciência tranquila de que jamais atentou contra os ministros do STF ou contra a instituição. "Nada tenho a esconder, uma vez que tudo o que falo está nas minhas redes sociais e é de conhecimento público."
Marcelo Stachin
Ao G1, Marcelo afirmou que vê com surpresa o mandado contra ele e disse que está em viagem, em Nova Mutum, na casa de um amigo. Ele suspeita que a Polícia Federal tenha ido no endereço antigo dele. "“Estou em viagem e se os agentes foram na minha casa eu não sei dizer. Pelo que vi eles foram no endereço antigo e não encontraram. Passei para o meu advogado. Vou seguir a orientação do meus advogados. Realmente é uma surpresa. Vou nos atos de apoio ao presidente, mas nunca houve ameaças, só defendo a legalidade das instituições”, disse.
Reynaldo Bianchi Júnior
Em uma rede social, Bianchi divulgou um vídeo mostrando a presença dos agentes da PF na sua residência. "Querem me calar? Não sou o Lula e não tenho medo de policiais, sou homem honesto e Íntegro", escreveu.
"Sem vitimação, acabei de operar a próstata e ainda estou com sonda urinária, mas caguei pra isso! Se estão usando a PF pra me calar, quer dizer que eles estão com medo! Eu estou com DEUS! Obrigado pela força de TODOS!", adicionou.
Roberto Jefferson
Pelas redes sociais, o ex-deputado federal se manifestou chamando de "atitude soez, covarde, canalha e intimidatória" os mandados de busca e apreensão expedidos por Moraes.
"TRIBUNAL DO REICH. Instituído por Hitler,após o incêndio do Parlamento, aquele tribunal escreveu as páginas mais negras da justiça alemã, perseguindo os adversários do nazismo. Hoje o STF, no Brasil, repete aquela horripilante história. Acordei às 6 horas com a PF em meu lar", escreveu Roberto Jefferson.
Rodrigo Barbosa Ribeiro
Em transmissão ao vivo em uma rede social, Ribeiro disse: "Foi constrangedor receber a PF enquanto ainda estava deitado, minha irmã ficou constrangida. Ninguém espera, ainda mais quando é de alguém que não deve nada. Fico triste ao saber que minhas opiniões foram motivo de intervenção. É triste saber que você não pode ter uma opinião que desagrade o ministro do STF. [...] Essas pessoas que foram vítimas de mandados de busca e apreensão, que eu conheço, a maioria delas estão lutando por uma coisa, pela sua liberdade, pelo seu direito como cidadão".
Sara Winter
Em uma rede social, Sara Winter disse que a polícia levou seu celular e seu notebook. "Meus advogados já chegaram, vamos pra cima! O Brasil não será uma ditadura. Hoje, Alexandre de Moraes comprovou que está a serviço de uma ditadura do judiciário. [...] Estou praticamente incomunicável! Moraes, seu covarde, você não vai me calar", escreveu.
Winston Lima
Em uma rede social, Winston Lima afirmou que recebeu "visita da Polícia Federal, que procedeu uma busca e apreensão de computadores e celulares" em sua casa, mas que não foi informado do motivo.
Bernardo Kuster
Em transmissão ao vivo por rede social, Kuster disse que não sabe do inquérito, que "não tem nenhum fato" e que está tendo sua liberdade cerceada. Ele contou ter tido computador, tablet, celular e um HD externo que pertencia a sua mãe, que já morreu, levados durante a operação.
"O mandado determina que devo prestar depoimento em dez dias, mas não sei nada sobre as investigações. Levaram todos os meus equipamentos e agora estou sem meio de trabalho, passaram do limites", disse. "Se o Bolsonaro estivesse comandando a Polícia Federal, a PF não estaria na casa de apoiadores dele. Falei com o meu advogado e estamos tomando todas as providências, inclusive no âmbito internacional para pelo menos termos acesso ao autos. Como vou prestar depoimento se não sei do que se trata?", questionou.
O G1 busca contato com os demais alvos da operação.