28/05/2020 às 08h23min - Atualizada em 28/05/2020 às 08h23min

PCDF: suspeito marcava retiros em chácaras para estuprar meninos de igreja

Fiéis se mostraram surpresos com as acusações contra o paroquiano. "Lobo em pele de cordeiro", disse uma das frequentadoras

VICTOR FUZEIRA e MATHEUS GARZON
METRÓPOLES
Alvo de investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que apura 12 denúncias de estupro contra fiéis da igreja católica, Elithon Carlito Silva Pereira, 30 anos, é suspeito de marcar retiros religiosos em chácaras e casas para cometer os crimes. O caso foi relevado pelo Metrópoles.
 

A informação foi dada por investigadores da 20ª Delegacia de Polícia (Gama), que apura as acusações. De acordo com o delegado Renato Martins, os abusos ocorriam fora dos ambientes da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Gama. O suspeito morava no templo religioso a convite do padre, que o cedeu um quarto.

“O interesse dele era só nesses meninos. Acontecia um retiro ou reunião na casa de alguém e, depois das leituras, ocorriam os abusos”, explica Martins.

Tom, como era conhecido na comunidade, realizava trabalho de acolhimento de jovens no templo. Segundo os investigadores, o alvo dos abusos seriam, em sua maioria, adolescentes e jovens do sexo masculino com idades entre 14 e 21 anos – muitos eram coroinhas, espécie de ajudante dos padres nas celebrações católicas.

“Lobo em pele de cordeiro”

Nessa quarta-feira (27/05), o Metrópoles ouviu frequentadores e vizinhos da paróquia. Todos se mostraram surpresos com a notícia.

Conforme os relatos, Tom passava uma impressão de normalidade e compromisso com a igreja. “Sempre cantando, sempre rezando e ajudando o padre”, conta uma moradora que preferiu não se identificar.

Segundo ela, Elithon tinha grande confiança dos envolvidos na paróquia. “Quando o padre viajava, era ele quem fazia as leituras, falando de Deus”, relata.

Para a moradora, que tem uma neta que é coroinha de igreja, a notícia foi um choque. “Nem dormi ontem. Ele não levantava suspeita e aparece uma notícia dessas. Parece que era mesmo um lobo em pele de cordeiro”.

A dona de um comércio próximo à paróquia conta que ele costumava ir ao estabelecimento para lanchar. “Sempre acompanhado do pessoal de lá e com os jovens”, pontua.

Conforme ela conta, ninguém nunca chegou a levantar suspeita. “Para mim era uma pessoa normal. Sempre junto da igreja”, afirma.

Repercussão nas redes

Nas redes sociais, fiéis da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Mãe de Deus – comunidade da qual o suspeito fazia parte – repercutiram a gravidade das acusações atribuídas a Tom.

A reportagem tentou contato com Elithon por telefone. Em uma das tentativas ele atendeu, mas disse que não iria se pronunciar.

Em um dos relatos, um membro da paróquia afirma que o investigado sempre esteve “acima de qualquer suspeita”. “Quando ia na missa e via esse rapaz cantando, eu só achava um jovem comum, usando o dom de Deus para tocar corações”, disse.

Outra fiel, mais revoltada, diz que Tom era conhecido por pregações “apelativas”. “Sabia que era manipulador e mentiroso, mas não esperava isso”, opina.

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Os crimes

Até essa quarta-feira (27/05), 12 jovens haviam se apresentado na 20ª DP para denunciar os crimes. Segundo a Polícia Civil do DF (PCDF), os abusos teriam começado em 2017, enquanto Tom trabalhava como líder de liturgia da Paróquia Nossa Senhora da Aparecida, no Gama.

Os depoimentos colhidos até agora indicam que o acusado tinha predileção por abusar de meninos. De acordo com o delegado Renato Martins, à frente das investigações, o caso veio à tona durante uma live da banda de Elithon, realizada no dia 17 de maio. “Durante a apresentação, apareceu um comentário chamando ele de pedófilo e estuprador”, relata.

Após a repercussão, Elithon teria chamado membros do grupo que ele comandava e pedido desculpas por certas condutas. Revoltados, alguns dos participantes entraram em contato com o padre responsável pela paróquia onde o suspeito morava – o religioso encaminhou o caso à polícia.

Livre

Apesar da gravidade dos fatos, Elithon segue em liberdade, visto não ter sido preso em flagrante. Ele se apresentou na 20ª DP, mas preferiu não se manifestar.

“Ainda estamos colhendo depoimentos, enviamos algumas vítimas ao IML [Instituto Médico Legal], a fim de concretizar os elementos que temos”, ressalta o delegado da 20ª DP.

A polícia prefere ainda não divulgar o modo de atuação do suspeito, mas confirma que as investigações estão divididas em duas frentes: estupro ou violação sexual mediante fraude. O trabalho segue em sigilo, pois a maior parte das vítimas era menor de idade quando os crimes supostamente ocorreram.

Após a divulgação dos fatos, a DP recebeu mais uma denúncia de abuso contra Elithon, dessa vez em Santa Maria, divulgada pelo Metrópoles nessa terça-feira (26/05). Os pais de uma das vítimas que procuraram a PCDF disseram que o crime teria ocorrido em 2016.

Fiéis da congregação ouvidos pela reportagem relatam que, após a denúncia dos pais do coroinha, Tom deixou o ministério e passou a morar na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Gama, a convite do padre da igreja.

Metrópoles também revelou que o investigado tentou uma vaga no Conselho Tutelar da cidade no último pleito realizado. Mas, teve, apenas, cinco votos (confira na galeria abaixo).

Repúdio e afastamento

O delegado esclarece que a igreja foi pega de surpresa. “Era uma pessoa de confiança, que morava em um quartinho lá. Ajudava o padre em várias coisas”, diz Renato Martins. O próprio pároco do templo teria levado Elithon às autoridades policiais. Segundo a Arquidiocese de Brasília, o religioso prestou todos os esclarecimentos e tem colaborado com os investigadores.

Em nota, o comando da Igreja Católica na capital repudiou o caso, ressaltou que nem o padre nem sua congregação têm relações com os supostos crimes, e afirmou só ter tido conhecimento das denúncias após elas começarem a ser registradas na Polícia Civil.

Também em nota, o Ministério Vida e Luz, do qual Tom fazia parte, confirmou ter tomado conhecimento das denúncias apresentadas contra o suspeito e pontuou que Elithon está desligado de todas as atividades religiosas.

Ainda no documento, a entidade afirma que aguarda o fim das investigações para se pronunciar sobre as acusações. “O ministério coloca-se à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento”, diz trecho da nota.

Em entrevista ao Metrópoles, o padre Luís Meire, da Paróquia Santa Mãe de Deus, em Santa Maria, negou ter tomado conhecimento de casos no templo religioso, onde é pároco desde 2018. “Ele era um paroquiano comum, que fazia parte dos grupos da paróquia. Todos esses casos ocorreram no Gama. Até agora, não chegou nenhuma mãe ou pai para denunciar casos na nossa paróquia. Pode até ter ocorrido [casos em Santa Maria], mas ainda não tomei conhecimento”, ressaltou.

Segundo o religioso, Elithon morava em Santa Maria, mas deixou a cidade para residir na paróquia do Gama em 2014.

A reportagem tentou contato com Elithon por telefone. Em uma das tentativas ele atendeu, mas disse que não iria se pronunciar em relação às acusações.


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