O marido, um jovem de 24 anos, pagou para que uma “entidade” o ajudasse a passar nas provas para obter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Já companheira dele desejava ter os caminhos abertos e se curar de um problema de saúde.
De acordo com as investigações, o casal conheceu Dona Lúcia – nome adotado por Vera Lúcia – após a sogra do homem falar sobre os serviços da sensitiva. Na casa da vidente, o autônomo contou que queria ajuda espiritual para conseguir passar na prova do Departamento de Trânsito (Detran-DF). Em resposta, a estelionatária disse que seria necessário fazer um “trabalho” que custaria R$ 1 mil, além de outros R$ 300 para comprar uma porção de charutos e três imagens.
A vítima foi obrigada a pedir um empréstimo para pagar pelos serviços de Dona Lúcia. Dias depois, o rapaz foi reprovado na prova e questionou a vidente. Ela respondeu que tinham outros “obstáculos espirituais” e que seria necessário pagar mais R$ 500 com o objetivo de afastar a presença de espíritos malignos que estavam atrapalhando seu sucesso na prova. A vítima desconfiou e não fez o pagamento.
Já a companheira do rapaz perdeu ainda mais dinheiro e acabou parando no hospital. Ela contou à vidente que queria “abrir seus caminhos” profissionais. A golpista disse que seria necessário pagar R$ 1,5 mil por duas coroas de flores que seriam usadas em mais um ritual místico. A orientação foi repassada por uma comparsa da sensitiva, após incorporar uma suposta entidade que faria o trabalho.
A vítima ainda desembolsou mais R$ 1 mil para que a falsária a ajudasse a curá-la de refluxo. Dona Lúcia orientou a cliente a ir até a Feira do Guará e comprar ingredientes para fazer um chá de melissa. Ela deveria tomar a infusão quatro vezes ao dia e prometeu que em cerca de uma semana, a mulher estaria curada.
Após tomar o chá, a cliente começou a sentir fortes dores abdominais e precisou ser levada às pressas para o hospital. Os médicos identificaram uma crise no aparelho digestivo. Depois disso, o casal nunca mais procurou a vidente e decidiu registrar ocorrência policial.
Segundo o delegado adjunto da 4ª DP, João de Ataliba, a estelionatária também responderá criminalmente. “Esse é mais um caso registrado recentemente por novas vítimas. Pedimos que outras pessoas que tenham sido lesadas procurem a delegacia”, disse.
Alvo de cinco inquéritos instaurados pela PCDF envolvendo crimes de extorsão e estelionato, a falsa vidente deixou um rastro de desespero e prejuízo após explorar a fé das vítimas que cruzaram seu caminho. Entre os casos investigados, está o da família de um servidor público aposentado do Itamaraty, que teve quase 200 mil de prejuízo após consultas dele, da mulher e da filha com Dona Lúcia.
O caso ocorreu em 2010 e só foi registrado neste ano, após a filha do servidor saber da prisão da golpista e seus comparsas. Segundo o delegado João de Ataliba, a mulher pode responder também por esse crime, mesmo tendo se passado uma década do falso “serviço espiritual” prestado à família.