Um vídeo mostra policiais militares espancando ao menos um jovem de 27 anos já rendido no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo, na madrugada deste sábado (13). Segundo a PM, oito policiais da Força Tática do 43º Batalhão foram afastados das ruas.
Pelas imagens, é possível ver o jovem cercado de policiais, no chão, ao lada de uma viatura na Rua das Flores. O jovem é espancado por um dos policiais com tapas e com o cassetete. Ele é arrastado por um segundo policial e um terceiro recomeçou com a sessão de espancamento, no meio da rua.
O policial manda o jovem subir a escada, como ele não sai do lugar, é arrastado e apanha mais. Os policiais se revezam nas agressões.
De acordo com uma testemunha, a agressão ocorreu por volta das 3h e o jovem estava com amigos, bebendo e fumando na calçada quando a polícia chegou.
“Como eles viram a aglomeração, primeiro eles soltaram fogos, levantou fumaça e assim chegou, né? Chegou todo mundo de cassetete na mão, batendo em todo mundo, muitos saíram correndo, conseguiram, só esse menino ficou para trás. Ele foi agredido e revidou a injusta agressão. Foi nessa hora que ele chegou às vias de fato com o policial. E aí todos os polícias agrediram ele”, disse.
Em outro vídeo, o jovem aparece sentado na escada. Rendido e cercado por quatro policiais, um deles se aproxima e bate com cassetete. Ele ainda dá uma segunda pancada no rosto da vítima.
Segundo uma testemunha, cinco viaturas participaram dessa ação. De acordo com o boletim de ocorrência, o jovem foi levado a um posto de saúde da região pelos próprios policiais, que registraram a ocorrência como resistência à prisão.
No vídeo, o jovem diz que é trabalhador e estava indo visitar a namorada.
Para Ariel de Castro Alves, advogado e conselheiro do Conselho Estadual de Direitos Humanos (Condepe) "são cenas chocantes de violência policial. Policiais agem na periferia bem diferente de quando atuam em bairros nobres, como Alphaville. As imagens evidenciam crime de tortura já que a vitima estava sendo agredida de forma covarde e aviltante pelos PMs, sofrendo intenso sofrimento físico e psicológico".
A Polícia Militar informou, por meio de nota que, assim que tomou conhecimento das imagens, instaurou um Inquérito Policial Militar por abuso de autoridade contra os policiais, que foram imediatamente afastados do serviço operacional. A Corregedoria da PM acompanha o caso.
Um vídeo mostra policiais militares agredindo um homem negro em uma avenida de Barueri, na Grande São Paulo, na noite da sexta-feira (12). As agressões continuaram mesmo com o homem já rendido no chão. Vizinhos que tentaram proteger a vítima também apanharam dos PMs.
No momento da abordagem, o homem negro estava sentado na calçada, sozinho, com o celular na mão. A viatura da PM estaciona no local e um policial rende a vítima com uma gravata no pescoço. Já imobilizado e algemado, deitado no chão, as agressões continuam.
Pelo menos três vizinhos que saíram de casa e começaram a gritar para a PM parar de bater no homem também foram agredidos com cassetetes pelos outros policiais que estavam na viatura. Um deles grita que a vítima é "um homem doente."
Em nota, a Ouvidoria da Polícia de São Paulo informou que vai pedir a identificação e o afastamento dos policiais que aparecem no vídeo durante a abordagem.
"Agressões não fazem parte do protocolo de abordagem das polícias paulistas. A Ouvidoria vai requisitar à Corregedoria da Polícia Militar a identificação dos policiais envolvidos e seu afastamento ao menos até o término das investigações, permitindo a todos o constitucional direito de defesa", informou a Ouvidoria da Polícia de SP.
O ocorrido foi na Avenida Henrique Gonçalves Baptista, no Jardim Belval, em Barueri.
O governador João Doria lamentou as duas agressões e disse que os policiais foram afastados.
Em nota, o secretário da Segurança Pública, general João Camilo Pires de Campos, afirmou que "os excessos registrados nas ações policiais na Capital e em Barueri são lamentáveis e não condizem com as práticas da Polícia Militar, que diariamente atende a mais de 80 mil chamados para proteger e salvar vidas. Os policias envolvidos nessas ocorrências foram imediatamente afastados de suas funções e respondem a inquéritos militares. A Corregedoria acompanha de perto as investigações e o Ministério Público será notificado. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo não tolera desvios de conduta e apura com rigor todas as denúncias."
O número de pessoas mortas por policiais militares e civis no estado de São Paulo cresceu 31% entre janeiro e abril deste ano na comparação com o mesmo período de 2019.
No ano passado, foram registradas 291 mortes provocadas por agentes de segurança. Este ano, 381. O levantamento foi realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com base em dados da Secretaria Estadual da Segurança Pública e das corregedorias das polícias.
Os números abrangem tanto as mortes cometidas por policiais em serviço quanto aquelas envolvendo policiais de folga. Os dados referentes ao mês de abril deste ano constam de boletins do Centro de Inteligência da Polícia Militar e da Corregedoria-Geral da Polícia Civil publicados neste sábado no “Diário Oficial do Estado”.
Em nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública afirmou que todas as ocorrências são investigadas pela Polícia Civil e pela PM, por meio de IPM (Inquérito Policial Militar), que é acompanhado pela corregedoria, e comunicada ao Ministério Público. "As polícias contam ainda com um rigoroso sistema corregedor, que não compactua com desvio de conduta de seus agentes", diz o texto.
Mortes cometidas pela polícia no estado de SP de janeiro a abril
2019 – 291
2020 – 381
Os números do quadrimestre foram puxados por uma disparada das mortes em abril deste ano, quando 119 foram mortas pelas polícias Militar e Civil no estado. Isso equivale a uma alta de 53% na comparação com as 78 mortes registradas em abril de 2019.
Durante todo o mês de abril, vigorou no estado de São Paulo uma quarentena decretada pelo governo do estado.
O aumento da letalidade policial em abril deste em São Paulo chamou a atenção da diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
"O crescimento expressivo da letalidade em abril deste ano, mesmo em meio à quarentena, é preocupante e de difícil explicação. Os roubos e furtos caíram no período, e mesmo assim a Polícia Militar atingiu o recorde histórico, com o maior número de mortos em intervenções policiais no quadrimestre desde 2001, quando a série passou a ser publicada. Isso indica possíveis desvios e abusos em relação ao uso da força letal, além de sérios problemas de comando", diz.