Reviravolta na Operação Aquarela, aquela que identificou um rombo no Banco de Brasília, 10 anos atrás. Até então, apenas somente Tarcísio Franklin de Moura, ex-presidente do BRB, e Juarez Lopes Cançado, então diretor da Associação Nacional de Bancos (Asbace), tiveram condenações – ou, no mínimo, punições, com bens sequestrados e muito dinheiro bloqueado pela Justiça.
Agora surgem dezenas de horas de gravações – feitas em autorização do Poder Judiciário – trazendo à tona um ninho de serpentes. É o que revela o site Fênix do Planalto, em texto assinado pelo jornalista Mino Pedrosa. É algo assustador, garante o repórter. Durval Barbosa, delator da Caixa de Pandora, é peixe pequeno se comparado a esses dois.
Segundo as investigações, o bando que sangrava os cofres do Banco de Brasília chegou a desviar cerca de 1,5 milhão de reais em apenas um dia. Em 2007, Juarez Cançado e Tarcisio Franklin, segundo o Fênix, se tornaram reféns de quadrinhas que tiveram acesso a documentos sigilosos de investigação na Operação Aquarela. Essas quadrilhas venderam essas informações a preços exorbitantes, praticando a extorsão.
Segundo a denúncia que agora vem à tona, Juarez e Tarcisio abasteceram o esquema de corrupção desviando recursos do BRB para as campanhas, entre outros, de Joaquim Roriz, José Roberto Arruda e vários políticos brasilienses.
No ano em que foi deflagrada a Operação Aquarela, a Polícia Civil confiscou um tocador de áudio digital (modelo Ipod) contendo horas de gravações feitas por Juarez Cançado, onde vários esquemas de corrupção foram registrados. Porém, misteriosamente, o aparelho sumiu e anos depois reapareceu para extorquir milhões dos envolvidos.
A primeira vítima de extorsão foi o empresário e ex-secretário de Obras do governo de José Roberto Arruda, Márcio Machado, que cedeu ao achaque e tirou do bolso 3 milhões de reais, anuncia o Fênix. “A quadrilha, bem sucedida em sua extorsão, deu garantias as vítimas de que o material seria destruído. O azar foi que o guardião da gravação fez uma cópia antes de destruir o material na presença da quadrilha”, enfatiza.
Áudios disponibilizados por Mino Pedrosa revelam que Márcio Machado, coordenador financeiro da campanha de José Roberto Arruda em 2006, recebia do esquema de corrupção comandado por Tarcisio Franklin e Juarez Cançado cerca de 250 mil reais em espécie e 10 cartões de créditos que permitiam um saque de 50 mil por semana.
Ainda de acordo com o Fênix, o esquema de lavagem de dinheiro apurado na Operação Aquarela envolvia contratos sem licitação entre o BRB e a Asbace, repassados a outra empresa, a ATP Tecnologia e Produtos S.A., que resultou em desvios de recursos. Dezenove pessoas foram presas na ocasião. Contudo, depois de tanto tempo, a Justiça não havia conseguido reaver o valor desviado, pois as empresas investigadas não dispunham de ativos suficientes para suprir o prejuízo causado por seus dirigentes.
O site lembra que o impacto mais evidente da Operação Aquarela foi a renúncia de Roriz, ex-governador do Distrito Federal, que abandonou o mandato de senador, que exercia pelo PMDB, para fugir à cassação. Entre várias evidências, conversas telefônicas gravadas pela polícia na investigação mostram Roriz fazendo a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões com Tarcísio. A renúncia abriu espaço para a ascensão do suplente Gim Argello, do PTB, que assumiu o mandato.
Gim foi condenado a 19 anos de prisão e hoje está preso em Curitiba, pego pela Operação Lava Jato. Ele foi acusado de cobrar propina de R$ 5 milhões de empreiteiras interessadas em não aparecer na CPI da Petrobras, em 2009.
Na avaliação do Fênix, os áudios que serão entregues ao Ministério Público e à Justiça podem ligar a Operação Aquarela à Caixa de Pandora. “Por enquanto, personagens se cruzam entre uma operação e outra, numa prática covarde de gravações clandestinas operadas pelos membros das quadrinhas, Durval Barbosa, ‘Caixa de Pandora’ e Juarez Cançado”, da Operação Aquarela, conclui o Fênix.