Os investigadores responsáveis pela Operação Alto Escalão, deflagrada nesta quinta-feira (23/7), reportaram à Justiça um complexo modus operandi adotado pelos investigados – entre eles, o ex-governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz (PT) –, que, de acordo com eles, agiu como integrante das grandes máfias mundiais.
De acordo com os autos, o ex-chefe do Executivo distrital tentou dificultar o rastreamento das informações ao alterar o IMEI – número de identificação global de aparelhos celulares – mais de 200 vezes. As mudanças podem ter sido feitas por meio de softwares ou de transferência do chip para diferentes telefones.
“Tal procedimento é comparável com as ações e os ‘cuidados’ adotados pelas maiores máfias mundiais, como Yakuza, Cosa Nostra ou Triáde”, afirmaram os investigadores.
A investigação deflagrada pelos promotores investiga irregularidades na compra de leitos hospitalares, em 2014. A ação é coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira (23/7).
Segundo apurado pelos promotores, para que o negócio fosse adiante, o dono da empresa Hospimetal pagou R$ 462 mil a agentes que atuariam em nome de ex-ocupantes de cargos do alto escalão do Governo do Distrito Federal. O valor equivale a 10% do montante total do contrato.
A vantagem indevida teria sido paga por meio de um contrato fictício de publicidade e marketing firmado entre a empresa que pretendia vender seus produtos à Secretaria de Saúde do DF e o Ibesp.
Em razão desse pagamento, a empresa foi contratada pela Secretaria de Saúde em 2014. O esquema ilícito havia sido desmantelado pelo Gaeco, que ofereceu denúncia contra servidores públicos e o proprietário da referida empresa.
Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa de Agnelo, no Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, foi localizada uma arma, tipo carabina, sem registro. Por causa do flagrante, o ex-governador foi conduzido à sede da Coordenação Especial de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Cecor). Ele foi liberado após pagar fiança de R$ 3 mil.
Além da arma na casa do ex-governador, também foi encontrada uma mala recheada de dinheiro, com cédulas de real e de dólar. O montante encontrado chega a R$ 250 mil.
A quantia estava com Adriana Aparecida Zanini, vice-presidente do Instituto Brasília Para o Bem-Estar do Servidor Público (Ibesp). A entidade faria parte do esquema de corrupção que é investigado pelo MP.
O ex-secretário de Saúde Rafael Barbosa e o presidente da Ibesp, Luiz Carlos do Carmo, também estão entre os alvos – ele é homônimo de um senador eleito por Goiás, portanto, não se trata da mesma pessoa. As supostas propinas teriam sido pago na gestão do petista.
Na noite desta quinta-feira (23/7), a defesa do ex-governador divulgou nota. De acordo com o texto, Agnelo foi surpreendido com a ação policial pois “jamais, nos últimos 5 anos e quase 7 meses, após ter sido concluído seu mandato no Governo do Distrito Federal, foi intimado para prestar quaisquer esclarecimentos sobre os fatos que a imprensa noticia, sendo o objeto da investigação.”
O texto também destaca que Agnelo “permanece com residência fixa em Brasília, cumprindo com suas obrigações como cidadão, inclusive em isolamento social, por integrar grupo de risco, junto com sua esposa e sogra de 84 anos, e tem a convicção de que, tão logo seja possível conhecer o inteiro teor das investigações, terá condições de se manifestar, convicto e seguro de que não cometeu qualquer ilícito penal, em especial durante todo o período de sua gestão como Governador do Distrito Federal.”
O advogado de Rafael Barbosa, Kleber Lacerda, afirmou que não teve acesso à decisão que autorizou a busca e apreensão, proferida pela juíza Ana Cláudia, tendo recebido apenas cópia do mandado cumprido pelo oficial. “Assim, tão logo seja analisada a decisão, utilizará dos recursos legais para defesa de seu cliente”, diz a nota enviada à reportagem.
A defesa de Adriana Aparecida Zanini disse repudiar qualquer acusação, insinuação ou ilação sobre o envolvimento dela com o Ibesp. O advogado André Gerhein afirma que os esclarecimentos serão prestados em juízo competente. “Lamentamos que o Ministério Público não tenha se preocupado em checar devidamente as informações sobre a idoneidade de nossa cliente. Se o tivesse feito, jamais poderia sequer suspeitar de seu envolvimento com qualquer tipo de ilegalidade”, pontua.
A reportagem ainda tenta contato com a defesa dos outros citados. O espaço segue aberto para manifestações.
Adalgisa Medeiros Teodoro
Adriana Aparecida Zanini
Agnelo Santos Queiroz Filho
Clube Coat Eventos LTDA. ME
Daniel Veras
Fabrício Andrade Carone
Instituto Brasília Para o Bem-Estar do Servidor Público (IBESP)
João Kennedy Braga
Luiz Carlos do Carmo
Mara Lucia Montandon Borges
Rafael de Aguiar Barbosa
Ronaldo Pena Costa Júnior
Wilhas Gomes da Silva
A operação desta quinta-feira (23/07) é desdobramento de outra investigação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), denominada de Operação Checkout. A primeira fase da operação foi deflagrada em junho de 2018, cumpriu 16 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
À época, o Ministério Público investigou servidores da SES-DF e funcionários de empresas privadas envolvidos na possível fraude à licitação e corrupção na compra de macas, leitos de hospitais e outros tipos de mobiliários para unidades da rede pública.
A segunda fase, deflagrada em fevereiro de 2019, cumpriu diligências no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), no Guará e na cidade de São Caetano do Sul (SP), numa empresa de turismo.