30/07/2020 às 06h07min - Atualizada em 30/07/2020 às 06h07min

Após denúncia, PCDF apreende tartarugas, lagarto e cobra em casa no Entorno

Os bichos foram apreendidos pela Polícia Civil do Distrito Federal, mas a investigação ficará por conta da corporação goiana

NATHÁLIA CARDIM
METRÓPOLES

Polícia Civil do Distrito Federal apreendeu, após denúncia anônima, mais seis animais silvestres, desta vez no Entorno do DF. A ação aconteceu no Novo Gama, no mesmo dia da prisão do estudante de medicina veterinária Pedro Krambeck, preso nesta quarta-feira (29/7) suspeito de crimes ambientais. A ação, porém, não tem ligação nenhuma com a Operação Snake, deflagrada após o jovem ser picado pela Naja, em 7 de julho.

Foram apreendidos dois Geckos – espécie lagartixa exótica, ilegal no Brasil –, dois jabutis silvestres, em situação ilegal, um lagarto tipo pogona, também sem documentação, e uma jiboia. A serpente é o único animal que era regularizado junto aos órgãos competentes.

O homem, que mantinha os seis animais em casa, foi autuado e liberado posteriormente. Apesar de a apreensão ter sido efetuada pela PCDF, a investigação será conduzida pela Polícia Civil de Goiás.

Fiscais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) estiveram na 14ª Delegacia de Polícia (Gama) e buscaram os animais que não tinham licença para serem criados em cativeiro.

Caso Naja

O número de apreensões e entregas voluntárias de animais silvestres no DF aumentou consideravelmente após a apreensão da Naja kaothia que picou o estudante de medicina veterinária Pedro Krambeck. No dia seguinte, 16 serpentes foram encontras em uma zona rural de Planaltina. Essas, sim, têm ligação com o caso, que levou a PCDF deflagrar a Operação Snake. Nesta quarta, na quarta fase da ação, Krambeck foi preso, suspeito de tráfico de animais.

Pedro Krambeck chegou à delegacia dentro da viatura da PCDF, que deteve o rapaz em casa, no Guará, onde mora com a mãe, Rose Meire, e padrasto, o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Clovis Eduardo Condi. Eles também são investigados na mesma operação.

Antes de ser picado pela Naja kaothia que criava, em 7 de julho, Pedro Krambeck mantinha uma vida ativa nas redes sociais. Nos perfis, o jovem costumava ostentar animais ilegais com certa naturalidade. Após se tornar alvo de investigação policial, as contas do rapaz foram apagadas, mas a polícia teve acesso às imagens e elas constam no processo.

Além de Pedro, estariam envolvidos outros estudantes de medicina veterinária e servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Operação Snake

Desdobramentos da Operação Snake, deflagrada para apurar tráfico de animais exóticos na capital, apontaram para um suposto plano para obstrução de provas, envolvendo amigos e familiares do estudante de medicina veterinária Pedro Krambeck.

Policiais civis da 14ª DP passaram a trabalhar no caso tão logo Pedro Krambeck foi internado, após ser atacado pela Naja. Inicialmente, a suspeita era de que o incidente teria ocorrido no Gama, mesma região em que fica localizado o hospital Maria Auxiliadora, unidade de saúde para onde o estudante foi levado e chegou a ficar em coma.

Os investigadores se mobilizaram com o objetivo de esclarecer os fatos, bem como de retirar o animal peçonhento de circulação. A PCDF contou com o apoio de uma equipe do Ibama. Quando a polícia descobriu que o episódio ocorreu no Guará, região administrativa na qual a família de Pedro mora, as equipes se dirigiram ao edifício do jovem.

Confira as imagens divulgadas por Pedro antes do acidente com a Naja:

Durante a operação, o padrasto de Pedro, o coronel da Polícia Militar do DF Clovis Eduardo Condi, estava no apartamento, juntamente com a mãe do estudante, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl. O militar teria ficado furioso com a presença da PCDF no local.

Ao ver a movimentação na portaria do condomínio, a mãe de Pedro ligou para um delegado da Polícia Civil e informou que, após o incidente, o filho teria entregado o animal, dentro de uma caixa, para o amigo Gabriel Ribeiro de Moura, que também cursa medicina veterinária.

Na ligação, Rose Meire teria dito, ainda, que a família estava decidindo se iria entregar a cobra para a PMDF. Questionada se o animal estava na residência e se a polícia poderia entrar no imóvel, a mulher afirmou que autorizaria, mas não atendeu quando foi uma equipe chegou ao local.

Obstrução de provas

Após algum tempo, Rose saiu do apartamento e disse que, caso os policiais civis a acompanhassem até o hospital Maria Auxiliadora para ver o estado de saúde de Pedro, posteriormente, ela voltaria até sua casa com os policiais e autorizaria a entrada. Nesse cenário, com fortes indícios de que o animal pudesse estar no imóvel e de que a mulher estivesse tentado afastar os policiais do apartamento, uma equipe da 14ª DP se dirigiu ao Poder Judiciário a fim de conseguir o deferimento de uma medida judicial.

No entanto, antes mesmo que o pedido fosse efetivado pela Justiça, a equipe da PCDF que aguardava à porta do apartamento se deparou com a chegada de uma equipe do Batalhão de Polícia Ambiental da PMDF. Eduardo Condi abriu a porta e liberou a entrada dos policiais civis e militares e dos agentes do Ibama.

A Naja não estava no imóvel. Porém, a equipe do Ibama constatou que havia ali apetrechos para a alimentação de répteis, o que reforçou a suspeita de que a cobra fosse criada naquele local, sendo retirada do recinto após Pedro ter sido picado. Ainda em busca da serpente, os policias foram até a casa de Gabriel, onde foram recebidos pela mãe do rapaz.

Metrópoles apurou que a mulher permitiu, prontamente, a entrada dos agentes na residência. A suspeita era de que Gabriel estivesse com o animal. Enquanto os policiais conversavam com a mãe do estudante, um agente do Ibama entrou em contato com Gabriel, que não estava em casa. O jovem foi advertido dos riscos de estar com uma Naja em casa de que poderia responder criminalmente caso se recusasse a entregar a serpente.

Por telefone, após as explicações dos policiais e dos agentes do Ibama, Gabriel disse que retornaria para casa e que entregaria o animal às autoridades. Após aproximadamente 1 hora de espera, ele fez novo contato e disse que, a pedido do padrasto de Pedro, a serpente não seria entregue aos policiais civis e ao Ibama, mas sim à PMDF. Depois, afirmou já ter apresentado o animal a “um major PM Ambiental”.

Posteriormente, já por intermédio de sua advogada, Gabriel afirmou que os policiais militares não teriam pegado o animal diretamente com ele, mas sim localizado a serpente na rua. Com as informações contraditórias, a Polícia Civil entrou em contato com a PMDF, que confirmou ter localizada a cobra próximo ao Pier 21, no Setor de Clubes Sul.

Dias depois, outras 16 serpentes exóticas foram localizadas em uma região de Planaltina. Os animais estavam acondicionados em caixas plásticas, em uma baia de cavalo, dentro de uma propriedade rural, quando foi deflagrada a Operação Snake. A ação mirou amigos de Pedro, entre eles Gabriel, bem como a mãe e o padrasto do rapaz picado pela Naja.

À época da ação policial, o Metrópoles revelou que o coronel da PMDF foi visto carregando caixas com diversas cobras no residencial em que a família mora, no Guará. Ele disse não saber o que havia dentro dos recipientes.

Gabriel acabou preso, suspeito de integrar uma organização criminosa e interferir na investigação da polícia.


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