31/07/2020 às 06h48min - Atualizada em 31/07/2020 às 06h48min

Naja: coronel padrasto de suspeito de tráfico é sócio de 4 empresas; lei proíbe

A Lei nº 7.289 não permite que militares da ativa tomem parte na administração ou gerência de empresas ou delas sejam sócios

VICTOR FUZEIRA/MIRELLE PINHEIRO
METRÓPOLES
Acusado de dificultar as investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que apuram esquema de tráfico internacional de animais, o tenente-coronel da Polícia Militar Clovis Eduardo Condi (foto em destaque) é sócio de quatro empresas na capital do país. A prática é proibida a PMs que não se aposentaram.
 

De acordo com a Lei nº 7.289, de 18 de dezembro de 1984, ao policial militar da ativa “é vedado comerciar ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio”. A única exceção é para militares acionistas ou quotistas em sociedade anônima, o que não se aplica ao caso do oficial da corporação brasiliense.

Os dados mostram que o militar firmou a primeira parceria comercial em 27 de junho de 1995. O capital social de suas propriedades soma R$ 436 mil.

Ele figura como dono de uma panificadora no Guará cujo capital social é de R$ 6 mil e o faturamento anual chega a R$ 240 mil. Considerada microempresa, a Pão do Cerrado tem nove funcionários. Existe um estabelecimento com o mesmo nome na Asa Norte, mas sem qualquer relação com o oficial da PMDF.

As outras três posses do coronel são lojas da rede internacional de fast-food Subway. Elas estão localizadas na Feira dos Importados, no shopping Florida Mall do Guará e no Terraço Shopping, na Octogonal.

Condi é padrasto de Pedro Henrique dos Santos Krambeck, 22 anos, preso pela PCDF e apontado pelos investigadores como “traficante de animais silvestres e não mero colecionador“. O militar foi alvo de operação em 16 de julho deste ano.

Confira as sociedades do militar:

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BPMA sob investigação

Nessa quarta-feira (29/7), o Metrópoles mostrou que imagens do circuito de segurança do Shopping Píer 21 obtidas pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama) colocam policiais do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) da PMDF na investigação envolvendo suposta ocultação de provas.

Relatórios que fazem parte do inquérito, obtidos com exclusividade pela reportagem, levantam a suspeita de que eles tenham agido para supostamente proteger os alvos da Operação Snake e atrapalhar o trabalho da PCDF.

Segundo os documentos, as gravações mostram o momento em que o estudante de medicina veterinária Gabriel Ribeiro, 24 anos, amigo de Pedro Henrique Krambeck deixa a cobra Naja no estacionamento do estabelecimento comercial. Uma equipe da PM aparece no local em menos de um minuto e recolhe o animal.

A serpente estava dentro de uma caixa de plástico, próximo a um barranco, nas redondezas do Píer 21, no Setor de Clubes Sul. O fato ocorreu em 8 de julho, um dia após Pedro ser picado pela Naja. O rapaz foi levado ao Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, onde chegou a ficar internado em coma.

No dia seguinte à apreensão da cobra, os policiais militares retornaram à 14ª DP com mais 16 serpentes. Todos os animais pertencem a Pedro Henrique e não tinham documentação. Estavam escondidos dentro de uma baia de cavalo em um haras do núcleo rural Taquara, em Planaltina.

“Mais uma vez, a PMDF apresentou os animais arrecadados sem conduzir ninguém a delegacia. Sendo que, coincidentemente, após poucos instantes, compareceu a esta circunscricional ‘espontaneamente’ o filho do dono do haras e também amigo de Pedro Henrique e Gabriel Ribeiro”, diz o inquérito conduzido pela Polícia Civil. O rapaz foi ouvido e confirmou ter permitido que Gabriel escondesse as serpentes de Pedro no local.

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Condi é irmão do subcomandante-geral da corporação, Claudio Fernando Condi. Assim como a mãe do rapaz, Rose Meire, ele também é investigado no âmbito da Operação Snake, cuja quarta fase foi deflagrada nessa quarta-feira (29/7). A Polícia Militar informou, inicialmente, que as “investigações da PCDF não estão no rol das atribuições institucionais da PMDF”. Depois, disse que a corregedoria da corporação abriu inquérito para apurar a conduta dos policiais ambientais.

A reportagem não localizou o advogado do oficial para comentar o caso.

Prisão

Pedro Henrique Krambeck foi preso em casa, na madrugada de quarta-feira (29/7). A suspeita é que a serpente que o picou tenha sido trazido para o Distrito Federal a partir de uma licença irregular, emitida por uma servidora do próprio Ibama, que já foi afastada do cargo.


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