O farmacêutico Thiago César Moreira, responsável pelo golpe que prometia descobrir a possibilidade de uma pessoa desenvolver câncer no futuro, foi preso nessa quarta-feira (29/7) pela Polícia Militar do Mato Grosso (PMMT). A história foi contada com exclusividade pelo Metrópoles, em setembro de 2019.
Segundo informações da corporação mato-grossense, os militares foram alertados por uma mulher que se disse vítima do golpe. Ela e familiares participaram do procedimento, com coleta de sangue, que até foi pago.
Desconfiada do resultado, a mulher teria pesquisado sobre Thiago e descobriu outras passagens criminais dele em outros locais, inclusive no DF. Em um dos encontros com o golpista ela acionou a PM.
Durante a abordagem, o estelionatário confessou não ser médico e sim farmacêutico. Além disso, afirmou que todos os exames realizados eram falsos. No carro de Thiago, os militares ainda encontraram luvas, seringas, tesouras e algodão que ele usava para aplicar o golpe.
Na delegacia em Cuiabá, foram descobertos outros 10 registros pelo mesmo motivo. Referente à carteira de médico, o homem disse que era falsa e teria pagado R$ 400.
Ele foi autuado por estelionato, exercício ilegal da profissão e falsidade ideológica.
Thiago Moreira foi personagem de matéria realizada pelo Metrópoles em setembro de 2019. Na época, duas moradoras do DF que caíram no golpe dele contaram como funcionava o esquema.
“Ele disse que faz pós-doutorado em Baltimore (EUA) e que graças a patrocínios e bolsa, todo o teste de probabilidade de câncer é realizado de graça. O único custo seria uma taxa que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] cobra de 252 dólares por cada amostra. Seria um valor relacionado a envio de material genético para o exterior”, explicou uma das vítimas na época.
Apresentando documentos falsos tanto de instituições brasileiras como do exterior, ele convencia as pessoas de que tinha um estudo sério que possibilitava descobrir pelo fio de cabelo ou gota de sangue se o paciente teria algum tipo de câncer no futuro.
O Metrópoles procurou as instituições no Brasil e nos Estados Unidos citadas por Thiago e todas confirmaram que a história é uma farsa. A Johns Hopkins University School of Medicine, por meio de sua assessoria de imprensa, informou “não ter nenhum registro de Thiago César Moreira” na universidade.
A Mayo Clinic Laboratories, que aparece como fornecedora dos resultados do teste de futuro câncer, afirmou ter analisado os três resultados de análise capilar que o Metrópoles teve acesso e confirmou “que os arquivos não são originados” no laboratório.
Com relação aos pagamentos, a Anvisa analisou os recibos obtidos pela reportagem e disse “os documentos apresentados não correspondem a nenhum recolhimento realizado em favor desta Agência”.
Foi ressaltado ainda que eventuais valores cobrados sempre são gerados em moeda nacional, nos termos do artigo 98, da Lei nº 10.707/2003, que dispõe que “a arrecadação de todas as receitas realizadas pelos órgãos, fundos, autarquias, fundações e demais entidades integrantes dos orçamentos fiscal e da seguridade social, far-se-á por intermédio dos mecanismos da conta única do Tesouro Nacional”.
Também acionada, a Capes informou que os documentos de envio de material genético são falsos e que fará apuração para identificar o autor do material inverídico. “Eventuais medidas administrativas cabíveis, se houver, serão tomadas após a conclusão da referida investigação”, completou.
Procurado, o Conselho Regional de Farmácia do Mato Grosso, onde ele se formou, disse que Thiago é bacharel em farmácia, mas não pode atuar como farmacêutico por não ter o registro da categoria.
A SBPC/ML informou que “não há registro de nenhum associado nem de profissional com título de especialista (TEPAC) da SBPC/ML” com o nome de Thiago Moreira.