O motoboy Matheus Pires, que foi vítima de um ataque racista no último dia 31 de julho em Valinhos, no estado de São Paulo, conta que, além das ofensas raciais gravadas no vídeo que viralizou, ele foi vítima de outra modalidade de ataque. Em plena pandemia de coronavírus, Mateus Abreu Almeida Prado Couto disparou uma cusparada na sua cara. A saliva é das principais transmissoras do vírus.
“Quando começaram as atitudes [gravadas no vídeo], os vizinhos vieram para fora. Ele ficou puto. Tanto que ele cuspiu em mim, imitou macaco, falou que eu era macaco”, contou. O ataque ocorreu há uma semana, no dia 31 de julho. Até o momento, Matheus disse não apresentar sintomas da doença.
Ao escutar o escândalo e os gritos de Prado Couto, os vizinhos apareceram do lado de fora das suas casas, em um condomínio de luxo, e um deles começou a gravar a situação. Ao ver que o agressor estava ficando mais violento, um vizinho cujo nome não foi revelado, mas que aparece no vídeo de bermudas, tomou o lado do motoboy e teria deixado claro que, caso o homem partisse para a agressão física, ele iria interferir.
“Quem gravou foi o pessoal que mora lá, um vizinho. O que estava do lado [de bermudas] estava junto do que estava gravando para o caso de ele tentar fazer alguma coisa, ele me defender. Porque você viu lá que o bicho era grande”, lembrou o motoboy.
Matheus, que tem apenas 19 anos, conta que está trabalhando como motoboy por aplicativo há apenas um mês. Mas essa foi a segunda entrega que fez na casa de Prado Couto. A outra experiência tampouco foi agradável.
“Eu já tinha pegado outra corrida na casa dele, e eu não achava o endereço e me chamou de burro, porque eu não tinha achado o endereço”, narrou.
A fama do homem que atacou Matheus, porém, é longa. A confusão, inclusive, começou quando o motoboy relatou a ele que havia críticas ao fato de ele tratar mal os outros motoristas de aplicativo.
“Eu trampo pelo aplicativo. O iFood, mais precisamente. No que eu cheguei, fiz um comentário que ele não gostou. Falei que os motoboys estavam falando mal dele. Falei num tom de brincadeira, mas ele não gostou”, contou. Prado Couto, segundo o iFood, foi banido da plataforma.
Sobre os comentários dos outros motoristas, ele disse que a fama do homem era de ser “folgado”. “Então, [os motoboys] falavam que ele era folgado, tratava eles com desrespeito. Então, como é uma classe bem unida, a gente conversa entre si, tem grupo de WhatsApp e gente sabe quem são os clientes mais chatos”, contou.
A fama dos problemas de Prado Couto vão além dos grupos de entregadores. Tanto é que, a advogada que vai representar Matheus na Justiça é moradora do mesmo condomínio que o agressor.
“Tem bastante advogado querendo entrar [no processo]. Consegui um advogado que mora no condomínio que será testemunha, porque ela viu”, destacou.
Matheus conta que não publicou o vídeo nas redes. Ao receber o material dos moradores do condomínio, o jovem repassou à mãe. Revoltada, ela decidiu publicar o desabafo e a filmagem.
“O pessoal do próprio condomínio gravou e me mandou. Eu não tinha mandado esse vídeo pra ninguém, para falar a verdade. Mandei para a minha mãe e ela se revoltou. E ela que postou. Aí deu essa repercussão toda. Nem tô sabendo lidar com isso”, confessou.
Ao mesmo tempo, ele avalia que a publicação foi importante. “Graças a Deus que teve essa repercussão e que tinha gente gravando. Muitas vezes acontece e não é gravado, não tem como provar. Bom ter como provar”, concluiu.