18/09/2020 às 12h35min - Atualizada em 18/09/2020 às 12h35min

A incrível história da mansão sem dono no Lago Sul onde mora um casal do barulho

Imóvel em área nobre da capital virou o centro de uma polêmica. Polícia investigará se moradores ocupam o endereço legitimamente

GABRIELLA FURQUIM CARLOS CARONE MATHEUS GARZON IGO ESTRELA.
METRÓPOLES

Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) vai apurar o caso de suposta invasão de propriedade em uma das áreas mais valorizadas do DF: uma mansão na QL 18 do Lago Sul.

Atualmente, quem mora na residência é o casal Cristiane Machado e Rodrigo Damião. Ela se apresenta como advogada nas redes sociais. E ele disse à reportagem do Metrópoles que é empresário do ramo da construção.

Os dois ficaram muito falados na rua onde vivem por conta das festas de arromba que costumam promover. A vizinhança toda toma conhecimento quando ocorrem as comemorações, pois o som é alto e a movimentação, intensa.

O que não se sabia até agora é que o casal será investigado por uma suposta invasão de propriedade. A casa em que moram na QL 18 faz parte da herança deixada por Orlando Rodrigues da Cunha Filho, ex-presidente da Hípica de Brasília, falecido em 25 de março de 2014.

A casa da QL 18 pertencia a uma das empresas vinculadas a Orlando. A mansão foi penhorada e leiloada pela Justiça para o pagamento de credores.

Arautos do Evangelho

De acordo com o processo que tramita na 9ª Vara Cível de Brasília, a empresa Auba Automóveis Batatais arrematou o bem. Mas não conseguiu executar o título. Na ocasião, a residência estava ocupada pela Associação Arautos do Evangelho do Brasil, onde moravam integrantes da comunidade de religiosos católicos considerados ultraconservadores.

Antes de falecer, Orlando alugou o imóvel para os Arautos. Quando a Auba Automóveis tentou se apropriar do bem arrematado em leilão foi surpreendida por um embargo de arrematação apresentado pelos Arautos.

Segundo a associação de religiosos, a casa da QL 18 não estaria no rol de bens alcançados pela penhora judicial para pagar os credores das empresas de Orlando.

A estratégia dos Arautos foi bem-sucedida. Mas não durou. Em poucos meses, a Justiça identificou que a associação religiosa não cumpria a determinação de depositar os valores dos aluguéis em juízo. Ou seja, estavam inadimplentes. Este processo é do final de 2015.

Vizinhos contaram à reportagem do Metrópoles que, em 2016, os religiosos deixaram a mansão. E a casa passou um longo período desocupada. De quando em quando, aparecia um jardineiro para cortar o mato.

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Revés na penhora

Enquanto isso, o processo seguiu na Justiça. E, no dia 31 de janeiro de 2019, houve uma reviravolta. Decisão assinada pelo juiz substituto Gustavo Fernandes Sales desconstituiu a penhora da casa. E apontou que não havia outros bens passíveis de serem usados para quitação de dívidas.

O mais inusitado: em 20 de junho do ano passado, o processo foi suspenso após a Justiça constatar a ausência de bens em nome de Orlando ou de seus herdeiros. A propriedade da mansão entrou num limbo em que nem a Justiça, até agora, apontou quem é o dono da residência.

Dívida com a Caesb

A confusão envolvendo o imóvel também aparece em processo movido pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) por falta de pagamento de contas de água.

A empresa pública tentou cobrar os atrasos na Justiça dos herdeiros de Orlando e dos antigos inquilinos (os Arautos).

Um dos herdeiros de Orlando é Alexandre Lima Rodrigues da Cunha. Na audiência de conciliação com a Caesb, Alexandre alegou que renunciou formalmente a parte dele na herança. De fato, ele havia renunciado. Na ocasião, estava representado legalmente por Pedro Júnior Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, que ficou conhecido por ter sido vítima de sequestro quando nasceu. Hoje, atua em escritório importante de advocacia.

Com a desistência de Alexandre, o outro herdeiro natural é Ricardo Lima Rodrigues da Cunha. Segundo o relato de vizinhos, ele teria se surpreendido, recentemente, ao visitar o imóvel e se deparar com a mansão ocupada pelo casal Cristiane e Rodrigo.

Moradores notáveis

Depois de um longo tempo sem nenhuma movimentação na casa da QL 18, em fevereiro deste ano, novos ocupantes chegaram à mansão. “De um dia para o outro, parou o caminhão de mudança e começou a descarregar as coisas. Uma casa que está sem receber uma manutenção há tanto tempo tinha condição de alguém se mudar de uma hora para outra?”, questionou um dos moradores do conjunto que conversou com a reportagem, mas preferiu não revelar publicamente sua identidade.

A excentricidade dos novos moradores também chamou atenção da comunidade. Com carros de luxo na garagem, e até mesmo um ganso sendo criado no jardim, a rotina de festas no lugar passou a ser intensa e notada por todos ao redor.

“Tem muita festa lá. A música é realmente muito alta e toca um funk bem pesado”, comentou outro residente da rua. Segundo o vizinho, a PMDF já foi acionada várias vezes, mas a ação dos militares foi insuficiente para evitar a barulheira. “Após meia hora, volta toda a confusão”.

Quem mora por lá diz temer a abordagem aos recém-chegados. “Eles botam o som automotivo tão alto que nossas janelas até vibram. Minha filha, quando tem festa por lá, vai dormir fora”, reclamou um outro vizinho.

A reportagem do Metrópoles fez contato com Cristiane e Rodrigo. Ambos negaram categoricamente a suposta situação irregular. Disseram que possuem um contrato de aluguel, mas não apresentaram documentação.

“Tudo é calúnia e mentira. Não invadi nada. Inclusive, sou empresário, tenho contrato de aluguel da casa no nome de um dos herdeiros, o verdadeiro dono”, disse Rodrigo Damião.

A companheira de Rodrigo também falou com a reportagem e reforçou que o casal possui contrato válido de aluguel. “Estamos registrando toda esta confusão na polícia, isso é uma cachorrada. Não invadimos nada”, afirmou Cristiane.

Treta com Camaro

Na noite dessa quinta-feira (17/9), havia três carros estacionados na garagem da mansão da QL 18: um Prisma, um Fusca e um Camaro.

O esportivo de luxo é avaliado em mais de R$ 100 mil e está em nome de um morador do P. Sul, na Ceilândia, com várias passagens na polícia por grilagem de terras.


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