01/11/2020 às 07h15min - Atualizada em 01/11/2020 às 07h15min

Tarado do Parque em depoimento à PCDF: “Estupros são teoria da conspiração”

João Batista Bispo chegou a afirmar que os remédios usados para dopar as vítimas haviam sido plantados em sua casa por garotos de programa

Encarcerado há 20 dias em uma cela na ala de criminosos sexuais do Complexo Penitenciário da Papuda, o estuprador em série João Batista Alves Bispo, 41 anos, conhecido como Tarado do Parque, prestou novo depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). Em prisão preventiva, o suspeito afirmou aos investigadores da 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul) que os 13 estupros nos quais ele é apontado como autor não passam de “teoria da conspiração”.

Ao levar o suspeito da Papuda para a delegacia, a fim de ouvi-lo novamente, os policiais esperavam que João Batista, enfim, confessasse os crimes e revelasse detalhes sobre a dinâmica dos ataques e a identidade de possíveis outras vítimas. No entanto, durante toda a oitiva, o cozinheiro rechaçou com uma série de álibis cada prova colhida pelos investigadores no andamento das apurações.

Em uma das afirmações, o maníaco chegou a ressaltar que o medicamento usado para dopar as vítimas, aplicando o golpe conhecido como “Boa noite, Cinderela”, havia sido plantado em sua casa por garotos de programa que frequentavam a residência.

“Nunca comprei esses medicamentos e jamais tive receita médica para conseguir ter acesso nas farmácias. Esses remédios foram deixados na minha casa por alguns garotos de programa que passavam as noites lá”, disse.

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Morador de rua

Na versão do acusado, boa parte das provas apreendidas pela PCDF no interior da residência alugada por João Batista, em Planaltina, também teriam sido deixadas lá pelo verdadeiro autor dos crimes. Segundo o cozinheiro, alguns objetos, como o par de tênis que pertencia ao homem encontrado morto em 20 de janeiro, no Parque da Cidade, foram deixados no local por um homem chamado Adriano.

“Esse rapaz estava morando na rua há alguns dias, perto de onde eu morava. Acabei levando ele para dentro de casa e ficamos juntos por cinco dias. Ele chegou na minha casa calçado com esse tênis”, afirmou o investigado ao delegado adjunto Maurício Iacozzilli.

Questionado sobre o fato de os vizinhos ouvidos pela polícia nunca terem visto pessoas entrando e saindo da casa, o cozinheiro justificou que os encontros amorosos sempre ocorriam durante as madrugadas, já que o senhorio do imóvel não permitia visitas.

“Muita gente que ia até lá deixava objetos, como peças de roupas e esses remédios. Não tenho ligação com esses estupros. Eu me envolvia com homens que frequentam os estacionamentos do Parque da Cidade, muitos deles casados, mas nunca estuprei ninguém”, garantiu, em depoimento.

De acordo com Iacozzilli, não existe coesão nem materialidade nas afirmações do Tarado do Parque. “Além das provas apreendidas, todos foram categóricos em dizer que João Batista era extremamente solitário e não mantinha relacionamento amoroso com parceiros fixos. As relações eram furtivas e ocorriam planejadas por ele já dopando e roubando as vítimas em seguida”, disse o delegado.

João Batista é apontado pela PCDF como um dos estupradores em série mais longevos do DF, tendo atuado, pelo menos, entre 2008 e 2020, até ser preso.

Confira detalhes dos casos em investigação:

Origem

O Tarado do Parque nasceu no seio de uma família religiosa e humilde, em 24 de junho de 1979, em uma área rural no município de Formosa (GO). Ele é o caçula de três irmãos – os outros são um homem de 44 anos e uma mulher de 46. O sustento familiar era tirado da terra, com o plantio de milho, feijão e mandioca. Numa das lavouras, em meio a um milharal, João Batista diz ter sido violentado por um morador do povoado enquanto trabalhava.

Com pouca instrução, o cozinheiro se especializou em trabalhos domésticos e, por onde passou, era visto pelos companheiros como um funcionário tranquilo e confiável, mas extremamente silencioso.

Antes de ser detido, o maníaco sexual trabalhava em um restaurante na Asa Sul temperando frangos servidos na chapa. “Ninguém imaginava que por trás de uma pessoa aparentemente inofensiva e de fala mansa havia um maníaco sexual”, contou um dos empregados do estabelecimento.

Os casos

As investigações apontam que João Batista dopava homens e, após o golpe conhecido como “Boa noite, Cinderela”, abusava sexualmente deles. Segundo o delegado Marcelo Portela, o acusado agia de modo semelhante em todas as ocasiões. “Ele ia para locais onde havia grande aglomeração de pessoas e começava a conversar com as vítimas. Então, passava a ingerir bebidas alcoólicas na companhia dessas pessoas e conquistava a confiança delas”, detalhou.

Em seguida, ele dopava os homens, colocando a medicação em suas bebidas. “Eram doses cavalares, tão altas que uma das vítimas veio a óbito. E havia sempre uma conotação sexual envolvida. Ele convidava os homens para um pretenso programa, aplicava a medicação e praticava os delitos”, reforçou Portela.

As abordagens, geralmente, ocorriam à noite. De acordo com o delegado, as investigações começaram após o crime que levou à morte uma das vítimas, no início de 2020. O homem, encontrado sem vida no dia 20 de janeiro, no Parque da Cidade, era morador da Asa Norte e tinha 30 anos.


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