A Corregedoria da Guarda Civil Municipal de São Bernardo (GCM), na Grande São Paulo, investiga há dois meses um oficial por abuso de poder e defesa de símbolos de grupos de supremacia branca. O subinspetor Adenilson Vaz da Costa foi afastado em novembro de 2020, após um vídeo em que ele aparece esmurrando o portão de um bar e ofendendo pessoas viralizar nas redes sociais.
Costa, que tem cargo de alto escalão da GCM, foi afastado em 24 de novembro, depois que foi filmado em uma abordagem violenta. Na ocasião, o prefeito Orlando Morando (PSDB) divulgou um vídeo em que repercute o caso e fala da abertura de um procedimento, só não mencionou o uso de símbolos supremacistas.
Afastado há dois meses, o oficial tem cumprido funções administrativas. Em dezembro, ele recebeu R$ 8.579,86 de salário, além de R$ 5.308,83 de 13º.
No Facebook, o subinspetor se identificava como Adenilson Vaz Asatru. O último nome em questão se refere ao “Ásatrú”, movimento religioso neopagão dos anos 1970, que busca “preservar as raízes” de povos que habitavam o norte da Europa. Ele desativou a página, mas a reportagem teve acesso a textos e imagens compartilhadas pelo GCM.
Na foto de perfil, por exemplo, o oficial usa uma corrente com o pingente de Mjölnir, que simboliza o martelo de Thor e é usado por pagãos nórdicos. Além disso, utilizou filtros com a imagem dos triângulos Valknut, que eram associados a esse mesmo público. No entanto, essas imagens foram apropriadas por grupos neonazistas e nacionalistas brancos como representação de herança a partir da segunda metade do século 20.
Costa também homenageou a memória de Alexander Rud Mills, autor australiano simpatizante do nazismo e fascismo. Em 1936, Mills fundou a Igreja Anglicana de Odin. Ele era avesso ao cristianismo e tinha posicionamento antissemita, o que é refletido nos mandamentos do seu culto.
O Metrópoles entrou em contato com a prefeitura de São Bernardo para solicitar mais detalhes da apuração. Em nota, o município diz que “oitivas seguem sendo realizadas com testemunhas do caso”. Contudo, não disse se os depoimentos estão relacionados ao abuso de poder ou às publicações na internet (confira a íntegra abaixo). A reportagem também pediu uma entrevista com a Corregedoria da GCM, que foi negada.
De acordo com o sociólogo Luis Flavio Sapiro, que integra o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a investigação já poderia ter sido resolvida. Ele também questiona por que a Polícia Civil não está envolvida na averiguação dos conteúdos compartilhados na internet.
“É um caso relativamente simples. A corregedoria teria que ouvir o depoimento dele [o GCM Adenilson], eventuais vítimas e coletar dados de materiais publicados. Em um mês a corregedoria da GCM apresentaria condições de tomar uma decisão. Não se justifica em hipótese alguma um prazo tão longo para uma apuração tão simples”, diz.
Entretanto, ele esclarece que o tempo de investigação pode ser maior se a possibilidade de demissão for analisada. “O que se tem não é só uma questão de infração administrativa. Há indícios de que ele cometeu um crime grave segundo o Código Penal. Isso gera suspeitas de corporativismo e proteção indevida ao agente municipal.”
O artigo 20 da lei federal 7.716/89 informa que se configura crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. A pena é prisão de um a três anos e multa.
Leia a nota da prefeitura de São Bernardo do Campo:
“A Prefeitura de São Bernardo informa que o caso segue em apuração pela Corregedoria da Guarda Civil Municipal (GCM). No momento, oitivas seguem sendo realizadas com testemunhas do caso. A apuração segue dentro do prazo previsto no estatuto da GCM. Enquanto isso, o guarda segue afastado das funções de rua, desenvolvendo apenas serviços administrativos. Caso o desvio de conduta seja confirmado, todas as medidas administrativas cabíveis serão adotadas, podendo chegar à demissão do funcionário. A Prefeitura reforça que não compactua com a atitude do GCM.”