Com cerca de 50 bebês internados, o Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF), tem driblado as dificuldades da pandemia para manter o estoque do banco de leite abastecido. Além de receber doações de mães com filhos internados no próprio hospital, a unidade busca a ajuda de doadoras externas para conseguir atender à demanda.
Mãe de primeira viagem da Valentina, Patrícia dos Santos, 28 anos, é um exemplo de alguém que sabe ser generoso com o pouco que tem. Moradora de Valparaíso (GO), a balconista é uma das mulheres que doam leite materno para o Banco de Leite do HRSM e ajudam, assim, a alimentar dezenas de recém-nascidos que, pelos mais diferentes motivos, não podem receber o alimento vital diretamente dos seios das mães.
“Nossa filha nasceu neste hospital com apenas 29 semanas, e eu ainda não produzia leite para alimentá-la. Os primeiros dias dela dependeram do leite que estava estocado aqui”, conta Patrícia, acompanhada do marido, Adailton de Souza, 43 anos.
Com 33 semanas de vida, Valentina segue internada, mas apresenta evoluções. “Hoje já consigo tirar o leite para ela, mas também faço questão de doar o leite excedente”, diz a mãe. “E, mesmo quando recebermos alta, quero continuar doando leite, porque vi o quanto isso pode ajudar a salvar vidas.”
Controle de qualidade
A generosidade de mulheres como Patrícia é fundamental para manter o estoque de leite abastecido. Todo o material coletado passa por um rigoroso controle de qualidade até chegar aos bebês internados na maternidade ou nas unidades especiais neonatais, as chamadas UTIN ou UCIN. “A maioria dos bebês é de alto risco, prematura e de baixo peso, daí a necessidade de todos esses cuidados”, explica a enfermeira Terjane Machado, chefe do serviço do Banco de Leite do HRSM.
Segundo Terjane, existem hoje cerca de 20 bebês internados na unidade de terapia intensiva (UTIN), 15 na unidade de cuidados intermediários (UCIN), 8 na maternidade e 6 no centro obstétrico. Todos precisam do leite que provém das doações. “Eles são muito pequenos e não conseguem ainda sugar o seio materno. Além disso, muitas dessas mães não conseguem produzir leite suficiente em função de fatores como estresse e ansiedade”, explica a enfermeira.
Como doar leite materno
Interessadas em doar leite materno para a rede pública de saúde devem se cadastrar no site Amamenta Brasília ou ligar para o 160, opção 4. “É possível fazer a coleta em casa e armazenar em recipientes de vidro, com tampas de plástico de enroscar, e devidamente higienizados. Todas as orientações são fornecidas pela equipe do Banco de Leite assim que a mulher entra em contato por telefone”, informa Terjane.
Depois de cadastrada, ela recebe em casa o kit de doadora — com máscara, gorro, panfleto e frasco com etiquetas. É aí que entra o trabalho de parceiros fundamentais do Banco de Leite, os bombeiros militares. São eles os responsáveis por buscar e transportar o leite da casa da doadora para os hospitais. A cada semana, eles fazem uma visita para pegar o leite das doadoras. São cerca de 200 visitas por mês.
Estoque do Banco de Leite do HRSM
Apesar de todo esse esforço, o Banco de Leite do HRSM está com o estoque em baixa por conta da pandemia. Segundo Terjane Machado, nesse período de covid-19, os estoques tiveram uma baixa significativa. A coleta externa caiu de 91,45 litros em julho para 67,84 litros em dezembro de 2020.
Foi uma queda brusca e contínua. Por isso, a unidade de saúde criou a estratégia do “livro de alta para as mães puérperas”, aquelas que tiveram bebês saudáveis e receberam a alta hospitalar. “No segundo dia em que elas já estão em suas casas, nós ligamos e perguntamos se elas têm leite excedente para doar”, explica a chefe do serviço do Banco de Leite do HRSM.
Para Terjane Machado, toda essa mobilização vale a pena para salvar vidas. “Doar leite é estender o amor materno a outros bebês que também precisam desse alimento.”
*Com informações do Iges-DF